Nunes evita falar que é bolsonarista e ataca Boulos: 'É a extrema esquerda'

O prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), pré-candidato à reeleição, evitou criticar Jair Bolsonaro (PL) em sabatina do UOL e do jornal Folha de S.Paulo, na manhã de hoje (15). Durante a entrevista, ele minimizou as investigações contra o ex-presidente e chamou o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), principal concorrente na disputa pela prefeitura, de "extrema esquerda".

A sabatina

O prefeito de São Paulo disse que estava nervoso no início da sabatina. Nunes chegou ao estúdio UOL com assessores, o secretário de Comunicação, Marcelo D'Angelo, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade) e o tucano Wilson Pedroso.

Marqueteiro deu sinais para o prefeito durante a sabatina. Atrás das câmeras, Duda Lima usou a luz do celular para mostrar a palavra "técnica" ao longo das respostas de Nunes. Ele também foi marqueteiro de Bolsonaro.

Relação com Bolsonaro

Nunes não se definiu como "bolsonarista" e evitou criticar o ex-presidente. Nos momentos em que foi questionado sobre investigações contra Bolsonaro, o prefeito afirmou que é preciso esperar o andamento das apurações. Ao ser perguntado se é bolsonarista, Nunes afirmou que é "ricardista".

Segundo o prefeito, Bolsonaro não fez exigências políticas para apoiá-lo à reeleição. Nunes disse que o ex-presidente não pediu "absolutamente nada com relação a espaço de governo" para apoiar sua candidatura, mas que eventuais contribuições do ex-presidente "serão avaliadas".

O pré-candidato minimizou as investigações em andamento contra Bolsonaro. Ao ser perguntado se via crime em casos como o da venda de joias no exterior ou do monitoramento ilegal da "Abin Paralela", que foram alvo de operações da Polícia Federal nas últimas semanas, Nunes afirmou que é preciso esperar o resultado das apurações.

Por duas vezes, Nunes citou o caso Escola Base, de 1994. Na ocasião, um casal de donos de uma escola em São Paulo foram acusados injustamente acusados de abuso sexual depois de terem sido expostos pela polícia e pela imprensa.

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Estamos no estado democrático de direito, é necessário ter cautela. As pessoas têm sentimento, imagina ser bombardeado pra depois descobrir que não há ilegalidade

Ataques a Boulos

Prefeito negou que invasão de 8 de janeiro seja golpista e chamou Boulos de "extrema esquerda". Ao ser questionado se os atos de 8 janeiro foram antidemocráticos, Nunes comparou o incidente com um protesto do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) contra o governo Dilma Rousseff (PT), em 2015, quando Boulos e outros militantes ocuparam prédios públicos. "Não tem diferença em relação à questão das invasões do prédio público", declarou.

Boulos disse, à época, que entrou no prédio em protesto contra cortes de verbas para moradia. Além da sede do Ministério da Fazenda em São Paulo, o MTST invadiu instalações em Brasília, Boa Vista e Belo Horizonte. "Nós ocupamos [as sedes] porque é esse ministério que está fazendo os cortes de verba na moradia e em todos os programas sociais", afirmou Boulos, em 2015.

Nunes também acusou Boulos de "passação de pano" para o deputado André Janones (Avante-MG). O prefeito lembrou o fato de que o adversário votou para arquivar o processo cassação de Janones, em junho. Quando foi sabatinado, na última sexta (12), Boulos deu a justificativa de que os supostos crimes de Janones ocorreram na legislatura passada (2019-22), e não na atual.

O 8 de janeiro a gente podia comparar com 23 de setembro. O que aconteceu em 23 de setembro? Se a gente entrar no Google agora e colocar: "Boulos invade ministério", vai sair na capa a foto do Boulos em cima da mesa numa invasão de um prédio público do Ministério da Fazenda.

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Obras emergenciais

Nunes defendeu as obras emergenciais feitas durante sua gestão. De 2021 a 2023, a prefeitura de São Paulo gastou quase R$ 5 bilhões em contratos desse tipo, que são feitos sem licitação. Em março, o UOL mostrou que mais de 70% destes contratos tinham indício de combinação de propostas de preço entre as empresas convidadas para fazer as obras.

