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Blogueiro sumido em 2011 no Bahrein reaparece após fuga à la "Argo"

Foto recente de Ali Abdulemam, blogueiro bareinita - Reprodução/Al Jazeera
Foto recente de Ali Abdulemam, blogueiro bareinita Imagem: Reprodução/Al Jazeera

Do UOL, em São Paulo

10/05/2013 14h56

Ali Abdulemam, 35, blogueiro e opositor do governo do Bahrein, reapareceu nesta sexta-feira (10), após dois anos sumido. O dissidente foi condenado a 15 anos de prisão em seu país por fazer críticas ao regime.

O blogueiro é o criador do site "Bahrain Online", primeira página bareinita a permitir que seus usuários discutissem sem restrições a política e a vida do país. Apesar das tentativas do governo de bloquear o site, ainda é possível burlar a censura estatal. Por isso, e por seus esforços em denunciar violações de direitos humanos no país, Abdulemam foi detido algumas vezes pelo governo, torturado e espancado.

Fuga à moda "Argo"

Agora, se sabe que o blogueiro passou o tempo todo escondido no Bahrein, até dezembro de 2012. Ativistas de outros países conceberam um plano mirabolante para tirá-lo do país que mais lembra a história de Argo, o plano usado pela CIA no Irã que virou livro e filme. O momento para pô-lo em prática seria dezembro de 2012 época da visita da estrela de reality show Kim Kardashian ao país

A ideia era aproveitar a importância que o governo bareinita daria à celebridade para 'contrabandear' um ator de Los Angeles ao Bahrein, deixá-lo fisicamente semelhante a Abdulemam com uso de maquiagem, e do mesmo modo, deixar o blogueiro parecendo outra pessoa. Assim, o falso blogueiro trocaria de lugar com seu "dublê" e fugiria do país de avião. 

O plano de usar um dublê foi abortado em cima da hora, porque Abdulemam conseguiu outra oportunidade de escapar. Ele deixou o Bahrein escondido no compartimento secreto de um carro, que saiu do país pela Arábia Saudita. De lá, o ativista foi para o Kuwait e 'contrabandeado' em um barco pesqueiro até o Iraque. 

Do Iraque, Abdulemam pegou um voo até Londres, onde conseguiu asilo há cerca de duas semanas. 

Sumiço

Em 17 de março de 2011, o blogueiro enviou uma mensagem lacônica em seu perfil no Twitter: "cansei do meu telefone, então, eu o desliguei. Sem  rumores, por favor." Três dias depois, a polícia invadiu a casa de Abdulemam e, em junho de 2011, submeteu o ativista a um julgamento por uma corte militar - sem que se soubesse seu paradeiro. 

A Justiça do país condenou Abdulemam a 15 anos de prisão por conspirar e planejar um golpe de Estado.

Desde seu julgamento à revelia, Abdulemam estava sumido. Seu desaparecimento levou ativistas a criarem um perfil na rede de microblogs, "Onde está Abdulemam?", e uma página na enciclopédia online Wikipedia com referências ao sumiço do blogueiro.

Família no Bahrein

A mulher e filhos do blogueiro ainda estão no Bahrein. Ele tentará trazê-los do país com o auxílio do governo do Reino Unido.

Enquanto isso, o ativista falará na próxima semana no Fórum da Liberdade de Oslo, na Noruega, e de lá irá a Copenhague (Dinamarca), onde receberá um prêmio em dinheiro. A ideia do ativista, segundo o site "The Atlantic", é usar o prêmio para se estabelecer no Reino Unido com sua família.

Na primeira entrevista concedida a um jornal desde que saiu do Bahrein, o blogueiro disse ao britânico "The Guardian" que "o Ocidente e a comunidade internacional viraram as costas" ao Bahrein. "Pessoas estão morrendo na cadeia. Nossas mesquistas foram destruídas e pessoas, alvejadas nas ruas. Não há justiça. Você vê o sangue delas nas estradas. A resposta do Ocidente é que eles veem boas reformas. A realidade é que o povo não tem direitos humanos, nem civis."