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'Entramos com chaves', diz equipe de Guaidó; Maduro fala em 'ato violento'

Bruno Aragaki

Do UOL, em São Paulo*

13/11/2019 10h54Atualizada em 13/11/2019 17h47

A equipe que trabalha em Brasília em nome de Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela e reconhecido pelo Brasil como mandatário daquele país, afirmou hoje que acessou "com chaves" a embaixada venezuelana em Brasília. Mas comunicado emitido pelo regime de Nicolás Maduro fala em "tomada violenta" e exige reação do governo brasileiro.

O confronto expõe ainda uma situação inusitada na embaixada da Venezuela no Brasil: oficialmente, o governo brasileiro reconhece Guaidó como presidente da Venezuela, e María Teresa Belandria Expósito como sua embaixadora. Mas a equipe que responde a Jorge Arreaza, chanceler de Maduro, segue trabalhando no local.

Veja a diferença de versões:

Versão da equipe de Guaidó

"Não há nenhuma fechadura danificada, nem violentada", diz mensagem distribuída a jornalistas pela assessoria de María Teresa Belandria Expósito, reconhecida pelo Itamaraty como embaixadora da Venezuela no país.

Mais cedo, Expósito negou que a embaixada do país em Brasília tenha sido invadida por apoiadores do opositor de Maduro.

"Um grupo de funcionários da embaixada da Venezuela no Brasil entrou em contato conosco para nos informar que reconhecem o presidente Juan Guaidó. Eles começaram a abrir as portas e entregar voluntariamente a sede diplomática à representação legitimamente credenciada no Brasil. Essa ação foi imediatamente comunicada ao Ministério das Relações (Exteriores)", diz a nota assinada pela representante.

O jornal Folha de S.Paulo informou que um grupo de apoiadores de Guaidó pulou um muro e invadiu a embaixada.

O comunicado, no qual Expósito se autodeclara embaixadora, ainda diz que os funcionários "foram convidados a participar do trabalho na embaixada, tendo garantidos todos os seus direitos trabalhistas". "Finalmente, comunicamos nossa melhor disposição de mediar com as autoridades brasileiras caso decidam não sair do país", diz o documento.

"Valorizamos o reconhecimento do governo legítimo do presidente Guaidó e solicitamos a todos os funcionários credenciados na embaixada e nos 7 consulados venezuelanos a adotarem a mesma decisão e participarem do trabalho em prol de todos os venezuelanos residentes no Brasil", termina a nota.

Além do Brasil, mais 49 países reconhecem Guaidó como presidente do país. Mas ainda não há um reconhecimento de órgãos internacionais, que mantêm Nicolás Maduro como o presidente da Venezuela.

Chanceler de Maduro contesta versão

A versão de Expósito é contestada pelo chanceler do governo Maduro, Jorge Arreaza.

Em comunicado divulgado nesta tarde, Arreza classifica de "mentira" a versão de que funcionários da embaixada tenham facilitado a entrada da equipe pró-Guaidó.

Ele afirmou no Twitter que a embaixada foi "invadida à força na madrugada" e cobrou o governo brasileiro a garantir a segurança de seu pessoal e de suas instalações. "Exigimos respeito à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", afirmou.

Grupos de lados rivais estão na embaixada

Um grupo de apoiadores de Maduro também foi até a embaixada e entrou em confronto com os partidários de Guaidó. "Os dois grupos estão lá dentro, tentando encontrar uma solução pacífica", disse o tenente Zé Fonseca à entrada da sede diplomática, da Polícia Militar (PM).

O incidente ocorre no momento em que Brasília é sede da cúpula do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O Ministério das Relações Exteriores quer priorizar a segurança de todos os envolvidos, mas a situação sobre quem passará a ocupar de vez a representação continua indefinida.

"A missão do nosso colega que está lá [na embaixada] é acalmar todo mundo e, a partir daí, tentar um entendimento para uma solução pacífica. Agora, tem várias interpretações [se foi entrada consensual ou invasão]. Em primeiro lugar, a integridade física", informou ao UOL um diplomata a par do caso.

Um diplomata brasileiro foi enviado ao local junto com a PM-DF para mediar a situação. Segundo a PM, os policiais aguardam uma autorização do Ministério das Relações Exteriores para agir. O representante do Itamaraty, Maurício Correia, está negociando com os manifestantes, de acordo com a polícia. A PF (Polícia Federal) também deverá entrar nas negociações.

O ministro-conselheiro de Guaidó, Tomas Silva, está na embaixada. Em vídeo, ele disse que funcionários da embaixada no Brasil reconheceram Guaidó como presidente. "Estamos felizes, contentes. A dignidade volta, está conosco."

Também estão presentes apoiadores de Maduro, como o encarregado de negócios da embaixada da Venezuela no Brasil, Fredy Meregote, com políticos de oposição ao governo Bolsonaro, como o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS).

Ao reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela, o governo de Bolsonaro não renovou as credenciais dos representantes do governo de Maduro. Os diplomatas de Maduro, porém, não foram expulsos da embaixada em Brasília.

O que pensa o governo brasileiro?

O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) disse que Bolsonaro "jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela por partidários" de Guaidó. O órgão diz que as forças de segurança da União e do Distrito Federal atuam para tomar "providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade".

Possíveis efeitos

Diplomatas brasileiros em Caracas temem reflexos da entrada de apoiadores de Guaidó. Segundo o blogueiro do UOL Jamil Chade, eles estão receosos de que a segurança no exterior possa estar comprometida. A situação ficaria pior, na avaliação dos diplomatas, caso o governo brasileiro decida apoiar o grupo ligado a Guaidó que entrou na embaixada.

O temor é motivado por uma sinalização do filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Como consequência, o governo de Maduro poderia expulsar diplomatas brasileiros em Caracas.

* Com informações de Luciana Amaral e Eduardo Militão, do UOL, em Brasília, e da AFP