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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Rússia mira sistemas de água, energia e comunicação da Ucrânia

Explosão em torre de TV em Kiev - CARLOS BARRIA/REUTERS
Explosão em torre de TV em Kiev Imagem: CARLOS BARRIA/REUTERS

Igor Mello

Do UOL, no Rio

04/03/2022 04h00

Após avançar rapidamente nos primeiros dias de invasão à Ucrânia, as forças armadas da Rússia enfrentaram resistência e passaram a atingir a infraestrutura local, com foco na rede de telecomunicações. O abastecimento de água e energia também está prejudicado em vários pontos do país.

Na terça-feira (1), um ataque atingiu uma torre de TV em Kiev, capital ucraniana. As forças russas emitiram um alerta para que ucranianos que vivem perto de estações de retransmissão na cidade deixem suas casas. Um míssil interceptado por defesas ucranianas atingiu uma estação de trem e uma importante rede de gás na cidade.

Já em Mariupol, cidade com cerca de 430 mil habitantes no sul da Ucrânia, o fornecimento de água e energia elétrica estão prejudicados por conta da ofensiva russa. Ontem, os russos conseguiram invadir a região de Energodar, no sudoeste da Ucrânia, onde está localizada a maior usina nuclear da Europa, Zaporizhzhia.

Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, os ataques têm objetivos militares e também políticos: ao mesmo tempo em que podem desarticular as linhas de defesa ucranianas, os danos à rede de comunicação restringem o acesso da população local a informações sobre a guerra e prejudicam a divulgação de informações por meio das redes sociais, que alimentam críticas no exterior.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Resposta à resistência ucraniana

Segundo analistas internacionais, a invasão russa ocorre em um ritmo mais lento do que o esperado, porque as defesas ucranianas seriam mais sólidas do que supunham as tropas de Vladimir Putin.

Para Lucas Rezende, professor do Departamento de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o Kremlin parte agora para um cerco da capital ucraniana e esse tipo de ataque tem como objetivo enfraquecer a resistência local.

"Na guerra, a defesa sempre tem uma vantagem intrínseca em relação a quem ataca. O ataque precisa superar essas vantagens para ser bem-sucedido. Nesse caso, atingir as redes de telecomunicações e eletricidade visa justamente a prejudicar a comunicação e a infraestrutura básica", explica. "Dessa maneira, desbaratam-se as estruturas da defesa e o ataque pode progredir sem tanta resistência. Cortando as telecomunicações, afetam a comunicação entre as tropas ou mesmo entre essas defesas e a população".

O bilionário sul-africano Elon Musk afirmou que irá fornecer internet via satélite gratuita para os ucranianos para impedir que as comunicações sejam cortadas pelos russos.

Já Thiago Borne, pós-doutorando em Relações Internacionais na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos e Política Internacional Contemporânea, lembra que esse tipo de estrutura geralmente tem um uso duplo —atendendo tanto a propósitos militares quanto civis— e, por isso, mirá-los pode fazer com que a população pressione o governo a negociar uma rendição.

"Parece que a estratégia russa hoje é interferir na capacidade da Ucrânia de se comunicar, seja para fora, seja para dentro. Quando ataca uma torre de TV, passa a mensagem de que vão deixá-los no escuro", avalia.

Borne lembra ainda que, inicialmente, o presidente russo contava com a colaboração de parte da sociedade ucraniana. Putin chegou a pedir que os miltares depusessem o presidente Volodymyr Zelensky e assumissem o poder. Em contrapartida, a população local vem mostrando uma grande vontade de resistir à invasão.

"A tentativa inicial de Putin de tentar de alguma forma conquistar esses corações ucranianos não deu certo. Parece que agora a tentativa é deixar essa população no escuro, para deixar esse nível de moral e mobilização abalado".

Por fim, Borne afirma que é difícil prever as consequências que um cerco prolongado a grandes cidades, como Kiev, pode ter sobre a população civil. Sobretudo, caso a infraestrutura básica seja ainda mais comprometida. Ele lembra que o fluxo de refugiados —que já supera 1 milhão de pessoas, segundo a ONU— deve aumentar.

"A gente sabe que em toda guerra quem mais sofre é a população civil. Já vemos um fluxo migratório muito grande e me parece que a consequência mais lógica é a manutenção e agravamento dessa crise migratória. E sempre há a chance de mais baixas civis", conclui.