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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Evacuação de Mariupol falha novamente, e Ucrânia e Rússia trocam acusações

Guerra entre Rússia e Ucrânia entra no 11º dia; veja imagens do conflito

Do UOL, em São Paulo*

06/03/2022 05h24Atualizada em 06/03/2022 13h15

Pelo segundo dia consecutivo, um acordo de cessar-fogo para a retirada de civis das cidades de Mariupol e Volnovakha foi interrompido.

Era prevista a saída de pelo menos 215 mil pessoas nos dois distritos, que estão cercados por militares da Rússia. Segundo o chefe da Administração Militar Regional de Donetsk, Pavlo Kirilenko, o comboio de evacuação com moradores nunca conseguiu deixar Mariupol.

"Os russos começaram a reagrupar suas forças e bombardeios pesados atingiram a cidade. É extremamente perigoso evacuar pessoas em tais condições", escreveu Kyrylenko nas redes sociais.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, rebateu, acusando as autoridades ucranianas de prejudicarem as operações humanitárias de retirada de civis de Mariupol, grande porto do sudeste da Ucrânia cercado pelas forças russas, durante uma conversa telefônica neste domingo (06.03) com o colega francês, Emmanuel Macron.

A informação também foi confirmada por um comunicado do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. "Em meio a cenas devastadoras de sofrimento humano em Mariupol, hoje foi interrompida a segunda tentativa de retirar quase 200 mil pessoas da cidade".

Autoridades da Ucrânia e Rússia trocam acusações. Em entrevista a uma TV ucraniana, um militar do Regimento Azov da Guarda Nacional alegou que a Rússia e separatistas continuam a bombardear áreas que deveriam ser seguras. O primeiro acordo de cessar-fogo para a retirada de civis foi encerrado ontem pelo mesmo motivo.

Um funcionário do governo separatista de Donetsk relatou à agência de notícias Interfax que a Ucrânia erra ao não prestar atenção ao período do cessar-fogo.

Segundo o chefe da Administração Militar Regional de Donetsk, Pavlo Kirilenko, o novo cessar-fogo teria duração de 11 horas, das 10h às 21h no horário local (ou das 5h às 16h em Brasília). Um comboio humanitário chegou a se deslocar para buscar pessoas em Mariupol.

Os corredores humanitários são áreas consideradas seguras, pelas quais civis poderão escapar. A expectativa do governo da Ucrânia era retirar 15 mil pessoas de Volnovakha e 200 mil pessoas em Mariupol, uma cidade de 450 mil habitantes.

Seriam disponibilizados ônibus municipais para o deslocamento de civis até a cidade de Zaporozhye. A retirada seria acompanhada pela Cruz Vermelha.

Ontem, o prefeito de Mariupol, Vadym Boichenko, afirmou que "não há escolha a não ser sair".

Sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes, a cidade de Mariupol é uma dos locais mais afetados pela ofensiva da Rússia. O prefeito diz que a cidade está submetida a um bloqueio por militares russos.

A importância de Mariupol para a Rússia

Mariupol é vista como uma cidade estratégica para Moscou. Situada a 55 km da fronteira russa e com 450 mil habitantes, ela é, no momento, a maior cidade sob controle de Kiev na região de Donbass, que inclui as áreas de Donetsk e Lugansk —parte delas já controladas por rebeldes pró-Rússia.

O controle de Mariupol permitiria uma continuidade territorial entre a península de Crimeia e as cidades separatistas Donetsk e Lugansk, na região de Donbass.

Presidente da Ucrânia pede que civis não deixem Mariupol

Ontem, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu a quem puder que "fique e lute" contra as forças da Rússia em Mariupol.

"Conseguimos obter um acordo para fornecer assistência às cidades da Ucrânia que estão na pior situação, Mariupol e Volnovakha, e salvar crianças, mulheres e idosos, além de fornecer medicamentos e alimentos para aqueles que ficam", afirmou Zelensky em discurso traduzido pelo site Sky News.

As pessoas dispostas a deixar esses lugares devem poder fazê-lo agora usando o corredor humanitário, mas as que puderem devem continuar lutando.
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em discurso

Após 1º acordo frustrado, Rússia retomou ataques contra Mariupol

Após Mariupol adiar a retirada de civis por "questões de segurança", o exército da Rússia retomou a ofensiva contra duas cidades cercadas do sudeste da Ucrânia, incluindo o porto estratégico de Mariupol, às 18h de Moscou (12h em Brasília).

Segundo o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, a decisão foi tomada "devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou prolongar o cessar-fogo".

A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedirem a retirada de civis durante o cessar-fogo anunciado ontem e dizem que pessoas comuns estão sendo usadas como escudos humanos contra as tropas russas na região. A Ucrânia desmente.

Autoridades acusam Rússia de aproveitar cessar-fogo para avançar com tropas

Ontem, a ministra para Territórios Ocupados, Iryna Vereshchuk, afirmou que a Rússia aproveitou o cessar-fogo de cinco horas para avançar em direção a Mariupol, cidade que está cercada por tropas russas.

"Nossos militares informam que na área da rota prevista [do corredor humanitário] as tropas russas estão usando o cessar-fogo e avançando", disse Vereshchuk em discurso. "Apelo mais uma vez à Rússia para que pare o avanço de suas tropas, se isso estiver acontecendo —estamos verificando essa informação —e para permitir a evacuação de pessoas".

Uma informação semelhante foi divulgada hoje pela agência de Inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido. Segundo relatório, a Rússia "provavelmente" usou o cessar-fogo em Mariupol para reajustar suas forças para uma nova ofensiva.

O documento também diz que a Rússia autorizou os corredores humanitários para desviar o foco e minimizar as condenações internacionais.

"Ao acusar a Ucrânia de quebrar o acordo, a Rússia provavelmente está procurando transferir a responsabilidade pelas vítimas civis atuais e futuras na cidade", disse o Ministério da Defesa do Reino Unido.

*Com informações da AFP