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Para Lugo, volta à presidência do Paraguai é "muito difícil" mas "resistência continua"

Do UOL, em São Paulo

26/06/2012 12h32

O presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, voltou a afirmar nesta terça-feira (26) que está à frente de um governo, ainda que paralelo, e qualificou de “ilegítimo” o governo de Federico Franco, investido na última sexta-feira (22) após o Congresso aprovar o impeachment do ex-bispo católico.

“Existe um governo constitucional eleito pelo povo e outro governo ilegítimo”, declarou, em entrevista exclusiva à emissora de televisão venezuelana Telesur.

Lugo, no entanto, se mostrou cético quanto a uma volta ao poder. “Vejo como muito difícil [uma volta à presidência], porque já houve um acordo entre os setores do poder. Mas nada é impossível, a resistência continua, assim como as manifestações em vários departamentos [Estados] do país”, continuou.

O ex-bispo também voltou a afirmar que aceitou seu julgamento político para evitar um banho de sangue no país. “Seria um erro muito grande frear os processos pacíficos de resistência. Por essa razão aceitei esse julgamento político, para evitar a violência e o sangue. Esses jovens e adultos que hoje se manifestam ganharam espaço na sociedade paraguaia.”

Nesse sentido, Lugo informou que, a partir da semana que vem, vai percorrer “todo o território nacional para explicar detalhadamente o que aconteceu na última sexta na política paraguaia”.

“Os partidos políticos paraguaios quiseram cortar as asas de um processo que deveria continuar em 2013, baseado nas políticas públicas e sociais que foram empreendidas para beneficiar os cidadãos”, continuou. “Somente uma democracia participativa pode garantir a continuidade de um processo democrático no país.”

Na sexta-feira, após a deposição de Lugo, mais de 2.500 camponeses foram a Assunção, capital do Paraguai, para manifestar apoio ao ex-mandatário.

Difícil volta

À Reuteurs, Lugo também frisou que será difícil retornar ao poder. "No âmbito legal, todas as portas se fecharam ontem, quando deram a constitucionalidade do processo e o reconhecimento da justiça eleitoral. Legalmente não existe um caminho para reverter esta situação", disse.

O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral decidiu que Franco é o presidente constitucional.

"Há uma possibilidade impossível, milagrosa, na qual o mesmo Parlamento possa decidir que se equivocou e que recua (...) fica o caminho político, mas o consenso no Parlamento me parece impossível", acrescentou.

(Com informações de ABC Color e Telesur)

Veja as cinco acusações que levaram ao impeachment de Lugo

Mau uso de quartéis militaresA primeira acusação é o ato político ocorrido, com a autorização do Lugo, no Comando de Engenharia das Forças Armadas em 2009. Grupos políticos da esquerda se reuniram no local, usaram bandeiras e cantaram hinos ideológicos. Segundo o deputado José López Chávez, no ato, as Forças Armadas foram humilhadas, além de terem sido hasteadas outras bandeiras, num desrespeito a um símbolo nacional.
Confronto em CuruguatyNum dos piores incidentes sobre a disputa de terras no Paraguai, Lugo mandou 150 soldados do Exército para desocupar uma propriedade rural numa área de fronteira com o Brasil. No confronto com agricultores, ocorrido na última sexta-feira (15), ao menos 17 pessoas morreram. Das vítimas, sete eram policiais.
ÑacundayOutro ponto está relacionado às invasões de terras na região de Ñacunday, distrito localizado no departamento (equivalente a Estado) do Alto Paraná, a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai. O deputado Jorge Avalos Marín acusa Lugo de gerar instabilidade entre os camponeses na área ao incentivar os próprios “carperos”, como são chamados os que acampa sob lonas pretas, as ditas “carpas”, encarregados da demarcação de terras.
InsegurançaOs parlamentares acusaram ainda o presidente Lugo de não ter sido eficaz na redução da insegurança que assola o país, embora o Congresso Nacional tivesse aprovado mais recursos financeiros. Além disso, eles criticam os gastos com a procura por foragidos do grupo criminoso EPP (Exército do Povo Paraguaio). Segundo o deputado, nunca na história o EPP (Ejercito del Pueblo Paraguayo), o braço armado do Partido de Izquierda Patria Libre, fez tantas vítimas entre integrantes da Polícia Nacional. Apesar disso, a conduta do presidente teria permanecido inalterada, o que teria dado mais poder ao grupo.
Protocolo de Ushuaia 2A assinatura do polêmico documento Protocolo de Usuaia 2 é visto como um atentado contra a soberania da República. Segundo a acusação dos parlamentares, o presidente não foi transparente sobre a assinatura desse documento já que até a presente data não havia encaminhado uma cópia do Congresso. A oposição a Lugo afirma que a assinatura do protocolo poderia resultar no corte do fornecimento de energia ao Paraguai, além de atentar contra a população e ter um claro perfil autoritário. Eles alegam ainda que Lugo tentou incluir medidas para fechar as fronteiras.