Justiça manda, mas IC ignora urgência em caso de preso que afirma inocência
Resumo da notícia
- Justiça determinou, com urgência, em novembro, perícia que poderia esclarecer caso
- Hoje, o Instituto de Criminalística se posicionou: mas pedindo mais tempo
- Jovem está preso sob suspeita de roubo desde 31 de julho de 2019
- Há conversas com fotos, áudios e textos dele com a namorada na hora do roubo
- Vítima do crime disse que a voz do criminoso é diferente da voz do rapaz preso
A Justiça de São Paulo determinou em 29 de novembro do ano passado que o IC (Instituto de Criminalística) faça perícia no celular de um jovem que afirma, que enquanto ocorria um roubo pelo qual foi preso, ele estava dentro de casa, conversando com a namorada pelo WhatsApp.
Apesar da determinação e do pedido de urgência, a perícia não foi feita até hoje.
Enquanto isso, Lucas Vital e Silva, 24, está preso desde 31 de julho. As polícias militar e civil, o MP (Ministério Público) e o TJ (Tribunal de Justiça) ignoraram as mensagens trocadas e vídeos de câmeras de segurança da região do assalto, que mostram que ele não estava no local do crime.
Em ofício incluso nos autos do processo hoje, após a reportagem entrar em contato com a Justiça de São Paulo, a perita criminal Erica Pellegrini Rodrigues disse que "diante da grande quantidade de arquivos de vídeos e imagens a serem avaliados" necessita de um prazo maior.
Por meio de nota, a Justiça de São Paulo informou que "o processo está seguindo seu trâmite normal. Já foi solicitada perícia junto ao Instituto de Criminalística para a instrução dos autos. No momento, aguarda-se o resultado".
"Devido à complexidade da análise e ao volume de informações a serem examinados, a perícia solicitou maior prazo para a conclusão dos trabalhos, que continuam em andamento", complementou.
Preso diz que estava a mais de 2 km do local do roubo
Vital e Silva foi preso cinco dias após um consultor de 34 anos ter o celular roubado na região do Jabaquara. O assaltante tirou uma selfie tremida com o celular roubado. E o dono do aparelho conseguiu localizar a região onde o celular estava. A vítima enviou as informações à polícia.
PMs foram até a região apontada pela vítima. Lá, encontraram Vital e Silva conversando com um vizinho, compararam a selfie com o rosto de Vital e Silva e o levaram à delegacia do bairro.
Lá, foi reconhecido pelo consultor como o autor do roubo. O celular, porém, não foi localizado —nem mesmo após policiais civis cumprirem mandado de busca e apreensão na casa do jovem.
A vítima do roubo, o consultor Clayton Medeiros, 34, afirmou que reconheceu Vital e Silva como autor do crime. Apesar de não ter recuperado o aparelho, disse estar satisfeito de ter tirado das ruas "dois ladrões" e reafirma ter feito o reconhecimento fotográfico e pessoal: "Não colocaria um inocente na cadeia", disse.
Medeiros viu as imagens publicadas pelo UOL que mostram Silva no bairro do Jabaquara conversando (com textos, fotos e áudios) com a namorada no mesmo horário do roubo, ocorrido a pelo menos 2,5 quilômetros de distância. Pelas imagens e pelas conversas, é improvável que ele tenha estado no local do crime.
Ao se atentar aos arquivos de voz, a vítima disse ter encontrado uma "coisa estranha". "A voz dele não se parece com a do criminoso. O que parece: Parece que colocaram a foto dele num celular qualquer, pegaram a conversa de um cara qualquer, mostraram para você e disseram que era ele", afirmou.
Na casa da família de Vital e Silva, a reportagem viu o celular fisicamente. Havia áudios enviados pela mesma voz em outras conversas, além de notificações recebidas no Facebook pessoal do jovem.
A consultora Elaine Cristina Lídia Vital, 43, mãe do rapaz, relatou que a família foi ameaçada por dois policiais militares após a publicação da reportagem sobre o caso. A Corregedoria da PM apura a informação.
Por meio de nota, a PM informou que os policiais "foram acionados para ocorrência de averiguação de veículo produto de roubo na região. Ao ver uma das viaturas, um homem correu para um bar. Foi realizada a abordagem e após a busca pessoal, nada de ilícito foi encontrado e ele foi liberado. Posteriormente, dois suspeitos envolvidos no roubo foram detidos e encaminhados ao 35º DP".
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