Conteúdo publicado há 12 meses

Prisão de Zinho tem relação com tráfico de armas do Paraguai, diz Dino

A prisão de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, miliciano mais procurado do estado do Rio de Janeiro, está relacionada ao "desmonte de parte de um esquema de tráfico de armas" do Paraguai.

Prisão e investigações

O ministro da Justiça disse ao UOL que a prisão de Zinho está ligada à GLO (Garantia da Lei e da Ordem) nos portos e aeroportos do estado. "Também [tem relação] ao desmonte de parte do esquema de tráfico de armas via Paraguai", afirmou Flávio Dino.

"É possível afirmar que, a cada ação bem sucedida, surgem informações e caminhos para outras ações e mais resultados", disse ele sem especificar a relação. "A relação não é de causa e efeito. Importante destacar que as ações em série mostram que o crime organizado não é invencível."

Dino exaltou o trabalho da Polícia Federal. "É fundamental entender o caráter planejado e sistemático realizado pela PF para combater as narcomilícias e demais facções criminosas do Rio de Janeiro", disse.

GLO tem como objetivo a "asfixia logística e financeira do crime organizado". "Isso enfraquece, aí surgem as delações e prisões em série, que vão continuar e se ampliar."

Operações miram milícias e armas a facções

Duas operações recentes tiveram como foco a prisão de pessoas suspeitas de relação com milícias e venda de armas para facções criminosas. Na terça-feira (19), a PF prendeu cinco pessoas na segunda fase da Operação Dinastia, que mirou a maior milícia do Rio de Janeiro.

Os alvos na etapa da investigação compõem a base bélica e financeira da milícia e um era Zinho. Os milicianos cobravam "taxas de segurança" mensais de grandes empresas de construção civil. O dinheiro seria lavado por meio de uma rede de contas bancárias.

Nessa ação, os policiais apreenderam um fuzil, três pistolas, um simulacro de arma, R$ 3 mil em dinheiro, celulares, computadores e documentos. As buscas foram feitas em 17 endereços nos bairros de Campo Grande, Paciência, Cosmos, Sepetiba, Santa Cruz e Recreio dos Bandeirantes, todos na zona oeste do Rio, onde a milícia atua.

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No início de dezembro, outra operação prendeu 19 pessoas suspeitas de vender 43 mil armas para facções brasileiras. A ação foi realizada em conjunto pela PF, o Ministério Público Federal e órgãos paraguaios.

Centenas de armas foram encontradas no cumprimento dos mandados. Algumas delas estavam em depósitos, ainda dentro de caixas, no Paraguai. O número pode chegar aos milhares, estimou o ministro.

A PF identificou que o grupo comprava pistolas, fuzis, rifles, metralhadoras e munições de fabricantes da Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia. Segundo a PF, o esquema de tráfico ilícito de armas de fogo movimentou R$ 1,2 bilhão em três anos.

As armas eram importadas da Europa por uma empresa sediada no Paraguai. Lá, eram raspadas e entregues a grupos de intermediários que atuavam na fronteira do Brasil. As armas eram revendidas às principais facções brasileiras.

Essa ação com o Paraguai fará com que as duas maiores facções brasileiras, que eram as destinatárias principais desses armamentos ilegais, tenham o fechamento dessa via logística para a realização das suas operações. É algo que tem um impacto muito forte no Brasil e no Paraguai.
Flávio Dino, ministro da Justiça no dia da operação

Quem é Zinho?

O comando da maior milícia do Rio passou para as mãos de Zinho após morte de seu irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. O miliciano foi baleado em uma operação policial em junho de 2021 — desde então, Zinho trava uma sangrenta disputa com outros grupos paramilitares, que tentam controlar a organização criminosa. Antes, ele era apontado como o responsável por gerenciar as finanças do grupo, segundo a Polícia Civil.

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As investigações apontam que Zinho era hábil com as contas. Antes de ascender à chefia do grupo, era ele quem contabilizava e lavava o dinheiro originado por atividades ilícitas, incluindo a venda clandestina de sinais de TV a cabo, de gás e de licenças para serviços de transporte.

Zinho tem vários mandados de prisão em aberto. Ele já era procurado pelos crimes de organização criminosa, porte ilegal de arma e associação criminosa.

Em setembro, Zinho foi um dos denunciados pelo Ministério Público pela morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e de um amigo dele. Jerominho teria sido morto após tentar retomar o comando da milícia, que foi fundada por ele. O grupo tem influência em 812 das 833 áreas listadas pela Polícia Civil com a presença de milícias.

Em outubro, a advogada de Zinho, Leonella Vieira, negou as acusações contra ele. Segundo ela, Zinho é vítima de "deduções" do Ministério Público, oriundas do parentesco dele com o ex-chefe da milícia, Ecko.

Sobrinho de Zinho foi morto no fim de outubro. Matheus da Silva Rezende, o Faustão, era número dois da organização (conhecida como "Família Braga" ou "Bonde do Zinho"), e morreu durante troca de tiros com a Polícia Civil em Santa Cruz, também no Rio. Rui Paulo Gonçalves Estevão, mais conhecido no mundo do crime como Profeta ou Pipito, ocupou o lugar de Faustão dentro da milícia. Ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados em represália à morte de Faustão.

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