Separatistas admitem ter transferido dezenas de corpos do avião malaio
Os separatistas pró-Rússia reconheceram neste domingo (20) já ter transferido para a cidade de Donetsk, no leste da Ucrânia, dezenas de corpos das vítimas do avião malaio derrubado na quinta-feira (17) na região por um míssil. Eram 298 pessoas a bordo, todas morreram.
Um dos líderes dos rebeldes, Sergei Kavtaradze, explicou que os milicianos não tiveram outra solução a não ser levar os corpos das vítimas que acabaram espalhados em ruas residenciais e casas.
"Recolhemos os corpos espalhados nas ruas da cidade, nos pátios das casas e inclusive em uma casa, onde acabaram por atravessar os telhados. Deixá-los ali era impossível do ponto de vista sanitário. Os corpos foram levados a Donetsk, onde permanecerão até que cheguem os especialistas", disse Kvartadze.
O governo da Ucrânia acusou neste sábado (19) os rebeldes pró-Rússia, que controlam a região onde o voo MH17 da Malaysia Airlines foi derrubado, de tentar destruir as evidências de "crimes internacionais" e remover 38 corpos do local do incidente.
"Milicianos armados afastaram as equipes de resgate e os deixaram sem meios de comunicação. Levaram os corpos em um caminhão", disse uma fonte do governo da região onde aconteceu o acidente.
Kiev alegou que separatistas estariam tentando transportar os destroços do avião para a Rússia e disse que a comunidade internacional deveria pressionar Moscou pela retirada dos rebeldes e para que especialistas ucranianos e internacionais realizem suas investigações.
"Há trabalhadores do serviço federal de emergências no local, mas eles não têm liberdade de movimento. Eles não são autorizados a deixar a zona (sob o controle dos rebeldes). Os terroristas estão pegando todas as evidências que eles coletam", contou Andriy Lysenko, porta-voz do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia.
Segundo a Malaysia Airlines comunicou neste sábado, a bordo do voo MH17 estavam 192 holandeses (um deles também tinha nacionalidade americana), 44 malaios (incluídos os 15 membros da tripulação e os dois bebês), 27 australianos, 12 indonésios (entre eles um bebê), dez britânicos (um deles com dupla nacionalidade sul-africana), quatro alemães, quatro belgas, três filipinos, um canadense e um neozelandês.
Equipes de busca resgataram até agora 186 corpos de uma área no leste da Ucrânia, atualmente controlada pelos rebeldes.
Investigação
O governo ucraniano, que vai liderar a investigação junto com uma equipe multinacional, montou um centro de gestão da crise em Kharkiv, e os separatistas fizeram o mesmo em Mariupol, uma das cidades ao leste do país que estão sob seu domínio.
Investigadores até o momento têm acesso limitado em meio ao conflito entre os rebeldes e o governo ucraniano.
Um grupo de analistas da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) conseguiu chegar a um campo aberto na cidade de Grabovo, na região de Donetsk, após intensa discussão com milicianos pró-russos. "Se vocês não me deixaram fazer meu trabalho, me queixarei a (Aleksandr) Borodai", disse o suíço Alex Hug, chefe da missão internacional da OSCE para a Ucrânia, se referindo ao líder dos insurgentes pró-russos, segundo a EFE. Após aproximadamente 30 minutos de debate, os especialistas se resignaram a seguir a rota indicada pelos milicianos.
Mais cedo, a entidade havia dito que separatistas limitaram o acesso aos destroços da aeronave e que homens armados realizavam a segurança da área, e um deles atirava para o ar. Separatistas haviam garantido que permitiriam o acesso de investigadores internacionais à área da queda do avião.
Três investigadores de acidentes aéreos da Holanda e o ministro dos Transportes da Malásia, Liow Tiong Lai, foram para a Ucrânia para garantir o acesso dos investigadores ao lugar onde estão os destroços do avião e evitar que os destroços e evidências sejam manipulados ou adulterados.
"Queremos garantir um corredor seguro ao local", disse Liow, ressaltando que o governo ainda não pode ser pronunciar sobre quem tem a posse das caixas-pretas do avião, que segundo a agência russa "Interfax" foram encontradas por rebeldes ucranianos.
O governo malaio pediu à ONU que garanta a segurança das equipes de resgate da Malásia e que as provas relacionadas com o incidente não sejam manipuladas. "Caso a investigação determine que o MH17 foi derrubado, exigiremos que os culpados sejam levados à Justiça", disse.
O ministro da Defesa do país, Hishammuddin Hussein, confirmou através do Twitter que sua avó adotiva está entre as 44 vítimas malaias.
O avião da Malaysia Airlines fazia o voo de Amsterdã a Kuala Lumpur e caiu entre Krasni Luch, na região de Luhansk, e Shakhtarsk, em Donetsk.
Troca de acusações
A Ucrânia classificou a queda como um "ato de terrorismo" e divulgou o que disse ser ligações interceptadas que provam que a aeronave foi derrubada por separatistas. Mas os rebeldes pró-Rússia alegam que um jato da força aérea ucraniana abateu o avião.
Ainda não há confirmação sobre o que provocou a queda do Boeing 777, mas acredita-se que a aeronave tenha sido atingida por um míssil terra-ar disparado de uma área sob controle de rebeldes no leste da Ucrânia.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse na sexta-feira que há "evidências" de que o avião foi derrubado por separatistas apoiados pela Rússia. Ele ressaltou que a ajuda dada por Moscou a rebeldes inclui armamentos antiaéreos, mas disse que ainda é cedo para cravar quais eram as intenções de quem lançou o míssil.
A Rússia, no entanto, tem atacado países do Ocidente, acusando-os de travar uma guerra de informação contra Moscou. O Ministério da Defesa russo desafiou a Ucrânia a detalhar a operação de seus sistemas antiaéreos no momento da queda.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na sexta-feira um comunicado pedindo por uma "investigação internacional independente e completa". (Com agências internacionais)
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