PM não entrou no baile e evitou algo pior em Paraisópolis, diz advogado
Os seis primeiros policiais militares que teriam perseguido dois criminosos em uma moto dentro da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, na madrugada de 1º de dezembro, não chegaram a entrar no meio do fluxo do baile funk que ocorria na ocasião, segundo o advogado Fernando Fabiani Capano, que os tutela juridicamente.
De acordo com os depoimentos dos PMs, ouvidos na Corregedoria da PM (Polícia Militar) e no 89º DP (Distrito Policial), no Portal do Morumbi, os militares perseguiram uma moto nas intermediações do baile da DZ7, um dos maiores de São Paulo, depois de um homem ter atirado contra eles após furar uma blitz.
Após a ação dos policiais durante essa perseguição, nove jovens, entre 14 e 23 anos, foram mortos. Os laudos atestam que eles tinham marcas, como escoriações. Mas isso não indica que as vítimas foram pisoteadas, conforme informação inicial prestada pelos PMs envolvidos. Segundo a Polícia Civil, as causas das mortes ainda são suspeitas.
Os seis PMs são: João Paulo Vecchi Alves Batista, Rodrigo Cardoso da Silva, Antonio Marcos Cruz da Silva, Vinicius José Nahool Lima, Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira e Renan Cesar Angelo. Eles estão alocados no serviço administrativo, uma prática comum da corporação paulista quando há suspeitas contra seus servidores.
Enquanto os policiais e o governo de São Paulo argumentam que os jovens morreram porque os criminosos causaram tumulto ao entrar na favela, familiares e testemunhas responsabilizam a ação dos PMs. A Corregedoria quer esclarecer, por exemplo, por que os policiais envolvidos fecharam todas as rotas de fuga, liberando apenas pequenos becos e vielas para que as vítimas deixassem o local.
Para o advogado dos seis PMs que iniciaram a perseguição, no entanto, a ação dos policiais evitou que algo pior ocorresse. "Os policiais não perseguiram os indivíduos dentro do baile. Perseguiram os indivíduos que estavam atirando contra eles fora de onde estava ocorrendo o baile. Quando se depararam com aquela multidão, se resguardaram e pediram apoio. Não houve efetivamente um perseguição dentro da multidão", disse.
"A atitude da polícia como um todo, embora eu não possa falar pela polícia e não seja um policial, me parece que evitou uma tragédia ainda maior. Os policiais, tão logo perceberam que havia pessoas caídas no chão, cujo estopim foi causado pelos indivíduos da motocicleta, pediram apoio do socorro, do Samu", acrescentou o advogado.
Até o momento, há três versões sobre o ocorrido em Paraisópolis. Segundo a primeira versão oficial, apresentada pelos PMs envolvidos na ocorrência, os nove jovens foram mortos pisoteados. A segunda, da Polícia Civil, aponta que as mortes ainda são suspeitas, porque não há elementos suficientes para explicar as causas das mortes. Depois, o MP (Ministério Público) citou os crimes como homicídios, mas tirou a responsabilidade dos PMs e afirmou que a Promotoria fará investigação criteriosa.
Segundo a versão dos policiais, eles foram alvo de tiros de um criminoso que estava na garupa de uma moto e que, na fuga, entrou no meio do baile funk. Dizem, também, que, durante a perseguição, houve correria provocada pelos criminosos.
Os PMs afirmam que, mesmo alvos de tiros, garrafadas e pedradas, foram eles quem ficaram no local e socorreram as vítimas. Frequentadores do baile negaram que tenha ocorrido tiroteio e afirmam que os PMs entraram na favela com o objetivo de fazer a dispersão por causa do barulho, e não porque havia criminosos fugindo em meio aos jovens.
Em uma semana, o governador João Doria mudou radicalmente seu posicionamento sobre o caso de Paraisópolis. Ele assimilou como a real, sem nenhuma suspeição, a versão policial num primeiro momento. Depois, ouviu familiares e chegou a afastar do trabalho operacional os 31 PMs que participaram da ação.
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