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Servidores da Funai pedem exoneração de presidente do órgão e mantêm greve

Sede da Funai em Brasília - Divulgação/Mario Vilela/Funai
Sede da Funai em Brasília Imagem: Divulgação/Mario Vilela/Funai

Do UOL, em São Paulo

15/06/2022 22h21

Servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) decidiram manter o estado de greve. Eles pediram também, que o presidente da instituição, Marcelo Augusto Xavier da Silva, seja exonerado do cargo.

Em protesto e vigília em frente o prédio da instituição em Brasília, os servidores ainda chamaram Xavier de "assassino" e disseram que ele foi omisso. Eles também voltaram a criticar uma carta divulgada pela Funai, na qual havia a informação de que Bruno Pereira e Dom Phillips, desaparecidos no domingo (5), teriam tido contato com indígenas sem autorização, e que acionará o Ministério Público Federal para apurar o caso.

Em protesto em Brasília, os servidores também pediram melhores condições de trabalho e segurança. Durante o ato, lembraram a morte de outro colega, Maxciel Pereira dos Santos, morto em 2019, em Tabatinga, e disseram que Bruno é "insubstituível".

Na noite de hoje, a Polícia Federal afirmou em entrevista coletiva que o pescador Amarildo da Costa Oliveira, também conhecido como "Pelado", confessou que matou e enterrou os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, na região do Rio Javari (AM). De acordo com o superintendente regional da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, com a ajuda do pescador, as forças de segurança do Amazonas encontraram restos humanos enterrados em uma região remota, mais de 3 quilômetros mata adentro.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Justiça manda Funai apagar nota contra Univaja

A Justiça Federal do Amazonas determinou hoje que a Funai apague uma nota, publicada na última sexta-feira (10), que ameaçava a organização Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) de processo e apontava supostas irregularidades na atuação do grupo nas buscas pelo indigenista e pelo jornalista.

Na decisão, a juíza da 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Amazonas acatou os pedidos feitos em uma ação movida pela Defensoria Pública da União, que acusou a Funai de violar direitos humanos ao atacar a Univaja e divulgar informações falsas a respeito de Bruno e Dom.

A juíza avaliou que nota da Funai é "violadora de direitos humanos, é inoportuna, é indevida e seu conteúdo não é compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor".

"Durante a peregrinação efetiva em busca de vestígio dos cidadãos desaparecidos, a ré Funai emite nota de cunho agressivo contrária à Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), cujo teor desafia todos os princípios e normas do ordenamento jurídico constitucional", pontuou na decisão.

Relembre o caso

Bruno Pereira e Dom Phillips sumiram em Atalaia do Norte, próximo à Terra Indígena Vale do Javari, uma reserva que sofre com disputas entre tráfico de drogas, madeiras e garimpo ilegal. Dois suspeitos foram presos e quatro testemunhas foram ouvidas.

Hoje, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", 41, afirmou à Polícia Federal que esquartejou e enterrou os corpos de Bruno e Dom. Nesse depoimento, ele afirmou que uma segunda pessoa o ajudou a esquartejar e a enterrar os corpos.

Os dois foram vistos pela última vez por volta das 7h de domingo, a bordo de um barco, e sumiram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. Após um atraso de mais de duas horas na chegada da dupla, as buscas começaram.

Bruno trabalhava com ribeirinhos e indígenas da região, afetada pela ação de invasores. Segundo testemunhas, sofria ameaças constantes de garimpeiros, madeireiros e pescadores que atuavam em terras indígenas e, por isso, a falta de contato após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.

Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram "acertar contas" com o indigenista. Segundi Yura, Bruno sofria ameaças desde quando foi coordenador da Funai em Atalaia do Norte. "Eram ameaças diretas, não mais veladas como acontecia outrora."

O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari. Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja, disse que o repórter inglês fotografou invasores armados que ameaçavam indígenas. Segundo ele, esses homens seriam ligados a Pelado.