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Confronto na fronteira da Venezuela com Brasil deixa um morto, diz oposição

Talita Marchao*

Do UOL, em São Paulo

22/02/2019 12h15Atualizada em 25/02/2019 17h36

Ao menos uma pessoa morreu na fronteira entre Brasil e Venezuela hoje durante confrontos com forças de segurança do ditador Nicolás Maduro. A fronteira está fechada desde a noite de ontem por ordem de Maduro, e a região de Santa Elena do Uairén (Venezuela) teve o efetivo militar reforçado nos últimos dias para evitar a entrega da ajuda humanitária. Ao menos 12 pessoas ficaram feridas --a imprensa venezuelana afirma que este número pode chegar a 22.

Segundo autoridades, a vítima é da comunidade indígena Kumaracapay. A morte foi confirmada pelo presidente interino, Juan Guaidó: a indígena Zoraida Rodriguez. Segundo Guaidó, dois soldados dispararam contra indígenas que se manifestavam em um posto de controle em apoio à entrada das doações. Os deputados opositores Americo de Grazia e Jose Guerra e a ONG venezuelana Kapé-Kapé informaram que uma segunda pessoa teria morrido: o indígena Rolando García. Entretanto, o hospital de Boa Vista (RR) confirmou que Garcia estava entre os feridos que foram atendidos no local.

Em declarações para a agência de notícias Associated Press, o prefeito de Gran Sabana, Emilio Gonzáles, afirmou que os soldados dispararam balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Manifestantes venezuelanos se aglomeram na fronteira com o Brasil defendendo a entrada de ajuda humanitária  - Reprodução - Reprodução
Manifestantes venezuelanos se aglomeram na fronteira com o Brasil defendendo a entrada de ajuda humanitária
Imagem: Reprodução

Em um vídeo publicado pela rede venezuelana NTN24, um dos indígenas feridos hoje pela Guarda Nacional, Alberto Delgado, afirmou que entrou no conflito porque não tem mais condições de arcar com a saúde de seus familiares. Um deles faz tratamentos em Boa Vista, capital de Roraima.

"Eu fiz isto pelo meu avô que está doente, tem seis anos que está doente, na cama. Então eu estou fazendo pelo meu tio, Jorge Wiliam, que está em uma cadeira de rodas. Estou fazendo pelo meu tio Cipriano Lopez, que está em Boa Vista fazendo hemodiálise toda semana e nós temos que gastar dinheiro", relatou Delgado.

Me balearam nas pernas e espero que toda Venezuela veja isso, para tirar esse criminoso. O criminoso e único responsável se chama Maduro. Maduro tem que sair já, a partir de agora. Venezuela, agora levante-se para tirar esse criminoso
Alberto Delgado, indígena ferido em confronto na fronteira entre Brasil e Venezuela

A Secretaria de Saúde de Roraima confirmou ao UOL que os feridos foram levados para atendimento em Boa Vista, que fica a cerca de 200 quilômetros da cidade de Pacaraima (RR) --a fronteira foi aberta para que ambulâncias transportassem as vítimas.

Desde que o Brasil começou, há poucos dias, a organizar o envio de ajuda humanitária em Pacaraima, soldados e tanques venezuelanos foram enviados para a região de fronteira.

Autoridades brasileiras afirmaram ontem que a entrega de alimentos e medicamentos, solicitados pelo autoproclamado presidente Juan Guaidó, está mantida apesar do fechamento da fronteira. A operação deve ser realizada amanhã, com a coordenação do governo dos Estados Unidos --o plano prevê que caminhões e motoristas venezuelanos venham até o lado brasileiro para buscar as doações, e nenhum brasileiro integrante da missão entrará em território venezuelano.

Segundo o governo brasileiro, um avião da Força Aérea foi para Boa Vista com quase 23 toneladas de leite em pó e 500 kits de primeiros socorros e medicamentos.

Guaidó pediu que os militares "definam como querem ser lembrados".

Já sabemos que vocês estão com o povo, vocês nos deixaram isso bem claro. Amanhã [na passagem da ajuda humanitária] poderão demonstrar isso
Juan Guaidó, aos militares, referindo-se ao fechamento das fronteiras

Maduro defende Forças Armadas

Em seu perfil no Twitter, Nicolás Maduro publicou um vídeo institucional de apoio às Forças Armadas venezuelanas, ressaltando seu "total respaldo" aos militares. 

"Nossa #FANB está implantada  território nacional para garantir a paz e a defesa integral do país. Todo o meu apoio ao REDI [Regiões de Defesa Integral] e ao ZODI [Zonas de Defesa Integral]. Máxima moral, coesão máxima e ação máxima. Venceremos!", escreveu Maduro.

O líder venezuelano, no entanto, não fez referências diretas às mortes que aconteceram na fronteira com o Brasil. 

*Colaboraram Mirthyani Bezerra e Alex Tajra, do UOL em São Paulo.

Maduro manda fechar fronteira terrestre com o Brasil

UOL Notícias
Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em versão anterior deste texto e pela homepage do UOL, o indígena venezuelano Rolando García não está entre os mortos em protestos na região da fronteira do Brasil e da Venezuela. A informação sobre a morte de García foi dada por deputados e uma ONG. Entretanto o hospital de Boa Vista (RR) confirmou que ele está entre os feridos atendidos no local. A informação foi corrigida