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Crise no Paraguai pode trazer resultados negativos para o Brasil e o Mercosul, diz historiador

Do UOL, em São Paulo

22/06/2012 06h00

Um afastamento de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai poderia ter resultados negativos para o Brasil. A volta dos chamados ‘brasiguaios’, brasileiros naturalizados, e a fuga de paraguaios para o território brasileiro estariam entre as consequências indesejáveis para o Brasil, na opinião do historiador Francisco Doratioto, especialista na relação entre Brasil e Paraguai.

"Um provável clima de instabilidade vai provocar insegurança nos brasileiros que vivem no Paraguai e eles podem querer voltar para o Brasil", alerta o historiador. "Se a oposição radicalizar e houver guerra civil, por exemplo, é bem provável que também haja migração de paraguaios para o País", acrescenta, dizendo que o Brasil não estaria preparado para recebê-los.

A estimativa é de que cerca de 350 mil brasileiros morem atualmente no país vizinho, muitos deles na cidade de Curuguaty, a 250 quilômetros da capital Assunção, onde um confronto provocou a morte de policiais e trabalhadores sem terra no último dia 15.

Outra consequência da crise no país vizinho, de acordo com o historiador, seria a perda de credibilidade dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) no mercado internacional. "Os tempos atuais já são de crise econômica internacional. E com isso, a situação piora. Ninguém quer fazer negócio com ambientes instáveis".

Crise política

Depois do conflito, o presidente Lugo demitiu o ministro do Interior, Carlos Filizzola, e o chefe da Polícia, Paulino Rojas. As demissões não acalmaram os ânimos da oposição, que controla a Câmara dos Deputados. Desta forma, um processo de impeachment contra Lugo foi aprovado nesta quinta-feira (21); o julgamento começou ainda na noite de ontem no Senado paraguaio.

A oposição responsabiliza o presidente pela morte de nove camponeses e oito policiais no conflito.

Pouco depois da aprovação do processo de impeachment, Lugo fez um pronunciamento dizendo que não vai renunciar ao mandato. “Este presidente anuncia que não apresentará renúncia ao seu cargo e que se submete com absoluta obediência à Constituição e às leis ao enfrentar o juízo político com todas as suas consequências".

Ex-bispo católico, Lugo foi eleito em 2008 com promessas de defender as necessidades dos pobres, mas tem tido dificuldades para levar sua agenda de reformas por conta da influência da oposição no Congresso.

Lugo faz pronunciamento negando renúncia - áudio em espanhol