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China diz ver indícios de fraude em sementes misteriosas enviadas ao Brasil

Embaixada da China se disse disposta a cooperar com a investigação das autoridades brasileiras - Reprodução/Twitter
Embaixada da China se disse disposta a cooperar com a investigação das autoridades brasileiras Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

01/10/2020 15h36Atualizada em 01/10/2020 17h42

A Embaixada da China no Brasil anunciou ter verificado indícios de fraude nas etiquetas dos pacotes de sementes de plantas enviados do país asiático para diferentes endereços brasileiros. A procedência dessas sementes misteriosas está sendo investigada pelo Ministério da Agricultura.

Em nota, o órgão chinês disse ter sido informado pela Agricultura e pela imprensa que brasileiros de diferentes partes do país têm recebido pacotes contendo sementes de plantas e que alguns desses pacotes trazem etiquetas com ideogramas chineses.

A Embaixada explicou, porém, que sementes são artigos de envio proibido ou restrito para os países membros da UPU (União Postal Universal), da qual o Brasil não faz parte. Os Correios da China, disse o órgão, "seguem rigorosamente as disposições da UPU e vetam o transporte postal de sementes".

"Uma verificação preliminar constatou que as etiquetas de endereçamento apresentam indícios de fraude, com erros no código de rastreamento e em outros dados. A Embaixada está disposta a cooperar com a investigação das autoridades brasileiras", concluiu.

Casos no Brasil

Nos últimos dias, moradores do Distrito Federal e de estados como Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e Rondônia relataram ter recebido sementes por via postal.

Em Santa Catarina, por exemplo, moradores relataram que os pacotes misteriosos vieram junto com uma encomenda de objetos de decoração que fizeram da China. Em outros estados, porém, as sementes chegaram sem que ninguém tivesse feito compra alguma.

As sementes foram classificadas como um "brinde perigoso" pela Cidasc (Companhia de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina). O órgão ainda orientou que moradores — e especialmente produtores rurais — não façam qualquer uso das sementes e também não as joguem no lixo. A recomendação é para que levem até um escritório da companhia ou do Ministério da Agricultura.

No Rio de Janeiro, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, foram recolhidos 24 pacotes de sementes vindos do exterior, a maior parte (19) em Niterói. O governo fluminense também orienta que os moradores não abram os pacotes misteriosos e informem as autoridades caso recebam algum.

Riscos

Apesar de parecerem inofensivas, as sementes podem estar contaminadas e disseminar pragas e doenças, causando sérios prejuízos econômicos e danos do ponto de vista da defesa sanitária vegetal. Alguns exemplos citados pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo são:

  • Introdução de plantas daninhas: alguma espécie vegetal sem ocorrência no Brasil pode ser difícil de ser controlada e/ou aumentar o uso de defensivos, afetar a produtividade agrícola e pecuária e causar riscos ao ambiente;
  • Disseminação de doenças e pragas: as sementes de origem desconhecida podem ser disseminadoras de insetos praga, podendo comprometer a produtividade de lavouras e aumentar o custo produção. Podem estar contaminadas por fungos, bactérias e vírus e tornarem-se vetores de grandes epidemias de doenças no campo.

Hipótese de golpe

As histórias de sementes vindas da China que chegam a consumidores já datam de meses. Casos foram relatados na Europa e ganharam maior repercussão nos Estados Unidos, por conta da tensão entre americanos e chineses. Mas a hipótese mais provável, considerada inclusive pela Defesa Sanitária Vegetal catarinense, é a de um simples golpe para conseguir mais vendas na internet.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) trabalha com a possibilidade de que as encomendas indesejadas estejam relacionadas a uma fraude conhecida como "brushing".

O "brushing" é, essencialmente, o envio de mercadorias não solicitadas com o objetivo de registrar compras falsas. A semente, no caso, apenas cumpre a finalidade de não deixar o pacote vazio. Isso explicaria por que as autoridades até agora não encontraram sinais de tentativas de bioterrorismo ou contaminação.

*Com Estadão Conteúdo