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Tarcísio e Haddad sobem tom de ataques e misturam SP com Brasil em debate

Os ex-ministros Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), candidatos ao governo de São Paulo, subiram o tom dos ataques e levaram temas nacionais para o debate na TV Globo, na noite desta quarta-feira (27). Foi o último encontro entre eles antes do segundo turno das eleições, no próximo domingo.

Assim como no debate do último dia 10, promovido pela TV Bandeirantes, Tarcísio e Haddad fizeram uma série de referências aos governos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O tom cordial do último encontro, porém, foi substituído por críticas ácidas e acusações de ambos os lados.

O ex-ministro da Infraestrutura questionou o petista sobre a gestão dele na Prefeitura de São Paulo e resultados dos governos federais do PT. Haddad reagiu atacando o governo Bolsonaro e confrontando Tarcísio sobre temas sensíveis como o tiroteio na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, que interrompeu uma agenda de campanha do candidato bolsonarista.

No último bloco do debate, Haddad citou um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, na terça, que aponta que a campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da emissora Jovem Pan apagar imagens do ocorrido. Questionado sobre o assunto, Tarcísio acusou Haddad de fazer "sensacionalismo" e voltou a dizer que os vídeos foram deletados por questão de segurança.

Veja os destaques no último debate entre os candidatos ao governo paulista:

  • Temas econômicos de abrangência nacional, como o Auxílio Brasil e o salário mínimo, dominaram sobretudo o primeiro bloco
  • Tarcísio criticou a gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo, citando obras inacabadas e a cracolândia
  • Haddad atacou Tarcísio pela proposta do adversário de acabar com a obrigatoriedade da vacinação de crianças
  • Os candidatos tomaram posições opostas sobre a privatização da Sabesp (Companhia Brasileira de Saneamento Básico)
  • Tarcísio lembrou nomes do PT ligados a casos de corrupção e, em resposta, Haddad citou o ex-deputado Roberto Jefferson
  • Haddad explorou o tiroteio em Paraisópolis e foi acusado por Tarcísio de "sensacionalismo"

Economia. Temas de economia de repercussão nacional ocuparam a maior parte das discussões do primeiro bloco. Haddad criticou a medida do governo de liberar empréstimos consignados para beneficiários do Auxílio Brasil, afirmando que a decisão "endivida as famílias".

"O juro do consignado do Auxílio Brasil está chegando na casa do cheque especial. A quem vocês estão pensando em favorecer: o trabalhador que não consegue terminar o mês ou o banco que faz o desconto do Auxílio Brasil e endivida as famílias?", questionou o petista.

Tarcísio rebateu defendendo o consignado e afirmando que o governo Bolsonaro fortaleceu os programas de transferência de renda. "O Auxílio Brasil que é algumas vezes maior do que o Bolsa Família antigo. Observem que um ano de Auxílio Emergencial correspondeu a mais de dez anos de auxílio de Bolsa Família", afirmou.

Oxigênio para Manaus. Um dos temas nacionais do primeiro bloco foi a crise da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus (AM) durante a pandemia, no início do ano passado. Tarcísio questionou Haddad por ter afirmado que uma decisão equivocada do rival, à época ministro da infraestrutura de Bolsonaro, atrasou a entrega dos cilindros na cidade.

O alegado erro logístico de Tarcísio no episódio foi mostrado no estudo de um professor do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), divulgado na semana passada. Haddad tem criticado o adversário com base nessa informação:

No debate, Tarcísio tratou do tema ao citar uma série de afirmações dos opositores que, segundo ele, seriam fake news. Haddad disse que Tarcísio "foi conivente com a decisão de Bolsonaro" de não levar o oxigênio para Manaus de avião. Em resposta, o ex-ministro disse que não seria possível.

"Transportar oxigênio no avião é um risco, você faz uma exceção para transportar pequenas quantidades para atender as pessoas emergencialmente. Então o volume que estava sendo transportado, e eram algumas carretas, precisavam ou ir de balsa ou ir de estrada", disse Tarcísio.

Ataques a petistas e bolsonaristas. Em embate no terceiro bloco, Tarcísio e Haddad voltaram a nacionalizar o debate, defendendo os governos federais dos quais participaram. O ex-ministro de Bolsonaro citou figuras do PT envolvidas em casos de corrupção.

