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Justiça manda retirar novo vídeo de investigado por fake news contra Boulos

Justiça Eleitoral mandou retirar novo vídeo com informações falsas contra Boulos - SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
Justiça Eleitoral mandou retirar novo vídeo com informações falsas contra Boulos Imagem: SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

13/11/2020 14h35Atualizada em 13/11/2020 19h50

A Justiça Eleitoral determinou hoje que o Google remova imediatamente um outro vídeo com informações falsas produzido pelo blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio contra Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo. A decisão acatou um pedido feito pelo psolista e prevê aplicação de multa diária em caso de descumprimento.

Eustáquio é um dos principais acusados no inquérito das fake news que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio.

Com efeito, o vídeo de autoria do jornalista e ora representado Oswaldo Eustáquio Filho e questionado por meio da presente ação, tem nítido conteúdo ofensivo à honra do candidato Boulos, como já, fundamentadamente, reconhecido na decisão proferida nos autos da representação precedente acima referidos."
Trecho da decisão do juiz eleitoral Emílio Migliano Neto

No vídeo, o blogueiro bolsonarista acusa novamente, sem provas, a campanha de Boulos de contratar empresa fantasmas. Na quarta-feira (11), o juiz eleitoral Emílio Migliano Neto havia determinado a retirada imediata de outro vídeo com a mesma acusação.

No despacho de hoje, Migliano Neto relembrou sua decisão da última quarta-feira e afirma que, na nova gravação, "o representado (Eustáquio), que se identificada como jornalista investigativo, reitera as gravíssimas imputações que já tiveram sua falsidade reconhecida por esta Justiça especializada".

No texto da decisão, o magistrado também determina que Eustáquio seja citado para, "em querendo, apresentar defesa no prazo legal".

Fake news usada por Russomanno

O primeiro vídeo com informações falsas foi utilizado pelo candidato Celso Russomanno (Republicanos) para desferir acusações contra Boulos. Ele foi divulgado no mesmo horário em que acontecia o debate UOL/Folha.

Depois da polêmica, Russomanno, que é conhecido por seu programa sobre direitos do consumidor, gravou um vídeo como na TV. Ele visitou os endereços das produtoras Kyrion Consultoria e a Filmes de Vagabundo. A primeira foi contratada pela campanha de Boulos por R$ 500 mil e a segunda por R$ 28 mil.

As duas produtoras são de uma diretora de cinema freelancer e de uma equipe que trabalha remotamente durante a pandemia de covid-19. Ambas estão registradas e foram declaradas nos gastos da campanha.

Segundo o UOL apurou, a Filmes de Vagabundo continua a prestar serviços normalmente. Em 2018, venceu um edital da SPCine para produzir um vídeo sobre bairros da cidade de São Paulo. A reportagem tentou entrar em contato com as duas produtoras, mas não teve sucesso até a última atualização. Se enviado, seu posicionamento será incluído aqui.

Até o momento, a campanha de Russomanno não esclareceu ao UOL se a acusação contra Boulos foi pautada no vídeo produzido por Oswaldo Eustáquio. A reportagem questionou há dias se o candidato tem conhecimento sobre a disseminação de notícias falsas por parte do blogueiro, mas não houve retorno. Se enviado, seu posicionamento será publicado.

Nova acusação no Debate da Cultura

Ontem, apesar da primeira decisão da Justiça Eleitoral sobre o tema, Russomanno insistiu na denúncia e divulgou um novo vídeo em que ele mesmo visita os endereços sob suspeita. À noite, na TV Cultura, repetiu a fake news.

Eu queria dizer que desqualificar a fonte não impede a irregularidade. É o mesmo que colocar a culpa no termômetro pela febre que a pessoa tem. O que os eleitores de São Paulo precisam saber, sem meias palavras, é como o candidato ostenta a soberba honestidade e usa empresas fantasmas para inventar despesas de campanha. Isso tem que ser explicado."
Celso Russomanno, a Guilherme Boulos, no debate da TV Cultura

Russomanno reiterou a acusação dizendo que foi até o local das empresas. "Sabe o que encontrei lá? Nada, absolutamente nada. São duas empresas fantasmas. Quem está representando contra o senhor por usar dinheiro público em empresas fantasmas não é o senhor não, sou eu. E o senhor vai responder por isso, tenha certeza, porque o senhor mente aqui descaradamente", acusou.

"A Justiça determinou ontem esse vídeo fosse retirado do ar justamente por ser mentira, e você traz isso aqui novamente?", devolveu Boulos. O candidato informou que entrou com uma ação criminal contra o adversário, que foi acolhida.

"Estamos pedindo a apreensão do seu celular, desse meliante com quem você se aliou, com pedido de bloqueio e abertura das suas contas bancárias e da dele para seber quem paga. Quem está pagando, Russomanno, por suas fake news em São Paulo? Vem do dinheiro público? Vou te dar uma oportunidade de responder isso", completou o psolista em seguida.

Olha, Russomanno, francamente, você quer repetir 2018. Quer fazer eleição marcada por fake news. Aqui não, em São Paulo não", rebateu Boulos. "Parece que, na reta final da eleição, o gabinete do ódio entrou em São Paulo. Eles querem repetir 2018: todo mundo se lembra, kit gay e toda aquelas mentiras que foram feitas. Isso mostra que, apesar de essa eleição ser municipal, ela tem um impacto nacional."
Guilherme Boulos, a Celso Russomanno, no debate da TV Cultura

Investigado no inquérito das fake news

Oswaldo Eustáquio é um militante bolsonarista que foi preso pela Polícia Federal em 26 de junho. Ele é um dos principais envolvidos no inquérito das fake news.

A PF alegou que o blogueiro estava utilizando táticas para não ser localizado e o prendeu para amenizar o risco de fuga.

Ele é investigado na Operação Lume, inquérito que apura financiamento, apoio e organização de atos antidemocráticos que defendem o retorno da Ditadura Militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

O blogueiro já apareceu em lives com o ex-deputado condenado no processo do "mensalão" Roberto Jefferson, quando o líder do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) defendeu que haveria uma tentativa de golpe contra Jair Bolsonaro (sem partido). Ele também foi assessor da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, durante o governo de transição.

O militante, também alvo da ação, é "figura carimbada no mundo da política", diz a petição apresentada à Justiça pelo PSOL. "É conhecido por trabalhar com a 'destruição de reputações' por encomenda", traz o texto, citando reportagem do site The Intercept.