Trabalhadores informais questionam auxílio de R$ 200: "Chega a ser piada"
Resumo da notícia
- A proposta do governo de auxílio de R$ 200, para trabalhadores informais sem renda durante a crise da covid-19, não agradou os autônomos
- Os profissionais ouvidos pelo UOL não viram muitas vantagens na quantia oferecida. Sem oportunidade de trabalho, parte deles poderá aderir
- Ao todo, o governo separou R$ 5 bilhões mensais para a iniciativa
- "Se colocar na ponta da caneta, não paga nenhum [gasto], é um valor simbólico, chega a ser piada", diz o cabeleireiro Rodrigo Teixeira
A proposta do governo de auxílio de R$ 200, para autônomos que não conseguirem renda durante a crise do novo coronavírus, não agradou os próprios trabalhadores informais.
Para eles, auxílio é "melhor do que nada", mas poderia ser maior. Os profissionais autônomos ouvidos pelo UOL não viram muitas vantagens na quantia oferecida. Sem oportunidade de trabalho, no entanto, parte deles poderá aderir.
Apresentada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, a ideia é pagar R$ 200 mensalmente por três meses aos trabalhadores que precisarem de renda. Ao todo, o governo separou R$ 5 bilhões mensais para a iniciativa, a serem pagos pela Caixa e pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). "A preocupação do presidente é com o mercado informal. São 38 milhões de brasileiros. Chamamos de autônomos e vamos atender a esse grupo", disse Guedes.
"Chega a ser piada"
O comentário geral é que R$ 200 por mês — ou R$ 6,60 por dia, em média — não é suficiente. "Não é de se jogar fora, não. Dá para uns gorós", ri Lucas de Lima, que vende mandioca nas ruas de Pinheiros para ajudar o pai, feirante. "Sem maldade. Não é um dinheiro que eu não quero. Pô, me dá R$ 200? Todo mundo quer. Mas se é uma ajuda do governo, acho que poderia ajudar com mais, né? Tanto de imposto que todo mundo paga", conclui.
O cabeleireiro Rodrigo Teixeira também vê poucas vantagens. "Essa ajuda é bem complicada, né? Com isso no mês, o que dá para pagar? Tem gastos de água, luz, aluguel... Se colocar na ponta da caneta, não paga nenhum, é um valor simbólico, chega a ser piada", declara.
"Ele não entende de pobre"
Reginaldo Ramalho trabalha como ambulante na região da República em São Paulo. Ele passa cerca de 8 horas entre carros, vendendo carregadores, capas de celular e raquetes elétricas.
Para Reginaldo, o valor proposto mostra desconhecimento do governo com a situação brasileira. "É que ele [Guedes] não entende de pobre, não. Ele pode até ter boa intenção, mas qual trabalhador vive com R$ 200? Precisa sair de Brasília e andar mais por aí", opina Reginaldo.
O vendedor teme, no entanto, que a sua clientela continue a reduzir, com o aumento do isolamento na cidade. "Já está bastante ruim. Se piorar como dizem, posso até ver como é que faz [para conseguir o benefício]. É pouco, paga uns dois, três dias de trabalho, mas pouco é mais que zero, não é não?."
A manicure Barbara Padre também avalia que o valor é baixo, mas, com o cancelamento de grande parte dos atendimentos a partir desta semana, diz que vai procurar entender como faz para receber o auxílio do governo. "Dá para pagar a conta de luz só, às vezes nem isso. Mas já é uma ajudinha, né? Em uma situação como essa, é melhor do que nada", comenta.
"Deveria ter diferentes níveis de remuneração"
A diarista Marinalva Souza acha que o cálculo apresentado por Guedes "não tem a ver com a realidade". Para ela, se o ministro "realmente quer ajudar", deveria ter sugerido diferentes faixas de auxílio.
"Pagar R$ 200 para quem trabalha por conta [própria] é muito pouco, é menos do que a minha diária. Sei que tem gente que depende desse dinheiro, mas no mês? No mês não dá para nada. Ele não entende isso?", questiona a diarista.
Ela propõe que fossem apresentadas diferentes faixas de auxílio, baseadas, por exemplo, na contribuição das pessoas.
"Deveria ter diferentes níveis. Para quem é autônomo, MEI [Microempreendedor individual], é uma contribuição porque tem o próprio negócio, precisa de mais. Quem presta serviço, é outra. E deveria ter também para ajudar os moradores de rua. Que ele use esse dinheiro para eles, já vai ajudar bastante", sugere Marinalva.
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