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Governo russo anuncia retirada de parte de tropas da fronteira com Ucrânia

Arquivo; Tanque russo durante exercício militar na região de Rostov, na fronteira com a Ucrânia - Sergey Pivovarov/Reuters
Arquivo; Tanque russo durante exercício militar na região de Rostov, na fronteira com a Ucrânia Imagem: Sergey Pivovarov/Reuters

Do UOL, em São Paulo*

15/02/2022 06h32Atualizada em 15/02/2022 11h22

A Rússia anunciou hoje que algumas unidades militares posicionadas na fronteira com a Ucrânia, cuja presença provocava o temor de uma operação militar iminente no país vizinho, começaram a retornar aos quartéis.

"As unidades dos distritos militares Sul e Oeste, que já concluíram suas tarefas, começaram a carregar equipamentos para o transporte ferroviário e rodoviário e começarão hoje o retorno para seus quartéis", afirmou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor Konashenkov, citado por agências de notícias russas.

O Kremlin confirmou o início da retirada das tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia, ressaltando que é algo "normal" e denunciando, mais uma vez, a "histeria" ocidental diante de uma suposta invasão do país vizinho.

"Sempre dissemos que depois das manobras (...) as tropas voltarão para seus quartéis de origem. E é isso que está acontecendo agora. É o procedimento habitual", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

O anúncio, o primeiro sinal de distensão por parte de Moscou, foi vago e não é possível saber o número de soldados que afeta. A Rússia mobilizou mais de 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia desde dezembro.

Ao mesmo tempo, a Rússia mantém as manobras militares em Belarus, país vizinho da Ucrânia, que devem prosseguir até 20 de fevereiro.

A retirada de algumas tropas foi recebida com entusiasmo na Ucrânia, onde o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, afirmou que seu país, ao lado dos aliados ocidentais, "conseguiu impedir uma nova escalada russa.

Já estamos em meados de fevereiro e vemos que a diplomacia continua funcionando", disse Kuleba.

Mas o ministro destacou que a tensão permanece ao longo da fronteira e que a Rússia deve retirar as tropas restantes.

"Temos uma regra: não acredite no que você ouve, acredite no que você vê. Quando observarmos uma retirada, vamos acreditar na desescalada", disse.

O anúncio russo coincide com a visita a Moscou do chanceler alemão Olaf Scholz, que tenta avançar com as negociações diplomáticas e afastar o fantasma de uma invasão e uma guerra no leste da Europa.

A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, pediu à Rússia que retire suas tropas da fronteira. "A situação é particularmente perigosa e pode ficar mais grave a qualquer momento", alertou em um comunicado.

"Dia de unidade"

Na segunda-feira, a Rússia já havia apresentado um pequeno sinal positivo quando o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, destacou uma "possibilidade de solucionar os problemas" pela via diplomática.

O caminho do diálogo "não se esgotou, mas tampouco pode durar de modo indefinido", acrescentou Lavrov, com um tom mais pausado e diferente das declarações ofensivas dos dias anteriores. O ministro também considerou "construtivas" algumas propostas dos Estados Unidos.

Em Washington, as autoridades alertaram que a invasão russa poderia acontecer "a qualquer momento".

A embaixada americana em Kiev foi transferida para Lviv, oeste do país, ontem, ignorando os apelos do presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, que pediu aos governos que não se deixem levar pelo pânico.

Alguns meios de comunicação indicaram que a suposta invasão russa da Ucrânia poderia começar na quarta-feira. Mais uma vez, Zelensky abordou as especulações com uma dose de sarcasmo.

"Nos disseram que 16 de fevereiro seria o dia do ataque. Vamos transformá-lo em um dia de unidade", disse, antes de pedir aos ucranianos que exibam a bandeira nacional na data.

A ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, disse nesta terça-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda tem tempo para evitar uma guerra, mas enfatizou que o prazo é "limitado"

"Podemos estar à beira de uma guerra na Europa que teria graves consequências, não apenas para as populações da Rússia e da Ucrânia, mas de uma forma mais geral para a segurança da Europa", declarou a chefe diplomacia britânica ao canal Sky News.

Trincheiras

A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014 e apoia desde então os separatistas pró-Moscou que lutam no leste da Ucrânia, nega qualquer intenção bélica.

O país afirma que sente estar ameaçado pela expansão da Otan para o leste da Europa e exige "garantias de segurança" como um compromisso para que a Ucrânia nunca entre para a aliança militar.

Nesta terça-feira, o Parlamento russo pediu ao presidente Putin que reconheça a independência das regiões separatistas da Ucrânia.

O presidente da Câmara Baixa do Parlamento (Duma), Vyacheslav Volodin, escreveu nas redes sociais que os legisladores decidiram pedir a Putin que reconheça a "República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk", duas regiões separatistas do leste da Ucrânia como "Estados soberanos e independentes".

Sob risco de irritar o Kremlin, o presidente ucraniano reiterou na segunda-feira que Kiev deseja entrar para a Otan para "garantir sua segurança".

A possível adesão ainda não está na agenda da aliança nem há um calendário previsto para examinar a questão, mas os ocidentais consideraram as exigências russas inaceitáveis. Porém, apresentaram a proposta de diálogo sobre outras questões, como a limitação de armas.

Na expectativa de eventuais progressos na frente diplomática, no sudeste da Ucrânia, perto da linha de frente com os separatistas, a população se prepara com a perspectiva de um ataque.

"Cavamos trincheiras nas quais os soldados ucranianos poderão pular e se defender com mais facilidade", declarou à AFP Mikhailo Anopa, adolescente de 15 anos, com um uniforme de camuflagem emprestado.

* Com AFP