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'Estado se ausentou novamente após terminarem as buscas', diz Univaja

Do UOL, e colaboração para o UOL, em São Paulo

08/07/2022 14h31Atualizada em 08/07/2022 20h34

O representante da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) Beto Marubo afirmou nesta sexta-feira (8) que o Estado brasileiro não tem atuado pela proteção dos povos indígenas na região depois que os corpos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips foram encontrados.

"Nos preocupamos (que mais casos como o de Bruno e Dom aconteçam) porque depois que terminaram as buscas o Estado brasileiro se ausentou novamente. Vimos lá um grande contingente da Polícia Federal, exército e marinha com o Estado presente para fazer as buscas, mas depois todos se recolheram e foram embora", disse durante participação no UOL News.

"Então há possibilidade de outros incidentes caso não haja providências urgentes. Essa retórica de que o Estado brasileiro está presente é uma grande mentira", completou.

Marubo também destacou que com o enfraquecimento de instituições como a Funai, Polícia Federal e Ibama, são os próprios indígenas que têm se encarregado do trabalho de proteção das terras.

"Esse vácuo deixado pelo Estado brasileiro deu margem para esses crimes chegarem ao nível em que nos encontramos. Ironicamente no momento onde a retórica do governo é que estão protegendo a Amazônia e ela é de todos os brasileiros. Somos nós indígenas que estamos fazendo a proteção e nossos parceiros. (...) o Estado simplesmente abdicou de sua responsabilidade na região de fronteira do Vale do Javari e nós indígenas estamos na linha de frente e ficamos vulneráveis em uma região muito violenta".

Apesar da situação de abandono vivida pelos povos indígenas do Vale do Javari, Beto Marubo disse acreditar que a prisão do peruano Rubens Villar Coelho, o Colômbia, ontem (7) possa ajudar nas investigações. Colômbia é suspeito de ter mandado matar Bruno e Dom Phillips.

"Ainda não há informações consistentes, mas achamos sim que essa prisão pode contribuir muito com as investigações. A Univaja, os movimentos sociais e os moradores locais vem informando sobre um aumento da violência e crescimento das milícias organizadas naquela região", disse.

Insegurança

À noite, em live nas redes sociais, o procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo, disse que, com a saída da imprensa nacional e internacional da região, a insegurança retornou ao local.

"Na sexta-feira tivemos a notícia que pessoas de nacionalidade estrangeira estiveram na sede da Funai. De forma ríspida, procuravam pelos chefes da Funai. Eles entraram sem a permissão dos funcionários como uma forma de intimidar", disse o procurador.

Segundo ele, a Univaja tem reportado casos às autoridades locais. "Tememos pela segurança das pessoas", afirmou Marubo.

O procurador jurídico da organização também disse que enxergam a prisão de Colômbia de forma "positiva". "Entendemos que a prisão corrobora com um conjunto de provas", informou.

Em março deste ano, a Univaja entrou uma série de documentos com informações sobre as situações que acontecem na região. Um deles, segundo Marubo, apontava a existência de uma pessoa que financiava atividades ilegais no local.