No Congresso Nacional, Yoani diz que "brasileiros são como cubanos, mas são livres"
A blogueira cubana Yoani Sánchez foi recebida nesta quarta-feira (20) com mais manifestações, a favor e contrárias, em sua visita ao Congresso Nacional, em Brasília. A blogueira é uma das mais famosas opositoras do governo cubano e autora do blog "Generación Y".
Na entrada, Yoani quase foi esmagada no tumulto entre jornalistas, seguranças e políticos. “Estou feliz por estar aqui”, disse ao entrar no Parlamento.
Na Câmara dos Deputados, onde foi exibido o documentário "Conexão Cuba-Honduras", do cineasta Dado Galvão, no qual a ativista aparece, Yoani destacou as semelhanças entre brasileiros e cubanos. Porém, disse que ao contrário de Cuba, o Brasil é livre. “Sonhamos que um dia Cuba tenha um parlamento que tenha a pluralidade que o Brasil. Os brasileiros são como cubanos, mas são livres. Somos povos muito parecidos na alegria. Somos todos irmãos americanos”, disse.
Yoani afirmou que existe uma "Cuba silenciada" e que seu país "vive-se uma grande censura, um monopólio informativo que está nas mãos de um único partido".
"Há cinco anos abri um espaço virtual chamado Generación Y. Não pensei que minha vida mudaria tanto", declarou. "Mas Cuba não é só um partido, não é só uma ideologia, não é só um homem. Cuba é plural, é diversa e tem diversas cores."
A ativista também falou sobre o período em que não podia sair do país. “Por que um blog caseiro acabia tirando a nossa liberdade de sair de Cuba?”, indagou. Yoani destacou que o dinheiro para viajar foi conseguido por meio de financiamentos em blogs da internet. “Depois daqui vou para Amsterdã (Holanda) e depois visitar a minha irmã na Flórida (EUA)." Ela não falou em momento algum sobre as manifestações que ocorreram na Bahia e sobre as que aconteciam no Congresso.
Em seu Twitter, Yoani disse que a Câmara dos Deputados do Brasil é "impressionante" e contou que recebeu flores de presente.
Manifestações
Estudantes da UnB (Universidade de Brasília) manifestaram apoio com uma faixa de boas-vindas. "Queremos mostrar que no Brasil não tem só alienado", disse Luiza Ramos, estudante de filosofia da UnB.
Na chegada ao plenário da Câmara, manifestantes com a bandeira de Cuba gritavam "Viva Cuba socialista", enquanto apoiadores gritavam "abaixo a ditadura".
"Essa blogueira é agente do imperialismo. Não é independente e é financiada pelo governo americano para fazer campanha contra Cuba", diz o manifestante Pedro Vasconcellos.
O deputado Jair Bolsonaro Bolsonaro (PP-RJ) afirmou que a apoiava porque não queria que "o Brasil virasse Cuba". Ela também foi recebida pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo deputado federal Nelson Marchezan Jr (PSDB-RS), entre outros parlamentares.
A blogueira cubana fez a visita a convite da bancada do PSDB.
Dentro do plenário, também houve manifestações. Duas pessoas pediam a liberação da entrada dos que estavam do lado de fora. Os seguranças também os retiraram no meio do filme.
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) comentou em seu Facebook oficial o tumulto em torno da presença de Yoani. "Vocês não acharam over a importância que boa parte da impressa brasileira deu ao protesto de meia dúzia de pessoas contra a Yoani Sanchez? Pensem: a quem interessa e por que converter Yoani numa "mártir da liberdade" por causa do protesto de meia dúzia de pessoas? Protestos não são legítimos e previstos no regime democrático e de liberdades que a Yoani diz defender? Por que essa 'indignação' com eles? Pensem mais: Por que são justamente ruralistas do DEM e do PSDB mais o Bolsonaro a 'defenderem' a Yoani e tomá-la como peça de oposição? Enfim, uma última pergunta: a meia dúzia de protestantes não deu um tiro no pé ao dar os elementos que a direita esperava pro 'martírio'?", questionou.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) contou detalhes sobre as confusões que aconteceram em Feira de Santana (BA). “Gritaram por cerca de 50 minutos contra ela. Mas conseguimos que fizessem o debate”, disse. Suplicy também fez um pedido para Yoani: “Fale para o Obama que os Estados Unidos acabem com o bloqueio contra Cuba”.
O senador Aloizio Nunes Ferreira (PSDB-SP) pediu desculpas pelo que aconteceu com a blogueira. "É lamentável o que aconteceu com ela no Nordeste", disse, referindo-se aos protestos. Nunes também entregou um livro sobre as Diretas-Já para a blogueira.
O deputado Glauber Braga (PSB-RJ) comentou a restrição da entrada das pessoas que estavam se manifestando nos corredores do plenário. “Preciso fazer a observação que se defende tanto liberdade de expressão, mas restringiram a entrada deles. Isso já fere essa liberdade”, afirmou.
Braga também fez questões relacionadas à prisão de Guantanamo, embargo americano e posições políticas de Cuba. Yoani se mostrou contra contra a prisão e embargo: “Sempre fui contra o embargo americano em Cuba. O embargo é hoje uma razão para o regime de Cuba continuar assim. O governo usa o embargo para explicar o fracasso.”
Histórico de protestos
Desde que chegou ao Brasil, Yoani tem presenciado diversos protestos contra a sua presença no país. A dissidente foi alvo de protestos nos aeroportos do Recife e de Salvador.
Yoani desembarcou em Salvador na segunda-feira e seguiu para Feira de Santana (BA) na terça-feira para dar uma palestra e assistir ao documentário. Sobre os protestos, Yoani, no início, disse que as manifestações eram um “um banho de democracia”. Ontem, no entanto, ela mudou de tom e comparou os manifestantes a terroristas. "Os gritos, os insultos, foi como se tivessem sido orquestrados por terroristas. Eu sou uma pessoa pacífica, e trabalho com o verbo, com a fala, não tinha porquê tanta agressividade."
As manifestações chegaram a impedir uma das exibições do documentário. Ontem, no Plenário do Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez uma defesa veemente da liberdade de expressão e da cubana.
Está é a primeira viagem internacional de Yoani após cerca de 20 tentativas malsucedidas de sair de Cuba nos últimos cinco anos.
No último domingo, Yoani iniciou uma série de viagens por dez países, começando pelo Brasil. No total, a ativista ficará fora de Cuba por 80 dias.
Durante anos, Yoani foi impedida de sair da ilha, onde é acusada de trair os princípios revolucionários do governo dos irmãos Castro, Fidel e Raúl.
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