Boulos foi "generoso" com Lula, mas não é petista no PSOL, diz Erundina
A cidade de São Paulo terá em novembro sua décima eleição municipal desde a redemocratização. Um nome é constante nessas disputas: o da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), que participará de seu sétimo pleito.
Desta vez, ela será vice na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL), líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que ganhou mais evidência nos últimos anos por criticar as ações da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por essa razão, Boulos é visto por alguns como um petista dentro do PSOL. Ele se filiou ao partido em 2018, ano em que a Lava Jato levou Lula para a prisão. Erundina não concorda com essa tese. "Isso é, a meu ver, um meio de atacá-lo, de tentar indispô-lo com o PSOL", disse em entrevista ao UOL na última segunda-feira (14). "Ele ganhou com uma margem enorme a prévia [para ser candidato a prefeito]. E o partido está unificado em torno da candidatura dele. Eu não o reconheço como petista, não."
Ele foi generoso com o Lula. Seu movimento foi o que mais esteve na frente de resistência e de denúncia ao que fizeram ao Lula, mais do que qualquer petista. Isso é verdade.
Luiza Erundina (PSOL), candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL)
Erundina vê Boulos como alguém que "não tem uma raiz, um vínculo direto com qualquer partido". "É a compreensão dele. Onde houver uma luta contra algo injusto contra quem quer que seja, tem que estar junto, denunciando, combatendo, enfrentando. É a forma de ele fazer política. E é muito espírito de quem milita em movimento", disse. "O movimento nos coloca em uma atitude mais ampla do que o partido."
Lamento
A deputada é uma opositora ferrenha ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem qualifica como "genocida" e "fascista". Diz lamentar que não haja neste momento uma aliança mais ampla com partidos que sejam mais próximos ao PSOL. O partido conseguiu se coligar apenas a PCB e UP.
O PT e o PCdoB terão candidatos próprios. Já o PDT aliou-se ao PSB de Márcio França. "O ideal seria que no primeiro turno essas forças já estivessem juntas contra o retrocesso, contra o genocídio", disse.
Se for um governo ativo, competente e realizador, ele vai influenciar no cenário nacional, na conjuntura nacional e, consequentemente, nas eleições. Por isso acho que é de se lamentar o fato de essas forças não estarem juntas.
Luiza Erundina (PSOL), candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL)
Visão "estreita"
Ao falar sobre a busca pela unidade, há uma crítica a uma frase do presidente estadual do PT, Luiz Marinho, que, em julho, disse "desconhecer que rabo balança cachorro" ao afastar a possibilidade de apoio do PT a uma candidatura de Boulos já em 15 de novembro.
"Isso é uma estreiteza, uma falta de visão política mais generosa, que é lamentável isso em um dirigente partidário", avaliou Erundina. Alas petistas, porém, têm se mostrado mais simpáticas à candidatura de Boulos do que à de Jilmar Tatto (PT).
Erundina reconhece que o PT é um partido maior "do ponto de vista quantitativo" —"tem a maior bancada na Câmara"—, mas "não é mais o PT programático, de esquerda, de 1988", lembrando do ano em que foi eleita prefeita de São Paulo, quando estava no PT. "Não sei se mantém o mesmo apelo que despertava nas pessoas há 30 anos."
"PSOL é a força da esquerda"
Na comparação com 1988, ela diz que "o PSOL não é mais só o patinho feio, não". "O PSOL é mais do que era o PT em 1988 do ponto de vista do seu protagonismo, dos quadros que o partido têm, a militância aguerrida, espalhada pela cidade", disse. "Agora, esse jogo é surpreendente. Mas, pela movimentação que está gerando nossa pré-campanha, eu nunca vi igual em todas as que eu já participei."
Se a gente pensa que a polarização deve se dar entre as forças de direita e as forças de esquerda, o PSOL é a força de esquerda, no momento.
Luiza Erundina (PSOL), candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL)
Segundo turno não é "absurdo"
Antes de 1988, Erundina foi vice na candidatura de Eduardo Suplicy (PT), hoje vereador na capital, em 1985. Depois de 1988, ela tentou voltar à prefeitura em outras quatro oportunidades: 1996, 2000, 2004 e 2016. Nesse período, ela trocou PT por PSB, e o PSB pelo PSOL, onde está há quatro anos.
Mas, desta vez, ela acha que há, sim, uma possibilidade de vitória. "É impressionante. Nesse estágio da vida, a gente já brigou por tantas que não dá para fantasiar. Então, nesse sentido, eu entendo que temos possibilidade", disse a deputada, que tem 85 anos de idade, 47 a mais que Boulos. "Vejo que a hipótese de irmos para o segundo turno não é absurda, não."
Sobre a campanha de hoje e a de 1988, Erundina vê semelhanças por acreditar com um momento de indignação com a política, como acontecia com os governos do MDB há 30 anos, no período de transição da ditadura militar para a democracia.
"Ter chegado lá foi a força do povo, que quis mudança, e apostou nessa mudança", disse, comparando com a conjuntura atual. "É um momento muito triste da vida política do país, da vida social. Nós estamos em crise há cinco anos praticamente. Com tudo isso, certamente os eleitores vão dar uma resposta nas urnas."
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