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Avó de vítima diz que Michelle Bolsonaro deveria ter ido antes a Saudades

Avó de uma das vítimas de ataque a creche reclamou de visita tardia da primeira-dama Michelle Bolsonaro - Hygino Vasconcellos/UOL
Avó de uma das vítimas de ataque a creche reclamou de visita tardia da primeira-dama Michelle Bolsonaro Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Saudades (SC)

21/05/2021 20h09

Risoleti Fernandes de Barros, de 42 anos, avó de Ana Bella Fernandes de Barros, uma das cinco vítimas de ataque em creche ocorrido no início do mês na cidade de Saudades (SC), reclamou da visita tardia feita pela primeira-dama Michelle Bolsonaro 17 dias depois do episódio. A mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve na cidade nesta sexta-feira (21) ao lado de Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

"Ela deveria ter vindo na primeira semana. Deveria ter abraçado a causa e visto o que essa população precisa, realmente", disse Risoleti, em entrevista ao UOL, em tom de indignação.

A avó disse que chegou a falar com a primeira-dama e a questionou do objetivo da viagem até Saudades.

"Eu perguntei para ela o que ela veio fazer aqui. Ela falou que veio trazer um suporte, veio trazer alguma coisa para a cidade. A cidade você pode olhar em volta. Não precisa trazer nada. A cidade é bem construída. [Tem] um povo trabalhador, que se esforça. A cidade precisa ser olhada. (...) Eu perguntei para ela se ela trouxe algum projeto para ajudar o povo. Daí ela pediu o meu telefone e vai entrar em contato comigo. Eu falei 'a vida da minha neta não volta'. A vida da professora [choro] não volta, que trabalhava com meu filho. Mas eu vou lutar. A vida da minha neta não foi em vão. Não foi. Eu vou lutar para que essa cidade seja vista", desabafou ela, em seguida.

A avó também reclamou da ausência de outros moradores no local para cobrar medidas. "Cadê a população", questionou. Na visita, Michelle Bolsonaro e Damares Alves só conversaram com familiares das pessoas que perderam a vida, segundo ela.

"Que paz que tem aqui? Paz onde se fica reprimido dentro de casa? Paz onde a sociedade não pode falar?! Onde a sociedade sofre com medo de perder o emprego, medo disso e daquilo?! Sofri na pele aqui dentro dessa cidade.(...) Eu estou aqui para gritar em favor do povo, que não pode vir aqui. Que teve medo de vir à rua e gritar pelas 'saudades'. A minha Bella não volta. O sorriso do meu filho nunca mais volta. Nunca mais. [choro] Mas eu vim aqui... A minha indignação é tanta que eu já chorei tanto hoje, mas tanto, que a minha vontade é de explodir."

Michelle Bolsonaro - Hygino Vasconcellos/UOL - Hygino Vasconcellos/UOL
Michelle Bolsonaro visitou a cidade de Saudades (SC) ao lado de Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

Caso comoveu Brasil

O ataque à escola Aquarela aconteceu em 4 de maio, quando um jovem de 18 anos invadiu o local e esfaqueou seis pessoas — duas professoras e quatro crianças de menos de dois anos. Apenas um menino de 1 ano e oito meses sobreviveu. A tragédia não foi maior porque as professoras perceberam o atentado e trancaram as outras salas que tinham aulas no momento.

Vizinhos da escola ajudaram a socorrer as crianças. A agente educativa Aline Biazebetti, 27, ouviu "gritos de socorro" e, no impulso, levou uma das crianças até o hospital. Mal ela sabia que estava carregando o único sobrevivente do ataque.

O pai de uma das crianças contou que, ao saber do ataque, foi às pressas para a escola e não encontrou a filha. Após vasculhar o local, reconheceu a filha pelos cabelos. "Eu vi o cabelinho dela e duas xuxinhas que foram feitas de manhã no cabelo dela, caiu meu mundo", conta Evandro Sehn, 35 anos.

Para a polícia, o crime foi premeditado. O autor do ataque teria analisado a instituição de ensino e inclusive teria rondado o local um dia antes. A escola teria sido escolhida por ele devido às "vulnerabilidades" identificadas por ele, segundo o delegado Jerônimo Marçal, responsável pela investigação.

Pelo menos três alunos que estudavam na sala alvo do ataque conseguiram escapar pois não foram à aula — entre eles estão os gêmeos Miguel Antonio e Maria Helena, de 1 ano e seis meses, que chegaram a ser levados até a porta da sala de aula. Porém, os pais decidiram levá-los de volta para não acordar os outros alunos — os gêmeos tinham ido fazer exames de rotina e chegaram atrasados.

Velório de vítimas de ataque a escola reúne cerca de 1,5 mil pessoas em SC