'Testa de ferro': renda de mulher de Rivaldo subiu 1.444% em um ano, diz PF
A renda da mulher do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa cresceu 1.444% em um ano, segundo relatório da Polícia Federal.
O que aconteceu
A renda anual de Erika Andrade de Almeida Araújo saiu de R$ 32,6 mil, em 2014, para R$ 504 mil, em 2015. "Fica evidente que uma mudança abrupta ocorreu a partir de 2015, ano em que a primeira empresa constituída iniciou suas atividades e ano em que Rivaldo assumiu a Delegacia de Homicídios da Capital", diz o relatório da PF.
Rivaldo foi preso ontem pela Polícia Federal suspeito de obstruir as investigações do caso Marielle. Ele também foi apontado como "responsável por ter o controle do domínio final do fato". O delegado assumiu a chefia da Polícia Civil em 2018, um dia antes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Para a PF, Erika é "uma espécie de testa de ferro" e as empresas dela com o marido são "de fachada". Ela também entrou na mira da operação da polícia ontem e foi apontada como responsável por lavar o dinheiro recebido por Rivaldo.
Em 2017, a renda anual de Erika aumentou ainda mais e chegou a R$ 927 mil. No mesmo período, ela e o ex-chefe da Polícia Civil passaram a adquirir imóveis — em 2021, eles compraram um apartamento em Jacarepaguá por R$ 777 mil.
Foi nesse mesmo período, segundo a PF, que Rivaldo recebia valores para não investigar determinados casos — alguns deles ligados a bicheiros. O relatório cita, por exemplo, que o miliciano Orlando Curicica afirmou que existia um "sistema de pagamento mensal realizado pelas milícias às delegacias".
A investigação também aponta que "chama atenção o volume de operações financeiras via 'depósito em espécie', grande parte sem identificação da origem". Em uma das empresas, por exemplo, Erika sacou R$ 880 mil — "tal prática dificulta a análise do "caminho do dinheiro".
O Coaf (Conselho do Controle de Atividades Financeiras) afirmou à PF que Erika se declarou sócia das empresas e recebeu R$ 28,9 mil por mês para ser "inspetora de qualidade". Antes das empresas, o maior salário da esposa de Rivaldo girava em torno de R$ 4.830, quando ela trabalhava para a Prefeitura do Rio. Erika é advogada.
Segundo relato [do miliciano], a DH [Divisão de Homicídios] teria recebido de pessoa ligada ao contraventor Rogério de Andrade cerca de R$ 300 mil para não "perturbar" os prováveis envolvidos na execução de Pereira.
Trecho do relatório da PF
O UOL tenta contato com Erika, porém ainda não obteve retorno. O espaço será atualizado assim que houver uma manifestação.
Movimentações somam mais de R$ 6,5 milhões
A análise bancária feita pelos agentes apontou que de janeiro de 2015 a dezembro de 2019, Erika movimentou mais de R$ 6,5 milhões. Desse valor, R$ 3,3 milhões foram em operações de crédito — parte para a empresa Mais I Consultoria Empresarial e para Armis Consultoria, ambas dela e do marido.
As operações em débito foram ao todo R$ 3,2 milhões. "Entre os beneficiários identificados, os principais fazem parte de seu núcleo familiar", afirma a PF. Desse montante, R$ 313 mil foram para Rivaldo, por exemplo.
Rivaldo e sua esposa Erika, pessoa sem qualquer qualificação para realizar as atividades das empresas constituídas, realizavam, em pleno 2016 e anos seguintes, grande parte de suas transações em espécie.
Trecho do relatório
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Quero receberOrganização criminosa
Segundo a PF, Rivaldo "constituiu uma verdadeira organização criminosa nas entranhas" da instituição. A investigação afirma que o delegado era o "líder e agente cooptador das demandas espúrias do grupo", mas contava com ao menos outros três apoios — entre eles, de sua esposa.
Foi Rivaldo quem garantiu a impunidade do crime, segundo Ronnie Lessa, que executou os tiros contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes. As declarações de Lessa foram feitas em delação premiada à PF.
Utilizando-se da estrutura estatal e tergiversando a benefício da horda as atribuições constitucionais e legais de seu cargo, circundam indícios da prática dos crimes de corrupção passiva, obstrução de investigação envolvendo organização criminosa, tráfico de influência, fraude processual, coação no curso do processo, abuso de autoridade, entre outros.
Relatório da Polícia Federal
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