'Morreu nos meus braços': morador narra resgate de baleado na Vila Cruzeiro
Um homem narrou como foi o resgate de um dos jovens baleados na chacina ocorrida em uma ação policial que deixou ao menos 23 pessoas mortas nesta terça-feira (24) na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro.
O advogado Gilberto Santiago, 37, subiu na garupa de uma moto na parte alta da favela para retirar de lá um jovem que havia feito um pedido por socorro após ser atingido por um tiro nas costas. "Vou morrer, mano", escreveu em mensagem pelo WhatsApp enviada às 4h, no começo da operação.
Santiago disse ter recebido a ligação do padrasto do jovem por volta das 6h. Ele então tentou entrar na Vila Cruzeiro, mas só conseguiu localizar o paradeiro do rapaz ferido mais de quatro horas depois.
"O meu amigo ligou chorando, falando: 'o meu garoto está envolvido com uns caras aí da favela e está desaparecido nesse tiroteio. Me ajuda, pelo amor de Deus'. Aí, encontrei ele em uma rua que dá acesso à Vila Cruzeiro, só que o fogo não cessava. Era bala voando a toda hora", relatou, em entrevista ao UOL.
Por volta das 10h30, Santiago enfim localizou o paradeiro de Nathan Werneck, 21, que estava embaixo de tábuas em uma zona rural na parte alta da Vila Cruzeiro. Com a ajuda de outras três pessoas, o levou até o veículo de um vizinho, que os conduziu até o asfalto. Lá, embarcaram em uma kombi.
"Ele estava escondido. Notei que ele deitou de bruços e colocou tábuas em cima. Queria se esconder mesmo. Sabia que, se fosse encontrado pela polícia, seria morto. Aí, coloquei a mão no peito dele e senti o coração batendo".
No caminho do hospital, disse ter percebido o exato momento em que Nathan morreu. "Senti que estava fraco, senti o corpo enrijecer. Não tinha mais jeito. Ele morreu nos meus braços".
'Cenário de guerra'
Gilberto conta que se deparou com um cenário de guerra enquanto tentava resgatar Nathan.
"Tinha umas 20 motos jogadas no chão e uns 10 carros furados, com sangue e projétil de fuzil no chão. Os moradores estavam assustados. E as ruas, vazias. Parecia um cemitério. Era um cenário de guerra".
Ele ainda guarda a frustração de não ter conseguido chegar a tempo para retirar o jovem de lá com vida.
O número inicial de óbitos divulgado pelas unidades de saúde e a Polícia Militar foi de 26. O total, no entanto, foi revisado para 23. Nenhum dos mortos na chacina era do Bope (Batalhão de Operações Especiais) ou da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que participaram da ação.
Em apenas um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL), foram registradas cerca de 180 mortes em 40 chacinas, segundo aponta levantamento obtido pelo UOL. Só na Vila Cruzeiro, foram 4, com 39 mortes. Os dados são de levantamentos do Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense).
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