'Quero cruzar a fronteira': brasileiro relata em vídeos a rotina na Ucrânia
O brasileiro Rafael de Sousa Pinto está usando o seu canal no YouTube voltado ao turismo em diversos locais do mundo para retratar a realidade na Ucrânia após a invasão russa iniciada na madrugada de hoje.
Nas últimas horas, o bartender mostrou a movimentação nas ruas, em um supermercado, relatou a dificuldade para retirada de dinheiro em caixas eletrônicos e revelou que iria tentar deixar o país em um trem.
"Quero cruzar a fronteira. Estou aqui correndo, fazendo as malas e abandonando a minha casa. Se não funcionar, volto. Uns amigos querem ficar. Eu quero ir", disse em seu último registro.
- Veja as últimas informações sobre a guerra na Ucrânia e mais no UOL News com Fabíola Cidral:
A Embaixada do Brasil na Ucrânia orientou os brasileiros fora de Kiev a deixar o país europeu imediatamente. Aqueles que estiverem na capital devem procurar abrigo em um local seguro, informou. Segundo a entidade, há cerca de 500 brasileiros que moram em solo ucraniano.
Nos vídeos, Rafael não revela em que cidade está. Contudo, se identifica como morador de Kiev em seu perfil no Facebook. "São 8h (3h pelo horário de Brasília) e os supermercados estão cheios de pessoas com sacolas imensas. Escuto sirenes a todo momento na cidade", disse em um dos vídeos, em espanhol.
Em outra publicação, aparece caminhando pelas ruas enquanto narra o que vê. "O sistema de correios está parado. Os bancos têm restrições para retirada de dinheiro. Só é possível sacar cem euros por pessoa. A cidade está em silêncio. Mas onde estou, não há explosões. Vou informando a vocês".
Em uma postagem posterior, grava as imagens de um supermercado enquanto faz compras. "As filas são imensas, os produtos estão acabando. Isso aqui está uma loucura", registrou. O UOL não conseguiu contatá-lo pessoalmente. Em um grupo de brasileiros na Ucrânia, ele chegou a Rafael se colocar à disposição para o contato com os jornalistas, mas ainda não respondeu à reportagem.
A Embaixada recomenda que brasileiros que possam deslocar-se por meios próprios para outros países ao oeste da Ucrânia que o façam tão logo possível, após informarem-se sobre a situação de segurança local"
Trecho do comunicado, enviado em um grupo do Telegram para brasileiros na Ucrânia
Em nota à imprensa, o Itamaraty orientou os brasileiros em território ucraniano a manter contato diário com a Embaixada brasileira no país. "Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam."
Jogadores brasileiros que atuam no Shakhtar Donetsk e no Dínamo de Kiev publicaram um vídeo em suas redes sociais pedindo ajuda ao governo brasileiro para deixarem o país.
Há registros de trânsito caótico e filas para abastecer veículos em postos de combustível ou retirar dinheiro em caixas eletrônicos.
Ao menos 137 pessoas morreram após o avanço das tropas russas no sudeste e no sul da Ucrânia, segundo o governo ucraniano. O exército do país informou ter matado cerca de 50 ocupantes russos perto de Shchastia, no leste do país.
Biden condena ataque; Putin ameaça quem tentar intervir
Em comunicado da Casa Branca enviado à imprensa no início da madrugada de hoje, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, disse que a operação militar russa na Ucrânia foi "um ataque injustificado" e que trará "uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano".
"A Rússia sozinha é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de forma unida e decisiva. O mundo responsabilizará a Rússia", completou.
Em um pronunciamento transmitido em cadeia nacional ontem à noite, o presidente russo Vladimir Putin disse ter autorizado aquilo que definiu como "operação militar especial" da Rússia no leste da Ucrânia e mandou recado para aqueles que tentarem intervir: "A Rússia responderá imediatamente e você terá consequências que nunca teve antes em sua história".
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou hoje em um discurso à nação o rompimento das relações diplomáticas com Moscou. Zelensky também adotou lei marcial em todo o território ucraniano, pedindo para que os cidadãos continuem calmos.
A adoção da lei marcial consiste em uma medida que altera as regras de funcionamento de um país, deixando de lado as leis civis e colocando em vigor leis militares.
Mais cedo, o presidente disse que tentou fazer uma ligação para conversar com Vladimir Putin, mas não teve sucesso.
O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico), Jens Stoltenberg, afirmou em entrevista coletiva hoje que o bloco não vai enviar tropas à Ucrânia. O diplomata disse ainda que a Rússia vai pagar um "alto preço político e econômico".
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