Munição do Bope acabou em duas horas em operação no RJ, diz porta-voz da PM
O porta-voz da PM (Polícia Militar) do Rio de Janeiro, tenente-coronel Ivan Blaz, disse hoje, em entrevista à TV Globo, que a munição do Bope (Batalhão de Operações Especiais) acabou em apenas duas horas durante operação realizada ontem no Complexo do Alemão, na capital.
O oficial relatou que os criminosos têm um alto poder de fogo e que a entrada de armas nas comunidades é a "variável que mais impacta" na realidade carioca. O PM ainda disse que a situação estava "tensa" na região na manhã de hoje.
Segundo ele, a munição do batalhão já havia sido totalmente utilizada às 7h30 da manhã, cerca de duas horas depois do início da operação.
"Ontem, por volta das 7h30, a munição do Bope já havia sido totalmente consumida dada a intensidade do confronto armado que se deu no Complexo do Alemão. A gente fala muito na Operação do Salgueiro, que durou a noite inteira de confronto, mas não foi consumida a quantidade de munição que foi usada ontem no Alemão".
Blaz afirmou à TV Globo que eram "centenas" de fuzis utilizados pelos criminosos durante a operação no Alemão. "Estou falando de uma ordem de grandeza de centenas de fuzis, não estou contando nem o contingente humano. Só falo de fuzis naquela região. Você vê equipamentos táticos impetrados pelos criminosos, barricadas medievais sendo colocadas, com espeto, soldas etc. São investimentos feitos naquela região para uma guerra é muito maior que investimento para educação".
O tenente-coronel chamou a atenção para o avanço da quadrilha na região. "Temos observado um constante avanço dessa quadrilha. Ela que insiste em investir em arma de fogo, em colocar uma juventude pobre favelada com armas na mão para sustentar fogo. Eles não podem fugir do confronto com a polícia, se não a quadrilha vai matá-los. Eles sacrificam essa juventude da favela para poder garantir a proteção de suas vidas e liberdade. São esses criminosos do Complexo do Alemão que investem em assaltos a bancos, a roubos a joalherias, a roubo de cargas, de veículos".
O porta-voz também alegou que as operações realizadas não são inúteis. "Eles investem contra a sociedade e sacrificam sua própria população naquela região. Eu fico muito estarrecido em ver ainda manifestações de pessoas que dizem que essas operações são inúteis. Elas são necessárias para poder deter um avanço emergencial dessa quadrilha".
Sobre a morte de Letícia Marinho de Sales, o porta-voz lamentou o ocorrido. O oficial afirmou que a vida perdida pela mulher e pelo policial militar que também morreu no confronto representam "um custo" na operação.
A senhora Letícia Marinho era amiga da minha mãe, aqui no Recreio. Minha mãe ontem ficou muito abalada com a morte de sua amiga. Eu já estava muito triste com a morte do cabo De Paula que deixa dois filhos autistas. Como essa mãe vai tocar a vida sozinha sem o seu marido agora? Eles dois acabam por representar um custo nessa operação. Não há resultado operacional que vá mostrar, que seja comemorado com a morte desses dois inocentes. Tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM do Rio de Janeiro.
Apesar da morte de Letícia, o policial falou que não houve outros registros de ferimentos dos moradores.
"Na rua só tinha criminosos e policiais em confronto. Por isso tivemos uma operação que não resultou no ferimento de moradores. Exceto a dona Leticia que estava do lado de fora e que esse caso será apurado. Hoje, precisamos entender como realizar essas ações de formas rotineiras. Precisamos ter acesso mais constante a comunidades que se entendem encasteladas, feudos impenetráveis pelo estado para que possamos evitar que elas se reforcem rotineiramente".
Operação deixa 17 mortos
A operação realizada ontem deixou ao menos 17 pessoas mortas, apreendeu apenas sete armas —quatro fuzis, uma metralhadora .50 e duas pistolas— e prendeu cinco pessoas. Um suspeito procurado no Pará está entre os detidos. Segundo as polícias, os alvos da operação eram criminosos do Comando Vermelho, que domina o Complexo do Alemão.
Anteriormente, a Polícia Civil havia informado que Roberto de Souza Quimer, 38, era um dos mortos, mas retificou a informação às 18h de hoje (22), o que totaliza 17 mortos no dia 21 de julho. O UOL atualizou todas as reportagens sobre o caso com a informação correta.
A PM confirmou que 400 agentes participam da operação no Alemão, com o auxílio de quatro aeronaves e dez veículos blindados. A ação policial teve início na madrugada e durou 12 horas. Ela foi feita com equipes do Bope da Polícia Militar e da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) da Polícia Civil.
Na comunidade da Fazendinha, a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foi "atacada por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos", segundo a corporação.
Além da presença no Alemão, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área foram às nas comunidades de Juramento e Juramentinho.
A operação aconteceu sob a ADPF 365, que proíbe operações policiais nas favelas do Rio durante a pandemia.
Veja quem são os mortos na operação:
- Bruno de Paula Costa, 38 anos
Bruno era cabo da Polícia Militar e foi baleado durante um ataque à base da UPP. Levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, não resistiu aos ferimentos
- Letícia Salles, 50 anos
Moradora do Recreio, ela visitava o namorado no Complexo do Alemão. Familiares afirmam que ela foi baleado no peito dentro do carro por policiais em um dos acessos à comunidade
- Fernando Nascimento Silva, 28 anos
- Roberto de Souza Quimer, 38 anos
- Emerson de Sousa Teixeira, 26 anos
- Bruno Neves Leal, 28 anos
- Gabriel Farias da Silva, 23 anos
- Anderson Luiz Bezerra Fonsêca, 21 anos
- Diego Barbosa da Silva, sem idade informada
- Marcs Paulo Nascimento da Silva, 22 anos
- Wellington Moura da Silva Junior, 17 anos
- Luiz Claudio Rozendo Lopes Junior, 28 anos
- Bruno Luis Soares da Silva, 32 anos
- Jhonatan Vitor Ferreira Nunes, 21 anos
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