Estudante que cantava em ônibus para pagar faculdade se forma em medicina
Após oito reprovações em vestibulares e sete anos cantando em ônibus de São Luís, no Maranhão, para conseguir arrecadar dinheiro para pagar o curso de medicina, o universitário Joelmistokles Luis da Silva de Macedo Vale, de 33 anos, conseguiu realizar o grande sonho de se tornar médico.
A formatura foi na segunda-feira (18), data em que se comemora o dia do médico. A colação de grau contou com a presença dos filhos, esposa, familiares e amigos do cantor e médico que adota o nome "artístico" Joel Mistokles. O universitário foi um dos mais aplaudidos e chegou a ser homenageado por uma professora que o citou como exemplo de garra e luta.
Filho de pais divorciados, ele conta que foi criado com os dois irmãos mais novos pela mãe, que é professora. Morando no bairro São Bernardo, periferia da capital maranhense, ele lembra que a paixão pela profissão começou ainda na adolescência e ganhou força depois que a genitora sofreu um acidente de moto, em 2010.
Minha mãe teve esmagamento de duas vértebras da coluna e corria risco de ficar paraplégica. Ela passou por cirurgia e, graças aos médicos, não teve sequelas e hoje leva uma vida normal. Assim como um médico salvou a minha mãe, eu também tenho essa vontade de ajudar as pessoas.
Joel Mistokles
Vida de desafios
Mas a trajetória não foi fácil. Sem condições de arcar com os custos de uma faculdade de medicina, Joel tentou ser aprovado em instituições públicas e conseguir bolsa em faculdades privadas: reprovou em oito tentativas.
Eu comecei a fazer o curso de enfermagem e depois de odontologia, que eram mais baratos, mas eles não me completavam e eu tranquei os dois. Foi nessa época que eu estava angustiado com essa situação que comecei a cantar nos ônibus. Era uma maneira de eu me sentir melhor, levar a minha música para várias pessoas e ainda conseguir dinheiro para ajudar no sustento da minha família
Casado há 12 anos e pai de dois filhos, um menino de 11 anos e uma bebê de 7 meses, ele só decidiu tentar mais uma vez a aprovação no vestibular de medicina, numa faculdade privada da cidade, em 2014, a pedido da esposa. Ele já cantava nos coletivos há dois anos e, dessa vez, o resultado foi diferente.
"Eu já tinha desistido, mas minha esposa pediu para eu prestar o vestibular e, para não brigar, eu acabei indo", recorda.
Para ajudar no custeio da faculdade e nas contas da casa, a cantoria passou a ser diária nos ônibus durante o dia, bem como no trajeto de ida e volta da faculdade. Ao subir no coletivo, Joel canta, depois oferece seu CD gospel, e cada passageiro dá o valor que pode. Muitas vezes os discos são distribuídos gratuitamente.
Fui aprovado com o Fies (Financiamento Estudantil) e o valor da mensalidade não era tão alto, mas, mesmo assim, foi uma luta muito grande para conseguir pagar a faculdade, os materiais e levar o sustento para casa. Tinha dias que eu descia do ônibus com apenas R$ 5. Mas desistir não estava nos meus planos.
Nova carreira
Com a formatura nesta semana, Joel já está trabalhando numa UBS (Unidade Básica de Saúde) da cidade. A dedicação aos pacientes fez com que ele deixasse, por enquanto, a música de lado.
"Comecei a trabalhar ontem e estou muito empolgado. Quero fazer o bem aos meus pacientes e atendê-los da melhor maneira possível, por isso, estou sem tempo, mas não quero parar de cantar em coletivos. Acredito que levar minha música para as pessoas também é minha missão", diz.
O médico afirma que vai continuar com o projeto de cantar música gospel e pretende usar os coletivos como palco pelo menos uma vez na semana ou aos sábados e domingos.
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