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Bolsonaro diz que 'passa a faixa' se perder as eleições: 'Vou me recolher'

Do UOL, em São Paulo

13/09/2022 10h22Atualizada em 13/09/2022 15h25

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou em entrevista a um pool de podcasts evangélicos, já na madrugada de hoje, que "passa a faixa" da Presidência da República se perder as eleições deste ano (veja no vídeo abaixo).

Se essa for a vontade de Deus, eu continuo [na Presidência]. Se não for, a gente passa a faixa e eu vou me recolher porque, com minha idade, não tenho mais nada a fazer aqui na Terra se acabar essa minha passagem pela política em 31 de dezembro do corrente ano.
Jair Bolsonaro (PL)

O chefe do Executivo aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e já disse em ocasiões anteriores que só aceitará o resultado do pleito se as eleições forem "limpas".

Na sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, no mês passado, ao ser questionado por William Bonner e Renata Vasconcellos, o presidente voltou a colocar suas condicionantes sobre transparência e a levantar suspeitas infundadas e sem provas sobre o sistema eleitoral. Até hoje, não há indícios de fraude nos 26 anos de funcionamento da urna eletrônica.

"Serão respeitados os resultados das urnas, desde que as eleições sejam limpas e transparentes", afirmou Bolsonaro no Jornal Nacional.

'Não devo ser candidato a mais nada', disse Bolsonaro

Em outro trecho da entrevista de ontem, Bolsonaro também disse que "não deve ser candidato a mais nada", depois das eleições de 2022, caso seja reeleito.

"Havendo reeleição, ninguém vai trabalhar contra [o auxílio], até porque não devo ser candidato a mais nada, se Deus quiser", afirmou.

O valor do Auxílio Brasil foi de R$ 400 para R$ 600 neste ano, com data limite até o final de dezembro. A medida foi vista como eleitoreira, já que o presidente tenta a reeleição para mais quatro anos de mandato.

Em sabatina da RedeTV! e em live no seu próprio canal, Bolsonaro já garantiu que o auxílio será mantido no próximo ano, se limitando apenas a dizer que o tema é de responsabilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A 20 dias da eleição, Bolsonaro falou pela primeira vez em tom de pesar sobre as falas negacionistas em relação à crise da covid-19. O presidente afirmou que se arrependeu de certas falas dadas ao longo da pandemia e que não as repetiria.

Eu dei uma aloprada. Os caras [imprensa] batiam na tecla o tempo todo e queriam me tirar do sério.

Depois, demonstrou arrependimento de dizer que não era "coveiro" no início da pandemia, porque ainda não havia vacinas.

No entanto, seguiu defendendo o tratamento precoce, que já foi provado ser ineficaz contra o coronavírus. Bolsonaro também explicou sobre a falsa declaração de que as pessoas que se imunizassem contra o vírus se transformariam em jacaré. Para o presidente, foi apenas uma "figura de linguagem". Mas ele disse que também não a repetiria hoje.

Aceno às mulheres. Questionado se retirava declarações machistas que já externou, Bolsonaro disse que houve uma "potencialização" sobre suas falas, mas que "errou" e não falaria de novo. O presidente disse, por exemplo, que retiraria a afirmação de que teve quatro filhos homens e que o nascimento da filha mulher —Laura, de 11 anos— foi uma "fraquejada".

Ele aproveitou o momento para relacionar declarações machistas a Lula. "Pisei na bola. Simples. É comum nós homens falarmos... Vai nascer uma criança. Vai ser consumidor ou fornecedor? Brincadeira entre homens. Eu não falo mais isso para ninguém. Para mim pega. Agora, o Lula fala que...", disse, citando uma falsa referência do ex-presidente a Rosa Weber. "Sabe o que o Lula falou sobre ela? Perguntou se ela tinha 'grelo duro'", disse.

Contudo, essa afirmação de Bolsonaro é falsa. Ele cita erroneamente uma fala de Lula como se fosse uma referência à atual presidente do Supremo, Rosa Weber, mas na verdade o petista se referia às mulheres de seu partido.

Em conversa grampeada pela PF (Polícia Federal) com o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, o ex-presidente Lula questionou "onde estão as mulheres de grelo duro do nosso partido?". O grampo foi divulgado em março de 2016.

Com base no grampo, Bolsonaro também citou o momento em que Lula disse, em tom jocoso, que Clara Ant, sua ex-assessora, teria recebido agentes da PF em sua residência pensando que eram "um presente de Deus". "Foram na casa da Clara Ant. A Clara estava dormindo sozinha quando entraram cinco homens lá dentro", disse Lula à Dilma na época. No áudio, ambos riem da afirmação.

No podcast, Bolsonaro não acerta o nome de Clara, a quem se refere como "Cláudia" ou "Ana". "Falou isso. Ele [Lula] fala barbaridade. E não tem explicação. Nada cola contra ele", afirmou o presidente.

Bolsonaro faltou em posse no STF e atrasou podcast

O início do programa com a participação de Bolsonaro ontem era previsto para 19h30 (horário de Brasília), mas começou apenas às 20h08. O principal adversário dele nas eleições deste ano, o ex-presidente Lula, concedeu entrevista à CNN Brasil a partir das 20h.

Os dois foram convidados para participar da cerimônia de posse da ministra Rosa Weber como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), mas eles não estiveram presentes no evento, realizado às 17h.

Questionada pelo UOL, a Corte informou disse que havia possibilidade de participação remota para aqueles que não conseguissem estar em Brasília fisicamente.