Nas últimas 48h, Lula quer erguer petistas no NE; Bolsonaro vai a MG e SC
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotaram estratégias bem diferentes para as últimas 48 horas da campanha do primeiro turno das eleições. O petista aposta em caminhadas em duas capitais do Nordeste, enquanto o presidente investe nas motociatas.
Lula decidiu ir a Salvador e Fortaleza nesta sexta-feira (30) para alavancar os candidatos petistas locais, e Bolsonaro estará em Minas Gerais hoje e em Santa Catarina amanhã (1º). Mas em uma coisa os dois concordam: ambos escolheram a maior cidade brasileira, São Paulo, para a véspera da votação —a capital paulista abriga 5,95% dos eleitores registrados no país.
A legislação eleitoral estabelece que a partir desta sexta-feira não é mais autorizado utilizar aparelhagem de som fixa em reuniões públicas. Traduzindo, estacionar um caminhão de som e fazer um comício está proibido, o que modifica bastante a maneira de os candidatos fazerem campanha e faz com que os candidatos busquem alternativas diferentes.
Bolsonaro fecha campanha de moto. Com a quinta-feira (29) sem atos eleitorais por causa da preparação para o debate da Rede Globo, Bolsonaro tem agenda intensa nos dois últimos dias de campanha. Hoje, ele vista Poços de Caldas (MG) para uma motociata que está sendo preparada desde o começo da semana.
Amanhã (1º), o presidente tem agenda dupla. Está prevista uma motociata em São Paulo pela manhã. Nesta combinação fica clara a preferência pelo Sudeste, região que concentra 4 em cada 10 votos do país.
Na sequência, Bolsonaro embarca para Joinville (SC) e tem como ato final de campanha uma motociata na cidade.
Produzir fotos e reforçar o "datapovo". A maneira de encerrar a campanha e os locais foram escolhidos a dedo pela equipe do presidente. A intenção é lotar as ruas para demonstrar força popular por parte do candidato a reeleição. A última agenda será em Santa Catarina, estado amplamente favorável a Bolsonaro.
Apoiadores de outras regiões são incentivados a promover motociatas no sábado nos mesmos horários em que Bolsonaro estiver em campanha. Estes eventos produzem volume, fazem barulho e rendem imagens para as redes sociais. A ideia é usar tudo isto para sustentar a narrativa do datapovo —argumento de que o presidente é vítima de um conluio dos institutos de pesquisa que escondem sua força junto ao eleitorado.
Garantir em casa. Lula vai a duas capitais do Nordeste nesta sexta —com planos iniciais de fazer uma caminhada pelo Rio, mudou a estratégia para a região onde tem maior popularidade para ajudar os candidatos petistas a garantirem o segundo turno ou, quem sabe, até abocanhar a eleição no primeiro.
O petista deve começar o dia com uma entrevista coletiva ainda no Rio de Janeiro —para onde viajou por causa do debate da Globo. O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), candidato ao governo do estado, estará ao lado de Lula.
Em seguida, o ex-presidente vai para para Salvador para um cortejo na hora do almoço ao lado do ex-secretário Jerômimo Rodrigues (PT-BA), candidato ao governo baiano.
Depois do almoço, voará para Fortaleza para outra caminhada, desta vez ao lado do deputado estadual Elmano de Freitas (PT-CE), candidato ao governo do Ceará.
Duas viradas? Com a ida de Lula ao Nordeste, o PT cobiça em dois estados estratégicos para o partido.
Na Bahia, Jerônimo, ex-secretário de Educação do governador Rui Costa (PT), estreou nas pesquisas na faixa dos 5% de intenção de votos —contra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) indicando vitória em primeiro turno, com mais de 65%.
Desde a visita do ex-presidente, no começo de julho, sob o apoio de Costa e do senador Jacques Wagner (PT-BA), os dois bem avaliados no estado e com as investidas de propaganda como "o candidato do Lula", a diferença entre Jerônimo e ACM Neto foi caindo.
Pesquisa Ipec do fim de semana mostrou que o petista tinha crescido 19 pontos e ACM, caído 9 —enquanto projeções internas do PT já falam em inversão.
No Ceará acontece situação semelhante. PT e o PDT andavam juntos no estado, mas Ciro Gomes (PDT) decidiu lançar o ex-prefeito Roberto Claudio (PDT) e rachou o partido dele. O grupo do ex-governador Camilo Santana (PT), então, alçou Elmano.
Antes atrás de Claudio e do candidato bolsonarista Capitão Wagner (União Brasil), o último Ipec, da semana passada, mostrou que Elmano passou numericamente o antigo líder —mas os dois estão empatados pela margem de erro, com 30% e 29%, respectivamente. O candidato de Ciro foi para o terceiro lugar, com 22%.
Ao focar nessas duas capitais na reta final, além de mostrar força nacionalmente dado o grande contingente de pessoas esperadas nas duas caminhadas —que deverão durar entre 30 minutos e uma hora—, Lula quer também dar o empurrãozinho final para seus candidatos.
Depois, ele volta à noite para a capital paulista, onde mora e deverá realizar a última caminhada, no sábado, na região da Avenida Paulista, zona central de São Paulo —embora ainda possa haver mudanças.
Motociatas são malvistas pelo núcleo político. O candidato à reeleição tem extrema simpatia por motociatas, muito usadas na campanha antes de comícios —são centenas ou milhares de motos passando pelas principais vias de uma cidade viram assunto.
Mas o núcleo político enxerga de outra forma por causa das mensagens embutidas nas motociatas:
- Elas se tornaram populares durante a pandemia de covid-19, quando promoviam aglomerações de gente sem máscara.
- Outro motivo é que muitas vezes o presidente não usa capacete.
- O terceiro motivo é que apenas convertidos participam destes eventos. Bolsonaro fala para eleitores já decididos e deixa de levar sua mensagem para fora da bolha.
- Por último, as motociatas são atos com participação majoritária de homens e não ajudam a furar a barreira pelo voto feminino.
Indomável, Bolsonaro fecha campanha como quer. Todos estes argumentos foram apresentados ao presidente. Ele ponderou e preferiu encerrar sua campanha com a foto para o datapovo —ou seja, com aglomeração em motociatas.
O episódio resume o que foi o convívio do candidato com sua equipe: até agora, durante a campanha, o presidente ouviu seus auxiliares, mas sempre os tratou como conselheiros. Tinham direito de sugerir —a palavra final, entretanto, sempre foi de Bolsonaro.
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