Delegado acusado de tentar incriminar Paes já investigou milícia no Rio
O delegado Mauricio Demétrio, acusado pelo Ministério Público de extorsão e de tentar incriminar o prefeito Eduardo Paes (PSD) às vésperas do segundo turno das eleições de 2020, já investigou a milícia do Rio.
Em entrevista ao UOL em outubro de 2020, disse que grupos paramilitares se aliaram ao tráfico para movimentar até R$ 90 mil por semana com a exploração do trabalho de vendedores ambulantes em Madureira, zona norte do Rio. "Virou um grande faroeste", afirmou na ocasião.
A investigação conduzida pelo delegado Maurício Demétrio na época acusava o grupo miliciano de explorar shoppings centers, supermercados e estacionamentos. O grupo era apontado como suspeito de envolvimento em nove homicídios. Entre eles, o assassinato de um homem que teria se recusado a pagar uma taxa de apenas R$ 5.
Os comércios de Madureira eram "loteados" pelos envolvidos no esquema, que contava com a colaboração de servidores públicos, apontam as investigações. Os agentes afirmaram à época terem flagrado a presença de integrantes do grupo em meio ao público no lançamento do programa Segurança Presente, em janeiro do ano passado.
"Os nossos policiais ouviram um deles falar: 'Agora é tudo nosso'. Não existia nenhum tipo de controle urbano naquela área", afirmou o delegado na ocasião.
Advogado para repassar falsa denúncia, diz MP
De acordo com denúncia feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), o delegado Maurício Demétrio usou um advogado para repassar uma falsa denúncia à Polícia Federal.
Paes usou seu perfil no Twitter para atacar o delegado e afirmar que ele tinha a esposa empregada na gestão de Marcelo Crivella (PRB) —adversário de Paes no segundo turno da última eleição.
No dia 23 de novembro de 2020, Demétrio fez com que o advogado Thalles Wildhagen Camargo procurasse o delegado da Polícia Federal Victor Cesar Carvalho dos Santos, seu primo, para denunciar que Paes supostamente receberia um malote com grande quantidade de dinheiro vivo no dia seguinte.
Contudo, os promotores descobriram em um dos 12 aparelhos celulares apreendidos com Demétrio que ele próprio havia tirado a foto que usou para tentar incriminar Paes.
"As provas produzidas evidenciam que, em um outro gravíssimo episódio, Mauricio Demétrio se movimentou para forjar a prisão do então candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes", diz um dos trechos da denúncia do MP.
Os smartphones foram apreendidos em junho, quando o delegado da Polícia Civil do Rio foi preso sob a acusação de extorquir dinheiro de comerciantes de um polo têxtil em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Montagem de dossiês
Além da tentativa de criar uma denúncia contra Paes, o delegado também é acusado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) de tentar forjar um flagrante contra policiais da Corregedoria da Polícia Civil que o investigavam. Na ocasião, ele tentou colocar drogas no carro dos agentes para incriminá-los.
Quando foi alvo de uma operação do MP em junho, Demétrio foi preso com R$ 240 mil em dinheiro vivo e três carros blindados de luxo.
O delegado ainda é apontado como articulador de um esquema de montagem de dossiês com base em acesso abusivo a dados sigilosos da Polícia Civil. Para isso, contava com a colaboração do policial civil Adriano da Rosa, preso na semana passada.
O MP afirma que o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Luiz Zveiter, sua mulher Gabriela Brito Zveiter e Glauco Costa Santana, filho da promotora Gláucia Santana, estão entre os alvos dos dossiês.
Vida de luxo
Segundo o MP, o delegado usava os ganhos ilegais que obtinha com esquemas de extorsão para manter uma vida de luxo, com viagens internacionais e aluguel de mansões e carros importados.
Em uma das conversas interceptadas pelo Gaeco nos telefones dele, Demétrio negocia o aluguel de um superesportivo da marca Bentley, uma das mais caras do mundo, por US$ 3,3 mil (R$ 18,6 mil na cotação de 27 de dezembro).
Em outra conversa, ele negocia o aluguel de um carro blindado com escolta armada durante uma viagem a São Paulo por R$ 34,3 mil. Há ainda menções a remessas de dezenas de milhares de reais para quitar viagens em dinheiro vivo: "Amanhã papai leva 75", diz ele em uma das conversas. Para os promotores, é uma forma cifrada de se comprometer com um pagamento de R$ 75 mil.
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