"A gente vê um partido que está preso há 40 anos na mesma. E quando a gente vai pegar quem fez parte, quem foram as lideranças nesses últimos anos, a gente vai ver lá José Dirceu, preso; Vaccari, preso; Palocci, preso; o próprio candidato a presidente, preso", disse Tarcísio.

Em resposta, Haddad afirmou que o rival "deveria ter um pouco mais de parcimônia em atacar os outros" e citou o ex-deputado Roberto Jefferson (PL), preso no último domingo (23) depois de atirar e lançar granadas contra agentes da PF (Polícia Federal).

"A gente está aqui para tratar de propostas, não para fazer esse tipo de coisa contra pessoas que não estão aqui para se defender. Você também escolheu Roberto Jefferson, Waldemar da Costa Neto, você fez as suas escolhas. Vamos com calma aí que você está falando com uma pessoa que tem história e é honrada", rebateu.

Agro e MST. Em uma das perguntas, Tarcísio lembrou que Haddad disse, em discurso no último dia 14, que vai desapropriar terras improdutivas para baratear o custo dos alimentos. O ex-ministro de Bolsonaro perguntou qual será a participação que o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]" em um eventual no governo de Haddad.

"Produzir", respondeu o petista. "Sabia que eu, aqui em São Paulo, comprei merenda escolar orgânica do MST? Todo o arroz orgânico servido aqui na Cidade de São Paulo veio do MST. A banana veio do MST. Eu comprei de todos os produtores", afirmou.

Vacinação. Haddad atacou uma proposta de Tarcísio de acabar com a obrigatoriedade da vacinação de crianças. O ex-ministro da infraestrutura afirmou, então, que vai "trabalhar incessantemente" para que a imunização seja um sucesso, mas confirmou ser contra a obrigatoriedade.

"Nós vamos trabalhar para que o Plano Nacional de Imunização continue sendo um sucesso. Investindo em propaganda, investindo em comunicação, investindo em convencimento. E a gente não precisa obrigar um pai e a mãe a vacinar seu filho, ele sabe que tem que vacinar, ele sabe que aquilo é saúde", afirmou Tarcísio.

População de rua. No segundo bloco, Tarcísio atacou a gestão de Haddad na prefeitura de São Paulo, de 2013 a 2016. O ex-ministro de Bolsonaro afirmou que o petista não cumpriu promessas na área da habitação e citou até o nome de uma pessoa que teria morrido de frio nas ruas da capital paulista, durante a gestão de Haddad.

Às vezes, eu tenho impressão que nem você, Haddad, porque no final das contas você promete, promete, e você não entregou nada. Olha só os resultados quando foi prefeito. Por isso que você ganhou o rótulo de pior prefeito da história. Não conseguiu entregar
Tarcísio de Freitas (Republicanos) em pergunta a Fernando Haddad (PT)

'Bolsa crack'. Tarcísio perguntou como Haddad pretendia acabar com a cracolândia, região no centro de São Paulo com concentração de usuários de drogas, e questionou por que o petista não conseguiu resolver o problema quando foi prefeito.

Haddad defendeu o programa "De braços abertos", implantado sob a gestão dele, que oferecia aos usuários pequenas quantias em dinheiro em troca de serviços como a varrição de ruas. A política, segundo o petista, reduziu o consumo de drogas na região.

Tarcísio, então, subiu o tom e chamou o programa de "Bolsa crack", o que levou Haddad a retomar a defesa da iniciativa. "A pessoa que entrou em uma frente de trabalho, ela passou a ver a vida de outra maneira, ela se reconciliou com a família, ela se dedicou mais ao trabalho e menos à droga, ela foi se recuperando. É uma política de redução de dano internacionalmente reconhecida", disse.

Como está a disputa eleitoral? Na pesquisa mais recente do Ipec, divulgada na última terça (25), Haddad subiu dois pontos e entrou em empate técnico com Tarcísio. O ex-ministro bolsonarista aparece com 46% das intenções de voto, contra 43% do petista. Em votos válidos, que excluem brancos, nulos e indecisos, Tarcísio tem 52% contra 48% de Haddad.

Nos últimos dias, Tarcísio tem sofrido com os desdobramentos do tiroteio na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, durante uma agenda de campanha no último dia 17. A troca de tiros tirou a vida de Felipe Silva de Lima, 27.

Um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, na terça, aponta que a campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da emissora Jovem Pan apagar imagens do ocorrido. Ontem, o site Intercept mostrou que a ordem partiu de um servidor licenciado da Abin (Associação Brasileira de Inteligência) que acompanha o candidato.