Curitiba: reviravolta coloca dois bolsonaristas em disputa no segundo turno
Com uma reviravolta histórica e uma disputa apertada, o atual vice-prefeito, Eduardo Pimentel (PSD), saiu na frente na corrida eleitoral pela Prefeitura de Curitiba, com 33,5% dos votos, e segue para o segundo turno contra a jornalista Cristina Graeml (PMB), novata na política, com 31,1% da preferência dos eleitores.
O que aconteceu
Bolsonarismo derrota esquerda e lavajatismo. Refletindo os quase 65% dos votos a Jair Bolsonaro (PL) em Curitiba em 2022, ambos são ligados ao ex-presidente e impuseram uma derrota à esquerda e ao grupo político ligado à Operação Lava Jato, que nasceu na capital paranaense.
'Marçal de saias' focou a campanha nas redes sociais. Autointitulada a única candidata "conservadora" e chamada por alguns de "Marçal de saias", Cristina superou os adversários com uma campanha concentrada nas redes sociais, já que não teve coligação com outros partidos ou tempo de televisão e rádio.
Apoio a Bolsonaro e a Marçal. Entre seus vídeos mais vistos, estão declarações de apoio de Bolsonaro e do candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB).
Em meio a apoiadores, na sede do TRE/PR, ela declarou que esperava estar no segundo turno por sentir um "desejo de mudança" do curitibano:
Minha candidatura não é um projeto de vida, foi uma candidatura orgânica. Atendi a uma demanda que chegou a mim, com muito senso de responsabilidade e alegria, e sabia que a gente tinha potencial para chegar. É o curitibano dizendo 'não' ao sistema. Estou sem dinheiro público, sem tempo de TV, lutando há nove meses para o meu nome ser visto e só nas duas últimas semanas consegui furar essa bolha, então finalmente o eleitor soube que eu era candidata e veio comigo.
Cristina Graeml (PMB)
Mais tempo de TV e padrinhos de peso
Apoio formal do PL. Apesar de formalmente Pimentel ter o apoio do PL de Bolsonaro, com a indicação de Paulo Martins como candidato a vice na chapa, Cristina passou toda a campanha ressaltando que é "bolsonarista raiz" e que possui o aval do ex-presidente.
Pimentel tem padrinhos de peso. Além de possuir a maior coligação e tempo de TV e rádio, o vice é apoiado por nomes de peso, como o atual prefeito, Rafael Greca (PSD), e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD).
Também na sede do TRE/PR, Pimentel diminui o papel do apoio nacional no segundo turno e deu o tom da campanha:
As posições nacionais são muito parecidas, não muda nada. Agora, é o debate sobre Curitiba, não importa quem está apoiando quem [...]. Vai ser importante esse momento para deixar transparente para a cidade, mostrar quem está preparado, quem não administrou, quem não conhece o que é administração, isso é muito sério. Me preparei para ser prefeito da nossa cidade, sendo vice-prefeito por oito anos [...]. Curitiba precisa ter cuidado, não pode cair em aventura.
Eduardo Pimentel (PSD)
Reviravolta
Candidata ganhou mais votos dias antes da eleição. O movimento de subida de Cristina já vinha sendo sentido há cerca de duas semanas por pesquisas internas dos candidatos.
Pesquisas apontavam petista em segundo lugar. Até então, o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo presidente Lula (PT), vinha aparecendo em segundo lugar na disputa, ao lado do deputado Ney Leprevost (União), da base do grupo do senador Sergio Moro. Ducci acabou em terceiro lugar, com 19,4%, e Leprevost em quarto, com 6,4% dos votos.
Ducci culpou o conservadorismo pelo resultado das urnas. "O curitibano sempre foi um eleitor conservador. Então, acho que é um processo da cultura da cidade", disse Ducci após a apuração.
Candidato de Moro afirmou que eleição assumiu "tom de polarização". "Sou um candidato de centro, moderado. A eleição acabou tomando um tom de polarização. É um resultado muito normal porque a gente enfrentou três máquinas: da prefeitura e do governo do Estado, a máquina bolsonarista, e do governo federal", declarou Leprevost.
Os dois candidatos ainda vão consultar suas chapas para definir apoios no segundo turno.
Debate marcou a mudança nos rumos da eleição. A reviravolta na capital do Paraná foi mais sentida a partir do último debate na quinta-feira (3), na RPCTV, afiliada da Rede Globo, em que Graeml fez uma crítica contundente aos adversários, a quem chamou de integrantes "do sistema", e partiu para o ataque direto contra Pimentel, citando uma denúncia de possível coação de funcionários da prefeitura a doarem para a campanha do vice.
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Quero receberDenúncia contra campanha de Pimentel. Áudios revelados na última semana pelo jornal Metrópoles mostraram um grupo de servidores comissionados da prefeitura sendo supostamente coagidos a doarem para a campanha por meio da compra de ingressos para um jantar promovido pelo PSD. Em resposta, o superintendente gravado foi demitido. Pimentel afirmou que ele agiu por conta própria e que não havia nenhuma instrução da campanha.
Acusação, no entanto, favoreceu Cristina. A denúncia pouco mexeu nos números finais do atual vice, que sempre figurou em primeiro nas pesquisas, mas fez crescer ainda mais a preferência por Cristina, que saltou de 5% das intenções de voto no início da corrida para 21% na última pesquisa Quaest, divulgada pela RPC neste sábado (5).
Vídeo com Bolsonaro. No mesmo dia, ela postou um vídeo nas redes sociais em que aparece em uma ligação de vídeo com Bolsonaro. "Eu não abro o voto em você, você sabe porque, sabe que eu tenho uma devida consideração por você, mas torço por você e ponto final", disse o ex-presidente.
Derrota a Sergio Moro. O resultado impôs uma derrota ainda maior sobre o grupo lavajatista, principalmente a Sergio Moro, que tem pretensões políticas no Paraná para 2026. A esposa dele e deputada federal por São Paulo, Rosangela Moro, era vice na chapa de Leprevost, mas nem ela, nem o marido apareceram de forma expressiva na campanha.
Deltan apagado nas eleições. Já o ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol (Novo), faz parte da base de apoio de Pimentel, mas também acabou apagado na disputa majoritária e foi mais expressivo na campanha de seu correligionário, Guilherme Kilter, eleito vereador.
Lavajatista desistiu da candidatura. Deltan chegou a anunciar uma candidatura à prefeitura, mas acabou desistindo. Deputado federal mais votado pelo Paraná em 2022, ele teve o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio de 2023 e perdeu o mandato.
Quem são os candidatos que disputam o segundo turno em Curitiba
Cristina Graeml tem 54 anos e nunca havia disputado um cargo eletivo. Repórter por 20 anos da afiliada da Rede Globo no Paraná, seu viés de direita ficou mais conhecido a partir do seu trabalho como comentarista no jornal Gazeta do Povo e na Jovem Pan. Durante a pandemia, ela assumiu uma postura antivacina, usando estudos não comprovados para questionar possíveis efeitos negativos da imunização.
Eduardo Pimentel também é pouco experimentado nas urnas. Ele iniciou a carreira política como vice de Greca em 2016 e reeleito no primeiro turno em 2020 com quase 60% dos votos. Formado em administração de empresas, com 40 anos, ele é neto do ex-governador do Paraná, Paulo Pimentel, e de família tradicional no cenário político do estado.
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