Boulos: 'Democracia não é só governar com quem concorda com você'
Candidato a prefeito da cidade de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) falou hoje que pretende construir diálogo com a Câmara dos Vereadores e disse que quem governa com ódio é o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Primeiro vou construir diálogo. Quem governa com ódio, xingando presidente da Câmara e ministros é o Bolsonaro, não eu. Minha trajetória é de diálogo", disse em participação no UOL Entrevista, comandado pelos colunistas do UOL Diogo Schelp e Leonardo Sakamoto.
O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) afirmou que não irá "entregar subprefeitura e comando de secretarias em troca de votos na Câmara Municipal". Na Câmara paulistana, do total de 55 cadeiras, apenas 14 serão ocupadas por PT, PSOL e PSB somados.
Democracia não é só conversar com quem concorda com você. O que não vou aceitar é toma lá-dá cá.
Guilherme Boulos
Para isso, defendeu que é preciso promover melhorias nos canais institucionais de comunicação da população com o poder público.
"A [candidata a vice Luiza] Erundina, quando foi eleita, disse: 'Quero terminar meu governo com menos poder do que entrei'. Eu também."
Nenhum prefeito tem condições de governar sozinho. O prefeito precisa escutar as pessoas e precisa ter canais institucionais mais eficientes do que hoje."
Guilherme Boulos
No domingo (15), o psolista obteve 20,24% dos votos válidos, contra 32,85% do tucano.
Lula e Ciro na campanha de 2º turno
Para o segundo turno, Boulos disse que amanhã anunciará suas alianças.
Boulos já tem o apoio declarado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Carlos Lupi, presidente do PDT, Ciro Gomes e Antonio Neto, vice na chapa de França, também defendem o apoio ao candidato do PSOL contra o atual prefeito Bruno Covas.
"Tenho conversado com bastante gente de outros partidos. Meu esforço é construir uma frente que vai envolver lideranças políticas, partidos progressistas, movimentos sociais. Estamos fazendo a costura. Essa frente vai ser lançada amanhã", disse.
Uma diferença minha para o adversário é que não escondo apoio. Meus apoios são bem-vindos. Não adiantei porque quero expressar com todos os nomes que temos conversado se manifestando."
Guilherme Boulos sobre Bruno Covas
Boulos valorizou os apoios já declarados de Lula e Ciro e reforçou que quer representar um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao governador João Doria (PSDB) em São Paulo.
"Eles [Lula e Ciro] já se manifestaram publicamente. Já declararam apoio por entender que é um projeto de combate à desigualdade, que vai fazer de São Paulo uma cidade que preserva valores democráticos e de tolerância, em contraponto ao que o Bolsonaro representa no país e Doria no estado de São Paulo", afirmou o candidato do PSOL.
Após Jilmar Tatto (PT) ser derrotado no primeiro turno com 8,65% dos votos válidos, o ex-presidente Lula pediu hoje que "todos os eleitores e eleitoras que votam no PT" e são "progressistas" votem em Boulos por um "compromisso histórico".
Já no caso do PDT, a decisão final ficará a cargo de Márcio França (PSB), que terminou em terceiro lugar com 13,64% dos votos válidos no primeiro turno.
Eleitores de Russomanno
Na avaliação do líder do MTST, os eleitores que votaram em Celso Russomanno — derrotado no primeiro turno com 10,5% dos votos válidos — não são "ideologicamente de direita ou bolsonaristas". Para Boulos, o apresentador de TV ganhou votos daqueles que acompanhavam seu programa televisivo.
É um erro achar que quem votou no Russomanno são ideologicamente de direita ou bolsonaristas. São muitas vezes pessoas que tinham relacionamento com ele pelo programa de TV.
Guilherme Boulos sobre Russomanno
O candidato ainda comentou sobre suspeita levantada durante a apuração dos votos no primeiro turno, em que apoiadores do atual presidente falavam sobre fraude nas eleições do Brasil.
Nos últimos anos nada mais me espanta no Brasil. Tem gente que acredita que a terra é plana, que vacina faz mal, e que urna é fraudada quando perdem eleição."
Guilherme Boulos sobre o processo eleitoral
Na avaliação de Boulos, o tema está ligado ao universo das fake news "que marcaram a política nos últimos anos".
"A candidatura do Russomanno tenta requentar isso contra nós, atacando minha campanha. Como as urnas mostraram, não tiveram sucesso. Derrotamos o Bolsonaro no 1º turno e agora vamos derrotar o Dória", disse.
Mais tempo para ser conhecido
O candidato disse que acredita que sua onda de apoio popular deve crescer no segundo turno, já que deverá contar com mais tempo na televisão e em debates, e negou que seu bom desempenho no primeiro turno seja consequência do número de abstenção em São Paulo.
Boulos disse não ter contado com "nenhuma máquina" de impulso no primeiro turno.
"Tive 17 segundos [na televisão] e não tive apoio de nenhuma máquina. Nossa candidatura era considerada pouco competitiva", afirmou.
Para ele, sua chegada ao segundo turno não se deve apenas ao índice de abstenção na capital.
70% dos eleitores votaram pela mudança. Apenas 32% votaram pela continuidade do governo Doria/Covas. Agora que as condições serão iguais do ponto de vista da TV, vou saltar de 17 segundos para 5 minutos, mais debates, olho no olho. Tenho muita convicção que essa onda vai crescer e a gente vai chegar com força para crescer."
Guilherme Boulos sobre a campanha no segundo turno
'Não sou tucano que abandona Prefeitura'
Sobre Doria, Boulos disse que é um apoio "constrangedor", por isso Bruno Covas não mostrou o governador na campanha do 1º turno.
"Eu não escondo apoio. Não faço como o Bruno Covas, que está escondendo o João Doria. Entendo que seja constrangedor, mas não é possível enganar o eleitorado", afirmou.
O Bruno só é prefeito porque Doria abandonou a cidade, como tucanos fazem frequentemente. Usam São Paulo como trampolim político."
Guilherme Boulos sobre Bruno Covas
Em referência a Covas, que era vice de Doria e assumiu a prefeitura após a candidatura dele ao governo do estado, Boulos afirmou que não deixaria o mandato municipal "de jeito nenhum" para se candidatar nas próximas eleições presidenciais, em 2022. Ele foi candidato nas eleições de 2018. "Eu não sou tucano que abandona a Prefeitura [de São Paulo]."
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