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Com Lula, Paes chama Moro de "canalha que baba ovo de Bolsonaro"

Do UOL, no Rio, em São Gonçalo (RJ) e em São Paulo

20/10/2022 20h45Atualizada em 20/10/2022 22h12

O prefeito Eduardo Paes (PSD), do Rio de Janeiro, chamou hoje o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), senador eleito pelo Paraná, de "babaca" que puxa-saco do presidente Jair Bolsonaro (PL) em ato junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Padre Miguel, zona oeste da capital.

Paes criticava a gestão de Bolsonaro ao final da caminhada pelo bairro, a segunda do candidato petista no Rio hoje. Na hora do almoço, Lula estava em São Gonçalo (RJ), acompanhado dos candidatos derrotados ao governo do estado Marcelo Freixo e (PSB) e Rodrigo Neves (PDT). Agora à noite, circulou com Paes e Neves pela zona oeste.

Esta é terceira ida de Lula ao Rio de Janeiro neste segundo turno. O estado se tornou, junto a São Paulo e Minas Gerais, prioridade na campanha para tentar manter a vantagem sobre Bolsonaro. Qualquer margem que o petista conseguir conquistar em cidades que Bolsonaro ganhou já é considerada uma vitória.

Mira em Moro. Ao criticar Bolsonaro, Paes, conhecido por não se envolver em polêmicas políticas, acabou acertando Moro, responsável pela prisão de Lula em 2018 e que, depois das eleições, aceitou se tornar ministro da Justiça de Bolsonaro.

Depois de tirarem o Lula da eleição de 2018, esse canalha que está, de novo, babando o ovo do Bolsonaro. Eles agora estão sabendo que vão perder, mentindo."
Paes, sobre Moro

O prefeito carioca faz referência à ida de Moro ao debate do último final de semana. Então rompido com Bolsonaro, o ex-ministro voltou a elogiar o presidente na reta final do primeiro turno e apareceu de surpresa nos estúdios da Band como convidado de Bolsonaro.

Críticas a Bolsonaro. O atual presidente também foi alvo das críticas. Em discurso duro, Paes reafirmou o que tem falado desde que declarou oficialmente apoio a Lula, nas vésperas do primeiro turno: que o presidente "não fez nada pelo Rio" durante seu governo.

Lula vai no mesmo tom. Ele citou alguns projetos que trouxe para a região metropolitana do Rio e, à noite, que levou para a zona oeste enquanto era presidente. No discurso, aproveitou para relacionar o presidente à milícia carioca.

Esse presidente não está preocupado em governar esse país, ele está preocupado em cuidar dos seus amigos milicianos, em cuidar dos seus filhos."
Lula, em Padre Miguel

Foco na economia. Lula voltou a bater também na gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes. A pauta econômica tem sido o carro-chefe da campanha desde o início, com referências à queda na qualidade de vida e poder de compra do brasileiro.

No discurso de Padre Miguel, Lula lembrou a entrevista em que Guedes sugere que poderia vender praias brasileiras, se a Marinha permitisse.

Imagina você não poder mais tomar conta da praia de Copacabana porque ela vai ter um dono e o dono vai fazer uma cerca para que as pessoas não possam ir para a praia. A praia é o lugar mais democrático do mundo, onde todas as pessoas são iguais."
Lula, em Padre Miguel

Lula criticou ainda o projeto de não reajuste de salário mínimo atrelado a Paulo Guedes, mas desmentido pelo ministro da Economia nesta tarde. O ex-presidente tem repetido em seus discursos que, ao contrário do governo atual, o salário mínimo foi reajustado em todos os anos do seu governo (2003-2010).

Uso da máquina. Lula também relacionou a margem apertada do primeiro turno — e das pesquisas — ao uso da máquina por Bolsonaro.

Conforme a Folha de S. Paulo revelou, a Caixa Econômica Federal liberou R$ 1,8 bilhão em empréstimos consignados para 700 mil beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC (Benefício de Prestação Continuada) em três dias de operação na última semana.

Nunca vi na história desse país um candidato gastar 10% do que o meu adversário está gastando e usando a máquina pública. A gente só fazia campanha nos fins de semana e depois das 18h. Ele só vai ao Palácio para fazer campanha e receber os lambe-botas dele. O dinheiro não compra o nosso voto."
Lula, em São Gonçalo (RJ)

Racismo. Lula também voltou a tratar do caso do cantor Seu Jorge, que sofreu agressões racistas em Porto Alegre na última semana. Sem provas, Lula atrelou os ataques a um gesto de apoio a ele.

