Lessa diz que só soube que havia matado motorista de Marielle após fugir
O ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou à polícia em delação premiada que não sabia que havia matado o motorista Anderson Gomes, que dirigia o carro de Marielle Franco (PSOL) no dia do crime.
O que aconteceu
Lessa afirmou que só ficou sabendo da morte de Anderson em um bar. Ele e o ex-PM Élcio de Queiroz fugiram do local do crime e foram beber na Barra da Tijuca.
"O garçom mostrou as fotos pra gente. Aí que descobrimos que tinha mais uma pessoa morta", disse na delação. "A ficha nem caiu direito", continuou.
Segundo Lessa, "a coisa ficou tensa" depois que descobriram a morte de Anderson. Além do motorista, a jornalista Fernanda Chaves também estava no carro. Ela era assessora de Marielle e sobreviveu ao ataque.
Na mesma noite, Lessa diz que se encontrou com o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que hoje está preso. "Pedi ajuda para destruir o carro no dia seguinte. Pedi para me levar até o Orelha, o que foi feito."
Lessa também contou que já tinha "perdido a oportunidade" de matar Marielle em um bar no bairro Praça da Bandeira, no Rio. "O Macalé [ex-PM, morto em 2021] não chegou a tempo. Ela estava sentada no bar, não sei como o Macalé soube disso, mas alguém que estava seguindo ela, provavelmente o Laerte, falou".
Lessa está preso desde 2019. Atualmente, o ex-PM está na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS). A arma usada no crime nunca foi encontrada.
Proposta milionária para matar Marielle envolveu criação de milícia
Lessa afirmou que receberia US$ 10 milhões pelo assassinato, além de passar a ter o comando da milícia. Segundo ele, a exploração do negócio criminoso renderia mais de US$ 20 milhões. A declaração foi feita em delação premiada.
Lessa, que admitiu ter matado a vereadora, contou que ficou impactado com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Segundo o ex-PM, os lotes foram oferecidos a ele e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé. "Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (...) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente."
Lessa não citou quando o empreendimento teria início, mas disse que seria um dos donos. "A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de 'gatonet', a exploração de kombis, venda de gás... A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto."
Na delação, Lessa confessou o crime e contou que faria parte de uma "sociedade" com os Brazão. "Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade". Os planos de implantação da nova milícia se dariam no loteamento oferecido em Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
Segundo Lessa, Marielle era considerada "uma pedra no caminho". "Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho."
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Quero receberLessa disse que se reuniu com os mentores do crime três vezes, duas antes do assassinato e uma depois. "O Domingos fala mais e o Chiquinho concorda. E o local escuro, propício ao encontro. Um encontro secreto porque a situação pedia uma coisa dessa, isso seria muito mais inteligente do que sentar numa churrascaria". A PF registrou no relatório da investigação não ter encontrado provas desses encontros que, segundo Lessa, se deram em uma rua da Barra da Tijuca (zona oeste).
O atirador também citou o delegado Rivaldo Barbosa como um dos autores intelectuais do crime. Também preso, Barbosa foi apontado como "peça-chave" na consumação dos homicídios de Marielle e Anderson Gomes. Segundo Lessa, o delegado teria cuidado para que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime.
Delegado assumiu chefia da Polícia Civil do Rio um dia antes do assassinato de Marielle. O relatório da PF apontou que Rivaldo teria recebido R$ 400 mil para atrapalhar as investigações do caso.
Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão teriam avisado Barbosa sobre o plano de mandar matar Marielle. Segundo a denúncia da PGR, o delegado usou seu cargo de chefe de Polícia Civil "para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes".
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