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Crivella chama Paes de 'fujão' por ausência em debate e descarta lockdown

Igor Mello e Felipe Oliveira

Do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, em São Paulo

17/11/2020 22h08

Após Eduardo Paes (DEM) faltar ao debate da CNN Brasil —o primeiro entre os candidatos à Prefeitura do Rio no 2º turno—, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) chamou o adversário de "fujão" e o acusou de corrupção. Também negou que exista a possibilidade de um lockdown e diz não ver uma segunda onda do novo coronavírus na cidade.

Questionado sobre se voltaria a fechar o comércio ante o aumento de internações no país, Crivella rejeitou a possibilidade de novas medidas duras de isolamento, como ocorreu em março, e negou ter adotado um lockdown na cidade —o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que o apoia, há meses critica prefeitos e governadores que adotaram medidas de distanciamento social, mas sempre poupou o prefeito do Rio de ataques.

"Se isso ocorresse poderia se pensar nisso, mas não há a menor hipótese de ocorrer. Temos um hospital de campanha com 500 leitos e hoje eu tenho 400 vagas. Esses 500 leitos são 400 de enfermaria e cem de UTI, de forma que temos vaga para enfrentar qualquer tipo de onda", disse.

"Então não tenho no cenário do Rio de Janeiro nenhuma perspectiva de lockdown e coisa do tipo. Aliás, não adotei isso na primeira onda, aqui nunca fechamos indústria e serviços, fechamos apenas o comércio deixando abertas atividades essenciais."

Crivella ainda conclamou turistas a virem ao Rio no fim do ano, apesar do cancelamento dos festejos de Réveillon na cidade. "Gostaria de dizer que o Rio pode ser agora no próximo verão, com o dólar muito caro, um local seguro para as pessoas virem aqui e ter um entretenimento no verão", completou.

Em diversos momentos, Crivella atacou Paes por não ter ido ao debate —apesar de sua campanha ter concordado com a data, o democrata anunciou ontem (16) que não iria ao encontro. O ex-prefeito justificou a ausência com o curto período de 2º turno e muitos pedidos de debates. A emissora então decidiu entrevistar Crivella, fazendo as seis perguntas que ambos os candidatos responderiam.

"Eu gostaria muito que ele estivesse aqui, para não só responder as perguntas, mas também responder questionamentos que estão no coração do nosso povo. Sobretudo a questão dele ter feito o governo, digo isso com muita tristeza, mais corrupto da história", atacou Crivella em sua primeira resposta.

Ao se despedir, voltou a criticar Paes pela ausência. "Quero agradecer a você, sua simpatia, os telespectadores e lamentar profundamente que o candidato fujão do Eduardo Paes não tenha vindo ao debate".

Crivella diz que "QG da Propina" é fofoca

Crivella atacou Paes por ser alvo de investigações, mas disse que o chamado "QG da Propina" é fofoca. Investigação o MP-RJ (Ministério Público do Rio) diz que, na gestão Crivella, empresários com débitos a receber da prefeitura pagaram vantagens indevidas a servidores para que esses pagamentos fossem priorizados.

Ele também foi confrontado com as investigações sobre esquemas de corrupção supostamente comandados por ele e pelo adversário em suas gestões.

Paes é alvo de delações de executivos de empreiteiras na Operação Lava Jato e se tornou réu sob a acusação de ter recebido R$ 10 milhões em caixa 2 da Odebrecht, na campanha de 2012. Já Crivella é investigado pelo MP-RJ por supostamente ter montado um esquema de corrupção em mais de 20 órgãos municipais, conhecido como QG da Propina.

Crivella procurou diferenciar as denúncias, reafirmando as acusações contra Paes e descreditando as alegações contra si próprio. "É como comparar um conta-gotas com tromba de elefante", ironizou.

Crivella ainda atribuiu as denúncias à Rede Globo, apesar de as informações serem oriundas de uma investigação conduzida pelo MP-RJ.

"A Rede Globo, inimiga jurada do meu governo, faz uma notícia que tem um QG de propina na prefeitura. O que ela tem contra mim? Ligações de um rapaz chamado Rafael Alves, que nunca foi meu funcionário, com outro rapaz chamado Marcelo, nunca foram funcionários da prefeitura, dizendo que queriam nomear pessoas, adiantar pagamentos de empresa, nunca aconteceu."

"Eles reclamam, brigam comigo, então abre-se um processo do MP, sofro uma busca e apreensão e aí quero saber quais as provas contra mim. Tiram o sigilo e o que aconteceu? Mera fofoca. Onde estão os doleiros, empreiteiros para me denunciar?", disse Crivella.

Contudo, a investigação foi aberta justamente a partir da delação premiada do doleiro Sergio Mirzahy.

Os personagens citados na resposta também são próximos de Crivella. Marcelo Faulhaber foi o marqueteiro de sua campanha em 2016, enquanto Rafael Alves é um empresário próximo ao partido de Crivella e indicou o irmão, Marcelo Alves, para presidir a Riotur, empresa pública de turismo da cidade.

O MP-RJ encontrou fortes indícios de que atos assinados diretamente por Crivella fizeram com que empresas indicadas por Rafael Alves fossem beneficiadas com pagamentos de restos a pagar— dívidas feitas pela prefeitura em anos anteriores.

Em setembro, o UOL revelou que mensagens apreendidas nos telefones de Rafael Alves mostram que ele, em diversos momentos, se apresentou como principal financiador da campanha de Crivella em 2016, embora não tenha feito nenhuma doação formal --o que é um indício de caixa 2.