Boulos perde prefeitura para Covas, mas desempenho tem "gosto de vitória"
O candidato do PSOL a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, perdeu a disputa para Bruno Covas (PSDB), reeleito hoje. Mas a sensação entre membros da campanha e no partido é de uma derrota com gosto de vitória. E esse sentimento vem desde a reta final do primeiro turno.
Boulos conseguiu o melhor resultado no PSOL desde que o partido começou a disputar eleições para a Prefeitura de São Paulo. Nas três primeiras, o partido sempre ficou longe de conseguir passar para o segundo turno.
Olhando os desempenhos em 2008, 2012 e 2016, as candidaturas do PSOL somaram cerca de 289 mil votos. Neste ano, sozinho, Boulos praticamente multiplicou por quatro esse número e chegou perto de 1,1 milhão de votos no primeiro turno. Além disso, o resultado de Boulos ajudou o PSOL a triplicar sua presença na Câmara Municipal: de dois para seis vereadores, outro recorde.
Na reta final da campanha do segundo turno, o candidato foi diagnosticado com covid-19, o que ocasionou o cancelamento do debate com adversário Bruno Covas que seria realizado pela TV Globo. Em isolamento desde sexta-feira (27), Boulos também não foi votar nem teve agendas externas desde então.
Uma nova liderança
O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, diz que o processo eleitoral na capital paulista consolidou Boulos "como a principal liderança da esquerda em São Paulo".
Como comparação, o PT, principal partido da esquerda no Brasil, teve dificuldades para dar impulso à candidatura de Jilmar Tatto, que teve o pior resultado de um petista na história das eleições municipais paulistanas.
Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, "o PSOL era um partido menor à esquerda". "Disputava [eleições] para fixar sua marca, seu nome. Mas era uma espécie de apêndice do PT porque o PT tinha um hegemonismo enorme no campo da esquerda."
Novo cenário
O jogo na esquerda fica diferente, segundo Melo. "Agora o PSOL pretende ser protagonista. Se será ou não, é outra história", disse. "Pelo menos, quando se sentar na mesa de negociação da esquerda, terá um cacife muito maior com que negociar. Terá uma liderança nacional estabelecida, que é o Guilherme Boulos."
Aliás, para Medeiros, o desempenho de Boulos fortalece o projeto do PSOL para o futuro: reorganizar a esquerda. Ele quer a "esquerda social com a esquerda partidária pós-petista". "O que está em debate hoje na esquerda é qual a força, qual é a estratégia que vai hegemonizar a esquerda no próximo ciclo político", disse.
"Há setores que ainda acham que a estratégia é fazer um grande acordo com a centro-direita", comentou Medeiros. Os acordos foram uma das características dos governos do PT na Presidência da República. "Nós não achamos isso. Achamos que é importante viabilizar um programa de transformações estruturais que a velha direita no Brasil nunca aceitou e nunca aceitará."
Uma campanha vitoriosa como essa impulsiona, faz avançar esse projeto de reorganização da esquerda e uma estratégia de enfrentamento e de crítica às desigualdades e às elites no Brasil
Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL
Medeiros também vê que a candidatura de Boulos deu novo fôlego à esquerda, combalida desde as denúncias de corrupção envolvendo governos do PT no mensalão e na Operação Lava Jato, durante as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) no Planalto. A situação permitiu, em 2016 e 2018, o avanço da direita, simbolizada pela vitória de Jair Bolsonaro (sem partido) na última eleição presidencial.
"Ele [Boulos] não tem vergonha de ser de esquerda, de assumir os valores de esquerda, de igualdade social", disse. "São os valores que a gente quer no mundo." No segundo turno, inclusive, Boulos mostrou um depoimento de Lula dando apoio à sua candidatura, mesmo com o petista não sendo um bom cabo eleitoral, segundo o Datafolha.
Mensagem repassada
Para o infectologista Marcos Boulos, pai do candidato do PSOL, seu filho sai fortalecido da disputa e com o objetivo cumprido. "Ele não só vai sair dessa eleição com uma taxa de conhecimento maior, mas lançar o discurso que ele queria lançar para o país, já que ele está sendo visto pelo país todo", disse ao UOL.
"Ele achava que era o mais importante era fazer o discurso proliferar, abrir os olhos para as injustiças sociais, essas diferenças enormes de riqueza nesse país. E levando as dificuldades de saúde pública. Tudo isso ele fez as pessoas verem."
Desde 2018 no PSOL, Guilherme Boulos tem uma trajetória de quase duas décadas no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). A ida para a política, segundo ele, foi pensada no trabalho em prol de moradia para as pessoas.
O movimento social sozinho não conseguia resolver o problema de todas as pessoas. Que a gente precisa ter a caneta na mão, brigar para que isso fosse uma política pública, não só uma luta dos movimentos.
Guilherme Boulos, coordenador do MTST
Sobre o futuro, o pai disse acreditar ser cedo para prever algo. "Ele sai fortalecido. Vai descansar e pensar depois, mais tarde, onde ele vai."
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