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PM não identifica 8 mortos em ação; alvo, líder do CV, continua foragido

11.fev.2022 - Policiais do Bope apreendem armas e drogas em ação com 8 mortos na Vila Cruzeiro - PMERJ
11.fev.2022 - Policiais do Bope apreendem armas e drogas em ação com 8 mortos na Vila Cruzeiro Imagem: PMERJ

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

11/02/2022 13h28

A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou hoje não ter a identificação dos oito homens mortos em operação na manhã de hoje na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte da capital. Na versão da PM, eles foram mortos por reagirem à entrada dos policiais na favela e todos portavam fuzis.

A operação —que fechou 17 escolas, afetando mais de 5.000 alunos— tinha como objetivo prender Adriano Souza Freitas, conhecido como Chico Bento —ele é apontado pela PM como traficante e liderança do CV (Comando Vermelho) que fugiu do Jacarezinho após a implantação do programa Cidade Integrada. No entanto, o suspeito não foi encontrado.

A Polícia Civil afirma que a ocorrência para identificação dos mortos ainda está em andamento e a cargo da Delegacia de Homicídios. Até as 18h, os mortos não haviam sido identificados.

No final da tarde, a Polícia Civil e a PRF informaram a apreensão de um carro com mais de 300kg de maconha. Os agentes afirmam que o veículo estava sendo retirado "às pressas" da Vila Cruzeiro após a operação. A mulher que conduzia o carro foi levada a DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) para prestar depoimento.

Chico Bento é apontado como liderança do tráfico no Jacarezinho - Portal dos Procurados - Portal dos Procurados
Chico Bento é apontado como liderança do tráfico no Jacarezinho
Imagem: Portal dos Procurados

Apontado como líder do Jacarezinho, Chico Bento é suspeito de ser o chefe do tráfico da comunidade em maio, quando a Polícia Civil realizou a operação mais letal da história do RJ —28 pessoas foram mortas. Na ocasião, a justificativa das forças de segurança foi de impedir o aliciamento de menores pelo tráfico de drogas.

O Complexo da Penha é considerado quartel-general do Comando Vermelho. Informações das polícias indicam que as principais lideranças da facção estão alocadas na região, como Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, e Pedro Guedes, o Urso.

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Operação foi comunicada ao MP, diz PM

A PM informou que o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) foi comunicado da operação, conforme decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre restrições de policiais durante a pandemia de covid-19.

"A operação foi regularmente comunicada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro", confirmou a promotoria, por meio de nota. Segundo o MP, a justificativa para a operação foi que lideranças de uma organização criminosa estavam abrigadas na Penha, de onde comandariam delitos.

Para tentar localizar Chico Bento, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) contou com o apoio da PRF (Policia Rodoviária Federal). Na manhã de hoje, foi preso um homem em flagrante e apreendidos sete fuzis, 14 granadas e grande quantidade de drogas. A PM não detalhou o efetivo deslocado para a Vila Cruzeiro.

Em entrevista, Marcos Aguiar, porta-voz da PRF, afirmou que a Vila Cruzeiro tem sido utilizada pelo CV como ponto estratégico para o roubo de cargas no Rio.

"Ele [Chico Bento] é conhecido por liderar facção e tem como principal objetivo, através do fortalecimento do tráfico, fomentar o roubo de cargas. Roubo de cargas fortalece os criminosos", disse Aguiar.

Clima tenso

Moradores relataram ao UOL que o clima pela manhã era de guerra, com presença de uma aeronave do GAM (Grupamento Aeromóvel da PM) e veículos blindados na região.

Foi um bombardeio, não foi um tiroteio. Neste momento [às 8h15], a situação está mais tranquila, mas não tenho coragem de botar o pé para fora de casa. É só esperar as aulas começarem que começam as operações. É impressionante isso."
Morador da Vila Cruzeiro, que pediu anonimato

"O despertador hoje foi o helicóptero. É que quem mora na favela não tem direito de ir trabalhar, de ir para a escola, de circular, não tem direito a nada. A gente corre o risco de tomar tiro dentro de casa mesmo e só descobrirem que morremos muito tempo depois [...] Depois que os 8 morreram, deu uma acalmada. Na verdade, não sabemos se isso é bom ou ruim."
Moradora da Vila Cruzeiro, que pediu anonimato

PM: Operação em dia escolar 'se fez necessária'

O tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM, afirmou que a operação em dia escolar "se fez necessária". De acordo com Blaz, a ação da PM é uma resposta à altura do armamento e da ação dos traficantes.

"É uma situação lamentável. A criança teve aula a semana toda e na sexta já não tem. Infelizmente é uma realidade que não é imposta pela polícia. A dosimetria é dada pela ação dos marginais", disse.

E completou: "As crianças sofrem muito por terem educação interrompida, mas essas ações se fazem muitas das vezes necessárias".

STF proibiu operações

Em 2020, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por confirmar a liminar dada em junho do mesmo ano, pelo ministro Edson Fachin, proibindo a realização de operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia de covid-19, sob pena de as corporações e o governo serem responsabilizados civil e criminalmente.

Na liminar, Fachin havia dito que as operações policiais nessas localidades só podem ocorrer em hipóteses "absolutamente excepcionais". Nesses casos, as ações devem ser "devidamente justificadas por escrito" pela autoridade competente com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio, responsável pelo controle externo da atividade policial.

Na semana passada, o STF determinou que o RJ detalhe as medidas a serem adotadas para reduzir a letalidade policial. Entre elas, está a determinação de que o governo fluminense elabore um plano objetivo para conter a letalidade policial, no prazo de 90 dias, e a instalação de equipamentos com GPS e gravação de áudio e vídeo acoplados às fardas dos policiais, no prazo de 180 dias.

"O sistema precisa realmente de uma correção de rumos que proteja a vida e a saúde de todos, ou seja, dos integrantes das comunidades e dos policiais", disse o presidente do STF, Luiz Fux. "É necessária a intervenção do Judiciário", afirmou.

Onde fica a Vila Cruzeiro

A Vila Cruzeiro é uma favela que pertence ao Complexo da Penha —bairro da zona norte do Rio conhecido pela famosa Igreja da Penha. A construção fica no alto de uma rocha e conta com uma grande escadaria que atrai fiéis de todos os cantos do Rio.

A favela é também onde cresceu e morou o jogador de futebol Adriano, que mantém relações com a comunidade até hoje.

Em 2012, o Complexo da Penha ganhou a 27ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que também foi responsável pelo patrulhamento da Vila Cruzeiro e está em funcionamento até hoje.

O conjunto de favelas fica a menos de 10 minutos da avenida Brasil —uma das principais vias expressas do Rio e a 20 minutos do Galeão, o Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, também na zona norte.