Assassinato de juiz, roubo ao BC: relembre crimes com participação do PCC

O ataque no aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro foi mais um episódio de violência em que o envolvimento do PCC é investigado. A polícia apura se Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, foi assassinado a mando da facção, mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que ele havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.

A facção criminosa surgiu em uma penitenciária em Taubaté (SP) em 1993 e tem um histórico de ações violentas pelo país. Relembre alguns casos.

2003: ataque contra juiz

Foi o primeiro caso de execução de uma autoridade do Poder Judiciário pelo crime organizado no Brasil. O carro do juiz Antônio José Machado Dias foi abordado por outros dois veículos a cerca de 300 metros de distância do Fórum de Presidente Prudente (SP) no dia 14 de março.

Ele era responsável por cuidar dos processos de execução criminal dos chefes do PCC. À época, esses criminosos estavam recolhidos em penitenciárias na região oeste do estado. Os criminosos seguiram o juiz por algum tempo e escolheram a data, uma sexta-feira, para pôr o plano em prática, pois sabiam que neste dia o juiz dispensava a escolta policial porque ia direto para casa.

Por volta das 18h daquele dia, o Vectra de Machado foi interceptado por um Uno nas imediações do fórum. Um dos criminosos desceu armado de pistola 9mm, atirou e matou o magistrado.

Tempos depois, a Polícia Civil identificou e prendeu os acusados de envolvimento no crime. Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal, foi condenado a 66 anos de prisão; Adilson Daghia, o Ferrugem a 52 anos; Ronaldo Dias, o Chocolate, a 47 anos; e João Carlos Rangel Luíse, o Jonny, a 18 anos. A pena para Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC, e Júlio César Guedes de Moraes, o Carambola, foi de 29 anos cada.

Para a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo Ivana David, uma das primeiras a investigar o PCC, a ação foi simbólica. "A morte do Machadinho foi uma determinação do irmão do Marcola e foi uma posição de enfrentamento contra o Estado", afirmou em entrevista ao UOL em novembro.

Fontes policiais afirmam que o PCC paga uma espécie de "pensão vitalícia" para os assassinos do juiz. A informação foi publicada pelo colunista do UOL Josmar Jozino em 2021. Defensores dos réus afirmaram à época que os clientes jamais integraram a facção e que nunca receberam "mesada" da facção criminosa. Marcola e Julinho Carambola também alegaram em depoimentos judiciais que não são do crime organizado e que não foram mandantes da morte do magistrado.

2005: roubo ao Banco Central

O edifício do Banco Central (à dir.) e em destaque o local onde foi cavado o túnel que possibilitou o roubo
O edifício do Banco Central (à dir.) e em destaque o local onde foi cavado o túnel que possibilitou o roubo Imagem: Jarbas Oliveira/Folhapress
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Ocorrido em Fortaleza, em agosto, foi um dos maiores assaltos já registrados no Brasil. Os números impressionam não só pela quantia roubada —R$ 164,8 milhões—, mas também pelo total de participantes do crime e do pós-assalto. O caso teve, ao todo, 133 pessoas denunciadas em 28 ações penais e virou filme em 2011.

Assaltantes orquestraram plano durante três meses. Para ter acesso ao cofre do Banco Central, a quadrilha decidiu alugar uma casa próxima à sede do prédio. De lá, eles cavaram um túnel de 80 metros que deu acesso ao cofre do banco. Para ter localização exata de onde estava o dinheiro, eles contaram com informações de um vigilante do prédio.

Cerca de R$ 50 milhões do total levado foram para os cofres do PCC, conforme a Polícia Federal. Segundo a corporação, parte do dinheiro financiou as rebeliões e os ataques comandados pelo PCC em São Paulo em 2006.

Embora o crime tenha ganhado notoriedade como "assalto ao Banco Central", a ação se tratou de um furto. Não houve contato, violência ou ameaça com nenhuma vítima.

2006: ataques em São Paulo

Ataques do PCC em 2006 aterrorizaram São Paulo
Ataques do PCC em 2006 aterrorizaram São Paulo Imagem: Rogério Cassimiro/Folhapress
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Entre os dias 12 e 20 de maio o PCC provocou terror em São Paulo. Os atentados paralisaram a capital, com decretação de toque de recolher e fechamento de escolas e comércios.

Eles ocorreram em represália ao isolamento de 765 presos da facção criminosa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). Ao todo, a facção organizou 79 rebeliões em presídios pelo estado e causou a morte de pelo menos 59 agentes de segurança nas ruas.

Em 2015, depoimento obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo mostrou que representantes do governo fizeram um acordo com Marcola para pôr fim aos ataques. Segundo o delegado José Luiz Ramos Cavalcanti, a reunião ocorreu dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (SP). Tendo a advogada Iracema Vasciaveo como intermediária, Marcola aceitou falar com chefes da organização criminosa que coordenavam os ataques, dizendo que estava bem, não havia sido torturado por policiais e que os presos amotinados tampouco seriam agredidos.

O governo paulista sempre negou o acordo com o PCC. A administração estadual admitiu apenas que a conversa com Marcola foi uma condição para a rendição da facção.

2018: assassinato de Gegê do Mangue

Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, assassinado a mando de Marcola em fevereiro de 2018
Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, assassinado a mando de Marcola em fevereiro de 2018 Imagem: Reprodução
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Rogéiro Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, era chefe do PCC fora dos presídios. Ele foi assassinado aos 41 anos, em 15 de fevereiro. Ao seu lado também foi assassinado o parceiro Fabiano Alves de Souza, o Paca. O duplo homicídio gerou uma guerra interna no PCC.

Ele teria sido castigado pelo própria facção. Considerado o número um do PCC em liberdade, ele foi penalizado por não cumprir o que prometeu e desviar dinheiro do grupo.

[Gegê do Mangue] Teria prometido, no momento de sua liberdade, que iria resgatar Marcola, com quem possuía uma imensa dívida de gratidão. Teria dito que Marcola não precisava fazer nada relacionado ao plano, pois toda a execução seria feita por ele. Porém, não o fez, e aproveitando-se do fato de ser a principal liderança em liberdade, voltou todos os seus esforços para o tráfico de drogas em benefício próprio, porém, utilizando a estrutura da facção.
Relatório sigiloso do Núcleo Regional de Inteligência e Segurança Penitenciária da Croeste, obtido pelo UOL em 2019

A ordem para matá-lo veio de um dos principais traficantes brasileiros. Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, era associado ao PCC, próximo de Marcola.

Fuminho teria percebido que Gegê não tinha interesse algum na liberdade de Marcola, pois, uma vez resgatado, Gegê passaria a ser um coadjuvante na facção e Marcola descobriria as diversas irregularidades praticadas por ele.
Trecho do relatório sigiloso

2018: assassinato na frente de hotel em SP

Wagner Ferreira da Silva, 32, conhecido como Cabelo Duro, foi atingido por tiros de fuzil disparados em 23 de fevereiro. Principal nome do PCC na Baixada Santista, litoral de São Paulo, ele estava em frente a um hotel na Vila Regente Feijó, zona leste da capital paulista.

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Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro
Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Silva participou do assassinato de Gegê e Paca uma semana antes de ser morto, segundo a Polícia Civil do Ceará e o Ministério Público paulista. Ele seria "afilhado" dentro de Gegê dentro da facção.

*Com informações de reportagens publicadas em 05/08/2015, 28/07/2019