Caso Marielle: Curicica diz que vendeu carro para pagar propina a delegado
O miliciano Orlando Curicica disse, em um depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que vendeu um carro para pagar R$ 18 mil ao delegado Rivaldo Barbosa e livrar a esposa de um crime por arma de fogo. Rivaldo foi um dos presos no domingo (24), suspeito de envolvimento na morte de Marielle Franco.
O que aconteceu
Rivaldo e equipe teriam pedido R$ 20 mil ao ex-policial militar, mas ele conseguiu R$ 18 mil vendendo o carro, modelo Palio. A informação consta em vídeo do depoimento divulgado pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (27). "Houve uma busca e apreensão na minha casa e foi achada uma pistola, só que eu não estava em casa. E eles fizeram contato comigo dizendo que iam botar a responsabilidade da arma na minha mulher", declarou Curicica.
Curicica disse que o pagamento foi feito enquanto a esposa prestava depoimento. "Ele nunca mais mexeu no inquérito. O inquérito é de 2013 e está no sistema até hoje, sem solução", acrescentou.
O depoimento, segundo o jornal, faz parte de um PIC (Procedimento Investigatório Criminal) aberto pelo MP do RJ em 2018 para apurar corrupção na Delegacia de Homicídios. Um trecho do relato também aparece no relatório da PF (Polícia Federal) que culminou na prisão de Rivaldo e dos irmãos Brazão.
O miliciano também disse que existia "um sistema de pagamento mensal realizado pelas milícias às delegacias". A Divisão de Homicídios, então chefiada por Rivaldo, receberia cerca de R$ 60 mil a R$ 80 mil por mês.
O UOL tenta contato com a defesa de Rivaldo Barbosa. Caso haja resposta, o texto será atualizado.
'Organização criminosa'
A PF afirmou que Rivaldo Barbosa "constituiu uma verdadeira organização criminosa nas entranhas" da instituição.
Divisão de Homicídio no Rio "se tornou um ambiente pernicioso para que organizações criminosas encontrassem ali um refúgio para a impunidade de seus crimes", diz relatório da PF. Rivaldo assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O relatório também diz que Rivaldo era o "líder e agente cooptador das demandas espúrias do grupo", mas contava com ao menos outros três apoios. Sua esposa, Érika Araújo, era responsável pela parte financeira e "branqueamento de capitais". O ex-titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages, seria o "operacionalizador" e o policial Marco Antônio Barros era o "agente de campo e intermediário com as pessoas de interesse e testemunhas."
Delegado indicou falso suspeito para despistar verdadeiros mandantes. Nos primeiros meses da investigação do caso Marielle, Rivaldo pediu que Giniton interrogasse o então policial Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha. O ex-PM seria apresentado como testemunha para incriminar vereador Marcello Siciliano.
Falsa testemunha paga por Brazão. Um inquérito da PF, entretanto, encontrou indícios que um funcionário de Domingos teria pago para Ferreirinha culpar o vereador e o miliciano Orlando Curicica.
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