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Mulheres perdem disputas nas cinco capitais em que disputaram 2º turno

A candidata Manuela D"Ávila (PC do B) votou com a filha em Porto Alegre neste domingo (29). Apesar do bom desempenho nas pesquisas, foi derrotada na reta final - OMAR DE OLIVEIRA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
A candidata Manuela D'Ávila (PC do B) votou com a filha em Porto Alegre neste domingo (29). Apesar do bom desempenho nas pesquisas, foi derrotada na reta final Imagem: OMAR DE OLIVEIRA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

30/11/2020 04h02

Nenhuma das cinco mulheres que disputaram o segundo turno nas capitais do país foi eleita neste domingo (29). Com o resultado, Cinthia Ribeiro (PSDB), reeleita em Palmas em primeiro turno, será a única prefeita a comandar uma capital nos próximos quatro anos.

Manuela D'Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, e Marília Arraes (PT), no Recife, foram as únicas que chegaram às urnas com chances. A gaúcha liderou as pesquisas desde o primeiro turno, mas foi derrotada por Sebastião Melo (MDB) por 54,63% a 45,37%. A pernambucana foi protagonista de uma das disputas mais acirradas do país — as pesquisas apontavam empate técnico com seu primo, João Campos (PSB), que acabou vencendo por 56,27% a 43,73%.

Em Aracaju, a neófita Delegada Danielle (Cidadania) foi derrotada por Edvaldo (PDT), candidato à reeleição, por 42,14% a 57,86%. Já em Rio Branco, a atual prefeita, Socorro Neri (PSB), recebeu 37,18% dos votos e perdeu para Tião Bocalom (PP), único bolsonarista com êxito nas capitais do país. Em Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB) foi reeleito com 54,45% dos votos sobre Cristiane Lopes (PP).

Marília e Manuela, apostas da esquerda

As duas candidatas trilharam trajetórias parecidas, e já foram eleitas vereadoras e deputadas federais. Também vêm da esquerda, mas, enquanto a educação política de Marília aconteceu dentro da família mais influente da política pernambucana, Manuela entrou na vida pública no movimento estudantil, militando pela UNE (União Nacional dos Estudantes).

Além da campanha acirrada, as duas também foram alvo de ataques machistas nos últimos meses. A gaúcha concentrou 90% dos ataques feitos a candidatas neste ano nas redes sociais, de acordo com a ferramenta MonitorA, desenvolvida pelo site AzMina e a organização InternetLab. Em segundo lugar, Marília foi alvo de 5% dessas ofensas.

No caso de Manuela, o volume das injúrias levou a Justiça Eleitoral a determinar a exclusão de links com mentiras sobre ela. "Vivo a guerra que o clã Bolsonaro organiza contra mim há muitos anos", afirmou, em sabatina do UOL, em outubro.

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Imagem: Editoria de Arte/UOL

Em entrevista à revista TPM, publicada em 2013, ela contou que a única vez que perdeu o controle em um debate no Congresso foi com aquele que, em 2018, se elegeria presidente da República.

"Na Câmara teve uma única vez que eu saltei em cima de um deputado, o [Jair] Bolsonaro. Eu presidia a Comissão de Direitos Humanos e fiquei aguentando o debate todo, esperando minha vez de falar, porque é assim que é, ele é deputado... Mas nesse dia [em 2011] ele disse pro deputado Jean Wyllys que o pai dele tinha vergonha por ter um filho gay. Isso é repugnante, ultrapassa o que meu estômago consegue aguentar", disse Manuela à publicação.

Neta do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), Marília Arraes foi derrotada pelo primo João Campos (PSB), também deputado federal. O segundo turno deu ares de final de campeonato de futebol ao Recife, tamanha a mobilização que uma disputa tão passional como brigas de família podem se tornar.

Nos últimos dias do segundo turno, circularam nas igrejas do Recife cartazes e panfletos apócrifos dizendo que Marília perseguia cristãos. Houve até uma acusação de um esquema de rachadinhas envolvendo a campanha dela, em um áudio atribuído ao deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE), que declarou apoio à petista.

O que estava em jogo, mais do que a prefeitura, era a hegemonia que o PSB conseguiu manter neste domingo na política pernambucana, representada na figura de João, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014 durante a campanha presidencial.

Marília rompeu com o PSB e com Eduardo Campos em 2014. Filiou-se ao PT em 2016 e elegeu-se vereadora pelo partido. Dois anos depois, sua ambição de concorrer ao governo estadual foi rifada em nome de uma costura política que atraiu o PSB no estado para isolar o presidenciável Ciro Gomes (PDT).