Promotor diz que empresário morto em aeroporto era arquivo vivo contra PCC

O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, morto a tiros no aeroporto de Guarulhos na sexta-feira (8), foi descrito pelo Ministério Público de São Paulo como "um arquivo vivo" contra a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

O que aconteceu

O promotor do MPSP, Lincoln Gakiya, explicou que a delação do empresário foi aceita pela estreita relação que ele mantinha com o PCC. "Ele era uma pessoa que conviveu com líderes do PCC, ele sabia exatamente onde o crime organizado, sobretudo o PCC, estava lavando dinheiro. Ele era um arquivo vivo, disso não tenho dúvida", declarou em entrevista ao Fantástico (TV Globo) neste domingo (10).

Gakiya ressaltou que Gritzbach enriqueceu por lavar dinheiro para o PCC, ação na qual ele era réu confesso. "Ele ajudou a lavar dinheiro para criminosos do PCC, na área de construção civil, onde ele era corretor e enriqueceu, oferecendo nomes de laranjas para que esses imóveis fossem colocados em nome de terceiros".

Empresário faria uma segunda delação em que implicaria agentes da Polícia Civil de São Paulo que, supostamente, têm relação com o PCC, conforme a promotoria. Uma semana antes de ser morto, Gritzbach chegou a fazer uma denúncia na Corregedoria da PCSP em que acusou policiais de terem levado uma caixa com relógios de luxo de sua casa, quando foi preso, dos quais cinco relógios não foram devolvidos. O empresário relatou que ao menos um desses relógios foi visto no braço de um policial em fotos publicadas nas redes sociais pelo agente. As fotos foram deletadas após a denúncia na Corregedoria.

Promotoria esclareceu que o teor desse depoimento de Gritzbach "ainda está em apuração por parte da Corregedoria". "O Ministério Público vai acompanhar e auxiliar no que for possível as investigações para que esse caso seja solucionado o mais rápido possível", completou Gakiya.

Como foi o crime

Gritzbach voltava de Maceió. O empresário deixou Alagoas rumo a São Paulo e desembarcou no aeroporto de Guarulhos após voltar de uma viagem com a namorada e o motorista particular dele na tarde de sexta-feira (8).

Suposto problema em um dos carros da escolta do empresário. A segurança era feita por quatro policiais militares contratados por Gritzbach e que foram afastados do serviço após o assassinato. Segundo a Polícia Civil, o Volkswagen Amarok apresentou uma falha e foi deixado em um posto de combustível sem acessar a área de desembarque. A investigação irá apurar se houve mesmo falha mecânica ou se episódio pode estar relacionado com o crime.

Filho e amigo de Gritzbach foram levados do local pelos seguranças particulares do empresário. Eles chegaram ao terminal 2 no veículo Trailblazer, o outro veículo da escolta.

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Assim que deixou o saguão do aeroporto, o empresário foi assassinado por dois homens encapuzados com fuzis. Os atiradores entraram em um Gol preto e fugiram do local. Gritzbach foi atingido por dez tiros.

As imagens mostram, no meio do tiroteio, passageiros correndo com suas malas e funcionários tentando escapar.

Namorada do empresário deixou o local antes da chegada da polícia. Ela foi embora com um dos PMs que integrava a escolta do empresário, foi ouvida pelas autoridades e teve o celular apreendido.

O veículo que teria sido no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto ainda na sexta-feira (8). Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.

PMs que faziam a escolta do empresário morto prestaram depoimento e tiveram os seus celulares apreendidos. Os agentes foram identificados como Leandro Ortiz, 39, Adolfo Oliveira Chagas, 34, Jefferson Silva Marques de Sousa, 29, e Romarks César Ferreira de Lima, 35. Eles não foram localizados para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

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A polícia investiga se a vítima foi assassinada a mando do PCC. Mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.

Vítima era pivô de guerra no PCC

Ameaçado pelo PCC já havia escapado de um atentado no Natal de 2023. O ataque ocorreu no prédio onde ele morava no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista. Na ocasião, um atirador disparou quando Gritzbach se aproximou da janela para fazer uma filmagem com o celular. Ninguém se feriu. O empresário passava o Natal com o pai, filhos e tios.

Empresário morto e policial penal David Moreira da Silva, 38, foram acusados pelo MP pelos assassinatos de dois membros do PCC. Segundo investigações, Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, havia entregue R$ 40 milhões ao empresário para que investisse em criptomoedas, mas o dinheiro não foi devolvido.

Cara Preta então passou a exigir a prestação de contas e a devolução do dinheiro. Ele e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, foram mortos em dezembro de 2021. Noé Alves Shaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado no mês seguinte.

Segundo o MP, Cara Preta era um integrante influente do PCC e envolvido com o tráfico internacional de drogas. Já Sem Sangue era o motorista e braço direito dele. O empresário e o policial penal sempre negaram envolvimento nos assassinatos.

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Denunciado pela Justiça, Gritzbach chegou a ficar preso pelos assassinatos, mas respondia ao processo em liberdade. Ele deixou a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) em junho de 2023, usando tornozeleira eletrônica. Na época em que esteve preso, o advogado do empresário dizia que ele poderia ser assassinado na prisão por integrantes da facção criminosa.

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