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Na reta final, Lula diz assumir compromisso de governo amplo sem reeleição

Lula em ato pela democracia, na PUC-SP, na última semana de campanha eleitoral - RICARDO STUCKERT
Lula em ato pela democracia, na PUC-SP, na última semana de campanha eleitoral Imagem: RICARDO STUCKERT

Do UOL, em São Paulo

25/10/2022 13h41Atualizada em 25/10/2022 14h07

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem voltado a última semana da eleição para dialogar com o eleitor de centro. Entre discursos e entrevistas, o petista dá destaque ao que a campanha chama de "pauta democrática", com reafirmações sobre governo amplo —não só de esquerda—, e de mandato único, sem reeleição.

O objetivo da chapa é reforçar os chamados "valores democráticos", uma das principais bandeiras da campanha petista desde o início em busca de tentar estabelecer uma contraposição aos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL). O grupo avalia que relembrar isso na reta final pode ajudar ainda mais a angariar os indecisos —ainda mais se valendo, agora, do caso Roberto Jefferson (PTB).

Frente ampla. O discurso de "frente ampla pela democracia" foi o primeiro mote de campanha do PT quando Lula ainda nem se assumia pré-candidato, no início do ano. Com o objetivo de juntar o maior número de partidos possíveis, os petistas têm prometido criar o governo mais diverso possível e sem promessa de perpetuação no poder.

O primeiro passo para isso foi o anúncio do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) como vice. Para o primeiro turno, a sigla conseguiu o apoio de outros nove partidos (oito na coligação oficial) e atingiu o que consideram o ápice neste segundo turno, com declarações de voto que vão dos candidatos derrotados Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o ex-candidato João Amoêdo (Novo).

À frente de parte desde público, ontem (25), em ato na PUC-SP, Lula reafirmou o compromisso de criar um governo plural. Além de Tebet, estavam presentes os ex-ministros Marina Silva (Rede-SP), Marta Suplicy (MDB) e Henrique Meirelles (União Brasil) —que haviam rompido com o petista e voltaram a se juntar a ele nesta etapa.

Na avaliação da campanha, a imagem de Tebet e de outros representantes de centro ou centro-direita, como o economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central no período FHC, atingem em cheio o principal empecilho de Lula para conquistar votos dos indecisos: o antipetismo.

Para isso, no entanto, as falas também têm de vir do petista, não só de seus apoiadores. Em seu discurso ontem, Lula relembrou o pluripartidarismo do seu governo anterior (2003-2010) e referendou a proposta para o possível seguinte.

Nosso governo não será um governo do PT. É importante, Gleisi [Hoffmann], você que é presidente [do partido], saiba: nós precisamos fazer um governo além do PT. Não faremos um governo do PT, faremos um governo do povo brasileiro."
Lula, em ato na PUC-SP

Pouco antes, Tebet, que havia acabado de chegar de um ato pró-Lula no Rio de Janeiro, fez discurso no mesmo tom, dizendo que, em um possível segundo mandato, Bolsonaro "instalaria uma ditadura branca".

"Agora não é a hora da omissão. A omissão, a neutralidade da omissão é um pecado capital contra o povo brasileiro", declarou ela.

Simone Tebet e Lula em evento na PUC-SP, na última semana antes do segundo turno - RICARDO STUCKERT - RICARDO STUCKERT
Simone Tebet e Lula em evento na PUC-SP, na última semana antes do segundo turno
Imagem: RICARDO STUCKERT

Sem reeleição. Outro ponto que o petista tem reforçado é o compromisso em não tentar mais uma reeleição —fala repetida em discurso a uma rádio de São Paulo na manhã de hoje. Desde que lançou a pré-candidatura, em junho, Lula tem falado que não irá tentar um novo mandato inclusive por causa da idade.

Prestes a completar 77 anos, ele teria 81 nas eleições de 2024, o que, já disse diversas vezes, o desabilita. Ele também tem repetido com certa frequência que, depois, quer descansar e aproveitar o casamento com a socióloga Janja da Silva.

Interlocutores explicam que o compromisso não resvala só na idade. Ao deixar claro que só cumprirá um mandato, o ex-presidente, ao mesmo tempo, reforça o discurso de "compromisso democrático para combater um mal maior" —que seria a reeleição de Bolsonaro—, e acena para as pessoas que têm medo de qualquer "ameaça comunista", de perpetuação de poder por parte do PT e até aos antipetistas que também não gostam do presidente.

Esta indicação e a proximidade com figuras de centro, como Alckmin e Tebet, indicam que o PT estaria disposto a fazer revezamento do poder depois de Lula —embora isso não esteja dito ou escrito em lugar algum. Eles esperam que o eleitor de centro que ainda não escolheu o candidato entenda isso.

Ganhou força com Jefferson. Por fim, nessa semana, o tema "democracia" não voltou aos holofotes à toa. O partido tem procurado aproveitar ao máximo o episódio do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que reagiu a tiros contra policiais federais que tentavam cumprir um mandado de prisão contra ele no último domingo (23).

Lula tratou o caso em duas coletivas seguidas, sempre fazendo ligação entre o ex-deputado e Bolsonaro, aliados e amigos de longa data, e citando o episódio como uma afronta a valores democráticos. Em peça para a TV veiculada desde a manhã de ontem, menos 24 horas depois do ocorrido, a campanha petista faz relação similar ao mostrar vídeos de agressões de bolsonaristas.

"Jefferson é fotografia e resultado do que acontece no governo Bolsonaro, ele é resultado de tudo que foi plantado nesse país, ele é resultado de um momento de muitas mentiras no Brasil", disse o ex-presidente, ontem.

Na avaliação do entorno do presidente, o caso afugentou possíveis eleitores considerados "mais ponderados" de Bolsonaro —e propensos a mudar de voto— e trouxe à tona de novo a discussão sobre a democracia em perigo, que havia perdido espaço para economia e, em especial, para as chamadas "pautas de costume".

Tudo isso que aconteceu só deixou ainda mais claro. É a democracia contra a barbárie, não tem outra escolha. É isso que é importante fazer o eleitor perceber nessa reta final. Essa é a eleição mais importante desde a redemocratização. Nós simplesmente não podemos perder."
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador e coordenador da campanha

Nesses últimos dias, a campanha deverá reforçar ainda mais uma ligação de ameaças democráticas e violência institucional a Bolsonaro —se isso não trouxer votos para Lula, certamente não trará para o presidente, avaliam.