"Dizem que foi porque ele fez o 'L' [de Lula]", disse o ex-presidente, no discurso de Padre Miguel. Segundo as denúncias divulgadas nas redes sociais, os ataques ocorreram na última parte do show, depois que o artista fez um discurso contra a redução da maioridade penal e os assassinatos de outros jovens negros de comunidades pobres.

O caso se tornou público por meio de denúncias postadas nas redes sociais por pessoas que estiveram presentes no evento. A Polícia Civil investiga o caso.

Rolé pelo Rio. O Rio de Janeiro se tornou um dos estados estratégicos para a campanha de Lula no segundo turno. A campanha pretende focar nas diferentes cidades da região metropolitana e bairros da capital para tentar diminuir a diferença de dez pontos para Bolsonaro nas urnas no estado.

O objetivo da campanha é tentar estreitar a margem onde for possível. Na zona sul carioca, por exemplo, eles avaliam que já têm todo apoio que poderiam e, em parte da zona oeste, onde Bolsonaro mora, não veem possibilidade de crescimento. Bairros como Padre Miguel e Madureira, visitado ao final do primeiro turno, ou cidades como Belford Roxo (RJ), que foi no meio do mês, são vistos com maior potencial.

São Gonçalo, do outro lado da Baía de Guanabara, é o terceiro maior colégio eleitoral do estado e, como na Baixada, local onde Bolsonaro teve mais de 50% dos votos no primeiro turno. O presidente visitou a cidade na última terça (18) ao lado do prefeito Capitão Nelson (PL).

Tropa do Paes. A articulação do prefeito do Rio de Janeiro continua para reduzir ou até virar a diferença de Lula para Bolsonaro na cidade.

No evento na zona oeste do Rio, o prefeito colocou sua "tropa" na organização. Horas antes do início do evento, aliados como Pedro Paulo (PSD) e os secretários Salvino Oliveira e Joyce Trindade eram vistos nas redondezas, organizando as ruas, distribuindo bandeiras e atendendo demandas dos trabalhadores do evento.

Liderança local. Antes da caminhada começar, Paes e Neves discursaram no carro que levaria Lula. Com falas diretas contra Bolsonaro, os políticos insistiram no discurso de que os eleitores de Lula têm de combater as fake news e questionar "o que Bolsonaro fez pelo Rio", mirando angariar mais votos para o petista.

Além deles, a deputada estadual reeleita Lucinha (PSD) também falou aos presentes. Com votação expressiva na zona oeste, Lucinha seguiu a linha de quem falou anteriormente e alfinetou Bolsonaro.

Benedita da Silva, deputada federal reeleita pelo PT, pediu que os eleitores petistas "fiscalizem" o dia da eleição.

"Votem e fiquem fiscalizando. Eles vão montar um grande esquema na questão do transporte", afirmou a deputada. Ela chamou a atenção para a possibilidade de bolsonaristas fazerem boca de urna no dia 30 de outubro.

"A culpa é minha." Quando o atraso do início da caminhada em Padre Miguel já chegava a uma hora, o prefeito Eduardo Paes (PSD) justificou: "O trânsito está horrível. Mas podem me culpar, a culpa é minha."

A principal via de acesso da zona sul, onde Lula está hospedado, à zona oeste é a Avenida Brasil, que passa por obras para a instalação do BRT Transbrasil.

Caminhada da campanha do ex-presidente Lula (PT) em São Gonçalo (RJ) - Lola Ferreira/UOL - Lola Ferreira/UOL
Caminhada da campanha do ex-presidente Lula (PT) em São Gonçalo (RJ)
Imagem: Lola Ferreira/UOL

Clima de Carnaval. Na praça conhecida do Ponto Chic, em Padre Miguel, vendedores ambulantes com cerveja e petiscos vendiam seus produtos durante a concentração do ato — similar a de um bloco.

A rua Figueiredo Camargo, considerada a principal do bairro, esperou o ex-presidente em clima de festa. Havia também vendedores de produtos, como bonés, camisas e toalhas, além de música em diferentes pontos e até ritmistas de escola de samba.

Ao final do discurso de Lula, o público cantou ao som de sambas-enredo históricos da Mocidade Independente de Padre Miguel.

Rio 40°C. Com sensação térmica de 35ºC e sol forte, muitas pessoas passaram mal durante o trajeto de São Gonçalo. Durante a caminhada e sua fala no trio, Lula chamou a atenção para isso ao menos duas vezes. Ele interrompia o discurso, informava a localização de quem estivesse passando mal e pedia a presença de um bombeiro ou paramédico.

Além dos casos flagrados pelo ex-presidente, ao longo da avenida era possível pequenos grupos acudindo pessoas com água e tentando fazer sombra, para aliviar os sintomas que, em geral, eram fraqueza.