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Candidatos alinhados a Bolsonaro usam R$ 17 milhões de fundo para eleições

5.out.2020 - Celso Russomanno (Republicanos) com o presidente Jair Bolsonaro no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo - RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
5.out.2020 - Celso Russomanno (Republicanos) com o presidente Jair Bolsonaro no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo Imagem: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

06/11/2020 04h00

Os candidatos alinhados ao bolsonarismo, apoiados diretamente ou não pelo presidente, registraram em suas receitas para as eleições deste ano mais de R$ 17 milhões provenientes do fundo especial para financiar campanhas. Há uma parcela ínfima desse valor que foi repassada por meio do fundo partidário. A pauta é delicada para Jair Bolsonaro (sem partido), que historicamente é contrário ao "fundão".

À época, Bolsonaro emplacou a campanha "não vote em quem usa o fundão". Os dados sobre o uso do fundo eleitoral pelos candidatos constam nas receitas dos candidatos divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em janeiro, Bolsonaro relutou a sancionar o orçamento deste ano que continha previsão de R$ 2 bilhões em recursos públicos para o fundo especial que financia as campanhas. Ele indicou que vetaria o fundo, mas depois voltou atrás e afirmou que correria risco de impeachment se não o sancionasse. À época, disse que que o Aliança pelo Brasil, sigla que apoia e que nunca saiu do papel, não usaria verba do fundo.

A situação agora é diferente. Candidatos apoiados diretamente por Bolsonaro, como os republicanos Marcelo Crivella e Celso Russomanno, usaram mais de R$ 2 milhões do fundo.

Seu filho Carlos, para quem pediu votos em sua última live semanal, recebeu R$ 22 mil da campanha de Crivella angariados a partir do fundo especial de campanha. Carlos tenta se reeleger como vereador no Rio.

Já entre os candidatos para prefeito alinhados a Bolsonaro que receberam verba pública, figuram no topo da tabela os pesselistas Carlos Andrade Lima (R$ 4,2 milhões), que disputa eleição no Recife, e Luiz Lima (R$ 3,4 milhões), que tenta cargo no Rio. Lima tem missão mais difícil, já que disputa com Crivella o eleitorado bolsonarista. Ambos não têm apoio direto do presidente, embora tentem colar suas imagens ao do capitão reformado.

As verbas refletem a pujança do partido utilizado por Bolsonaro para se eleger. Nanico até 2018, o PSL elegeu 52 deputados naquela eleição e hoje tem quase R$ 200 milhões do fundo especial à disposição para o pleito municipal.

O alto volume de recursos aplicado às campanhas de Luiz Lima e Carlos são inversamente proporcionais aos seus desempenhos. Os dois têm chances mínimas de eleição; Carlos está com 1% das intenções e Luiz Lima tem 4% das intenções, conforme pesquisas do Ibope divulgadas no final de outubro. Os dois seguem a toada de candidatos que tentam surfar na onda bolsonarista, mas até o momento têm desempenho ruim nas pesquisas.

As exceções ficam para Aracaju e Cuiabá, onde os candidatos bolsonaristas têm registrado bom desempenho. Na capital sergipana, Rodrigo Valadares, um dos que mais receberam do "fundão", está em terceiro, com 10% das intenções. Em Cuiabá, Abílio (Podemos) lidera a corrida, com 26% das intenções de voto, segundo números do Ibope.

Outra candidata citada diretamente pelo presidente foi Sonaira Fernandes (Republicanos), que se apresenta como a "vereadora do Bolsonaro". Ela ocupou cargo de secretária parlamentar de Eduardo Bolsonaro e tem santinhos e vídeos gravados com o presidente e o "zero três". A candidata registrou que recebeu pouco mais de R$ 6.000 do fundo especial para adesivos e santinhos.

Candidato à Prefeitura de Santos, o desembargador aposentado e ex-presidente do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) Ivan Sartori ganhou apoio de Bolsonaro na última semana.

Ele ficou conhecido por ter votado pela anulação de júris populares que condenaram 74 policiais militares pela participação no massacre do Carandiru, que deixou 111 presos mortos. Ele também pediu absolvição dos policiais envolvidos nos assassinatos, mas foi voto vencido.

Agora postulante à prefeitura, Sartori recebeu R$ 624.250 do fundo especial do PSD, partido pelo qual concorre e é alinhado ao "centrão", bloco fisiológico de partidos que hoje apoia Bolsonaro. "Desembargador que tem bastante coragem e determinação", disse Bolsonaro em transmissão ao vivo na última quinta (29).

Além do PSL, partidos do "centrão" dominam a lista de candidatos bolsonaristas que utilizaram o fundo público para financiar campanhas. PTB, Podemos, Pros, PL e Patriota integram este núcleo.

Candidatos alinhados a Bolsonaro que receberam do "fundão":

  • Carlos (PSL-PE) - R$ 4.200.000
  • Luiz Lima (PSL-RJ) - R$ 3.400.000
  • Crivella (Republicanos-RJ) - R$ 1.936.710,96
  • Rodrigo Valadares (PTB-SE) - R$ 1.847.000
  • Celso Russomanno (Republicanos-SP) - R$ 870.443,81
  • Gustavo Paim (PP-RS) - R$ 804.292
  • Samuel Almeida (Pros-GO) - R$ 730.000
  • Georlize (DEM-SE) - R$ 722.500
  • Ivan Sartori (PSD-SP) - R$ 624.250
  • Major Araújo (PSL-GO) - R$ 498.382,40
  • Sargento Eyder Brasil (PSL-RO) - R$ 437.914
  • Valter Nagelstein (PSD-RS) - R$ 403.000
  • Wallber Virgolino (Patriota-PB) - R$ 400.000
  • Julia Zanatta (PL-SC) - R$ 200.000,00
  • Vavá Martins (Republicanos-PA) - R$ 196.505
  • Abílio Junior (Podemos-MT) - R$ 80.000
  • Paulo Marcio (DC-SE) - R$ 1.000