O prefeito não descartou que possa ter havido conluio. Ao ser questionado inicialmente, ele disse que uma possível combinação seria um crime das empresas, sem relação com a prefeitura. Quando foi perguntado se a prefeitura não deveria fiscalizar para evitar a corrupção, Nunes disse que a prefeitura mandou averiguar a situação após a reportagem do UOL.

O pré-candidato declarou ainda que a prefeitura agiu dessa forma para "salvar vidas". Segundo ele, a maioria destas obras emergenciais para evitar desabamentos de imóveis próximos a encostas de rios, e que era preciso agir rapidamente para evitar tragédias.

Como funciona a obra de emergência? Não é o prefeito, não é o secretário que determina, são os engenheiros da prefeitura, da Defesa Civil, que, ao serem chamados, vão até lá e dão um laudo, que tem uma casa aqui que pode cair e morrer gente. Vai esperar acontecer?

Cracolândia e população de rua

Nunes disse que o fim da cracolândia depende da conscientização dos usuários para tratamento. O atual prefeito disse que o número de pessoas que fazem parte do fluxo diminuiu nos últimos anos.

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Temos equipes lá convencendo as pessoas a fazerem tratamento (...) E polícia em cima de traficante e reurbanização do espaço. Eu e o Tarcísio colocamos isso como meta

Apoio de Datena

Nunes afirmou que o PSDB cometeu uma "injustiça" por apontar José Luiz Datena como pré-candidato. Segundo ele, vários nomes do partido têm posições de comando na prefeitura desde o início do mandato de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021. Com uma candidatura própria, o partido teria que criticar uma gestão na qual ele próprio tem grande participação, segundo Nunes.

O prefeito afirmou, porém, que ainda pretende ter o apoio do partido. Ele afirmou que existe uma "grande chance" de ser apoiado pela sigla caso Datena desista da pré-candidatura, inclusive porque a base da própria militância tucana estaria aliada a Nunes.

Você pega o secretário de Governo, pega o secretário da Saúde é do PSDB, secretário da Justiça é do PSDB, o secretário do Trabalho é do PSDB, secretário de Educação é do PSDB. Como que o PSDB fará uma crítica ao governo que ele tem predominância?

Quem é Ricardo Nunes

Ricardo Luís Nunes Reis, 56, vai concorrer à reeleição para a Prefeitura de São Paulo. Eleito vice-prefeito em 2020 na chapa de Bruno Covas (PSDB), assumiu a cadeira de prefeito em 2021 após a morte do tucano, vítima de câncer.

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Nunes foi vereador por dois mandatos na capital paulista. Natural de São Paulo, ele tentou uma vaga na Câmara pela primeira vez aos 21 anos, mas não foi eleito. Vinte anos depois, em 2012, conquistou seu primeiro mandato na Casa, com mais de 30 mil votos. Em 2016, foi reeleito para mais quatro anos como vereador, com 55 mil votos.

Prefeito tem disputado a liderança nas pesquisas eleitorais com o deputado Guilherme Boulos (PSOL). Na sondagem mais recente do Datafolha, divulgada no dia 8 de julho, Nunes marcou 24% contra 23% de Boulos, um empate técnico — a margem de erro foi de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Próximas sabatinas

O UOL e o jornal Folha de S.Paulo promovem sabatinas com pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Pablo Marçal (PRTB) foi entrevistado no dia 10, e Guilherme Boulos (PSOL), no dia 12. José Luiz Datena (PSDB) será entrevistado amanhã (16), às 10h.

UOL e a Folha vão promover sabatinas com candidatos à prefeitura de 17 cidades do país. Já aconteceram as sabatinas com Fuad Noman (PSD) e Rogério Correia (PT), em Belo Horizonte; Bruno Reis (União) e Kleber Rosa (PSOL), em Salvador, e com João Campos (PSB), Gilson Machado (PL) e Daniel Coelho (PSD), no Recife.

Ainda acontecerão as sabatinas com candidatos a 13 prefeituras: Rio de Janeiro, Maceió, Manaus, Fortaleza, Curitiba, Guarulhos, São Bernardo, Santo André, Osasco, Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto e São José dos Campos.

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*Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Caíque Alencar, Rafael Neves e Nathalia Florido (estagiária).

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