Brasileiras contam como votaram por correio e e-mail nas eleições dos EUA
Quando Maíra Leme descobriu que não estaria nos Estados Unidos no dia das eleições americanas, ficou preocupada. A brasileira, que mora em Orlando há oito anos, recebeu a cidadania americana no início deste ano e estava ansiosa para votar por lá pela primeira vez.
"Eu queria votar e descobri que estaria no Brasil", afirma. A incerteza, conta, não durou muito tempo: ela logo conseguiu ligar para o setor responsável pelas eleições em seu condado e recebeu as instruções de como poderia votar, mesmo estando em outro continente.
"Eles me mandaram por e-mail um formulário perguntando em qual endereço eu estaria, para qual eleição eu gostaria de votar", diz ela, que conta ter assinado e enviado novamente o documento. "A assinatura é muito importante, porque é assim que eles reconhecem que o voto é legítimo."
Duas semanas depois, conta, recebeu a cédula de votação por e-mail. "Imprimi, marquei minhas escolhas e mandei de volta por e-mail", explica.
Maíra não foi a única a optar por esse caminho para conseguir votar. Em meio à pandemia do coronavírus, os Estados Unidos viram um salto no número de votos enviados por correspondência: cerca de 40% dos quase 159 milhões de votantes nas eleições deste ano optaram por depositar suas cédulas pelo correio.
Nos Estados Unidos, quem for cidadão americano e estiver fora do país na época das eleições pode votar por correio, fax, e-mail ou levando a cédula até alguma embaixada. As regras e as possibilidades variam de acordo com o estado em que a pessoa estiver registrada para votar.
A brasileira Karina Abud, que mora em São Paulo e tem cidadania americana, é uma das pessoas que optaram pelo voto por correspondência. Foi também a primeira vez que ela participou de uma eleição nos Estados Unidos.
"Meus primos que moram nos Estados Unidos me ajudaram. Eles falaram que dava para votar daqui e me disseram o endereço para onde eu teria que enviar [a cédula]. Foi uma decisão tomada três meses atrás", diz.
Karina afirma que optou por registrar seu voto na Pensilvânia, onde tem familiares, por acreditar que esse seria o estado onde seu voto "contaria mais". Ela diz que sua maior motivação para participar nas eleições deste ano foi "tirar" o republicano Donald Trump da Presidência do país.
Ela conta que, após ter feito seu cadastro no sistema americano e ter indicado a necessidade de votar a distância, recebeu por e-mail a cédula de votação, que só podia ser acessada com uma senha. Karina então imprimiu o documento, assinalou suas escolhas e enviou a cédula pelo correio.
"A postagem é paga pelos Estados Unidos, então não tive que pagar nada", afirma. Na avaliação dela, o processo não foi difícil, mas sim complicado. "Não é tão simples ler o e-mail e pegar a senha para acessar a cédula. Depois, não é tão fácil entender até quando você pode postar a cédula."
Maíra, que votou por e-mail, diz ter se surpreendido com a opção. "Achei que eu não fosse conseguir, ou que fosse por correio. Foi tudo muito claro, fácil e organizado."
Chance de fraude é nula, dizem especialistas
Sem apresentar evidências, Trump e seus aliados já afirmaram que o aumento no número de votos por correspondência pode indicar fraude nas eleições americanas deste ano. Não há indícios, no entanto, de que isso aconteça. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a probabilidade de fraudes nas eleições americanas é praticamente nula.
Entre as medidas de segurança adotadas por todos os estados do país, estão a obrigatoriedade de que o eleitor assine um termo ou declaração ao votar por correio. A firma que consta nesse documento é então comparada com outra assinatura do eleitor, cadastrada previamente no sistema eleitoral.
Há ainda estados que exigem assinatura de testemunhas ou reconhecimento de firma em órgãos oficiais. Já no Alabama, por exemplo, os eleitores devem enviar cópias de um documento de identidade, além das assinaturas de testemunhas.
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