Reunião entre ministros de Ucrânia e Rússia termina sem acordo
O encontro entre os ministros das Relações Exteriores de Ucrânia e Rússia, realizado hoje na Turquia, terminou sem progresso. A reunião tratou da invasão russa ao território ucraniano, que hoje chega a seu 15º dia com registros de novos bombardeios, como na cidade portuária de Mariupol, que foi atacada durante a realização da reunião entre as autoridades, segundo os ucranianos.
Os ministros russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Dmytro Kuleba, tiveram um encontro de cerca de uma hora e meia, que tinha o objetivo de alcançar um cessar-fogo, segundo a diplomacia turca, organizadora da reunião. Segundo Kuleba, não houve progresso sobre esse ponto.
"Mencionamos um cessar-fogo, mas não houve avanços nesse sentido", disse Kuleba à imprensa após o encontro, acrescentando que se decidiu, com Lavrov, "continuar suas negociações neste formato".
O ministro ucraniano relatou que foi proposto um corredor em Mariupol e um cessar-fogo por pelo menos 24 horas para resolver os problemas humanitários dos civis. O lado russo não concordou, segundo o ucraniano. Kuleba disse que estava pronto para continuar as negociações.
Segundo ele, a Rússia reafirmou hoje que o cessar-fogo é possível se a Ucrânia cumprir as condições apresentadas pelo presidente russo, Vladimir Putin —que hoje sofreu pressão de França e Alemanha pelo cessar-fogo. O ministro disse que continuará na busca por soluções diplomáticas.
Lavrov, por sua vez, disse que a reunião serviu para confirmar que a Rússia "não tem alternativas" e ainda salientou que encontros como o desta quinta-feira "não podem ser usados para substituir as negociações principais" em Belarus, onde já ocorreram três rodadas de conversas com pouco avanço.
"Nós não atacamos a Ucrânia. Criou-se uma situação que era uma ameaça para Moscou, fizemos vários apelos, mas ninguém nos escutou", declarou o russo. Segundo Lavrov, a assim chamada "operação especial", como os russo classificam a invasão, está seguindo os planos, e o objetivo da Rússia é que a Ucrânia seja "neutra".
O ministro russo também não descartou a hipótese de um encontro entre Putin e o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, mas disse que antes é preciso fazer um "trabalho preparatório". "A Ucrânia falou que nos dará respostas concretas. Vamos esperar", declarou.
Após o encontro com Kuleba, Lavrov teve reuniões bilaterais com representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) e da Venezuela.
Primeiro encontro
Os ministros se encontram em Antália, no sudoeste da Turquia. Este foi o primeiro encontro do alto escalão dos governos de ambos os países envolvidos no conflito que começou em 24 de fevereiro, a partir da invasão russa no território ucraniano.
Antes do início da reunião, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, conversou de maneira separada com os dois chanceleres, que chegaram a Antália hoje e ficaram hospedados em hotéis diferentes.
Ele primeiro recebeu Kuleba, que o cumprimentou com um abraço, e depois Lavrov.
A Turquia é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e tem se oferecido para mediar o conflito. A Otan é uma aliança militar intercontinental liderada pelos Esatdos Unidos e composta por outros 30 países, a maioria, europeus. A possibilidade de entrada da Ucrânia no grupo é colocada pela Rússia como uma das razões para a invasão.
Para o ministério russo, a expansão a longo prazo da Otan no leste europeu, nas proximidades das fronteiras da Rússia, e a ampliação do armamento na região "provocaram um aumento sem precedentes da tensão militar, à qual fomos forçados a responder".
Mortes em maternidade
Hoje, autoridades ucranianas confirmaram que ao menos três pessoas morreram no ataque de forças russas ontem a uma maternidade e hospital infantil em Mariupol. Entre os mortos, está uma menina, segundo comunicado da Câmara Municipal da cidade.
"17 pessoas ficaram feridas —crianças, mulheres, médicos. Três morreram, incluindo uma criança, uma menina", diz o texto. "As tropas russas estão destruindo propositalmente e impiedosamente a população civil de Mariupol. O mundo inteiro deveria saber sobre o crime da Rússia contra a humanidade, contra a Ucrânia e contra o povo de Mariupol!" No toal, a Ucrânia contabiliza 71 mortes de crianças pelo país desde o início da invasão.
O hospital havia sido reformado recentemente e incluía uma unidade pediátrica, de acordo com os ucranianos. A fachada do edifício foi destruída por uma série de explosões que arrebentaram janelas, colocando em risco crianças e mulheres grávidas.
O Ministério da Defesa da Rússia não negou que o ataque tivesse sido realizado por aviões russos, mas alegou que "batalhões nacionalistas ucranianos" usavam o local para estabelecer posições de defesa, depois de remover pacientes e funcionários.
"Este hospital pediátrico foi retomado há tempos pelo batalhão de Azov [organização paramilitar ucraniana] e por outros radicais, e todas as mulheres que iam dar à luz, todas as enfermeiras e todo pessoal de apoio haviam sido expulsos", declarou Lavrov, após o encontro com Kuleba.
Hoje, o governo russo também informou que questionará seus militares sobre o ataque. "Necessariamente perguntaremos aos nossos militares, porque nós, assim como vocês, não temos informações claras sobre o que aconteceu e, a priori, os militares nos darão informações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em entrevista coletiva.
Mariupol sitiada
Nesta quinta-feira, houve novos registros de ataques, com ações contra Mariupol, Sumy e Kharkiv, segundo relatos de autoridades locais. Nesta manhã, evacuações de civis voltaram a ocorrer em cidades ucranianas.
Por volta das 8h, no horário local (3h, em Brasília), um novo ataque aéreo foi registrado em Mariupol, que é considerada uma cidade estratégica na invasão russa. Segundo autoridades da cidade, informações preliminares apontam que ao menos uma pessoa foi morta. Mais tarde, novos bombardeios aconteceram no município, alvo de ataques há dias.
Também nesta quinta, o comboio humanitário que deveria chegar em Mariupol para levar alimentos e remédios para os cerca de 400 mil habitantes que estão cercados pelas tropas russas "foi obrigado a dar marcha ré por causa dos combates em andamento", informou a vice-premiê da Ucrânia, Iryna Vereschuk.
A situação em Mariupol é bastante complicada por conta do desrespeito aos corredores humanitários para a população que não conseguiu fugir. Como os militares russos não conseguiram tomar a cidade, eles cercaram toda a área para provocar uma rendição. Há inúmeros relatos de que os moradores estão sem água corrente e energia há dias.
O prefeito de Mariupol, Vadym Boychenko, disse que, há seis dias, a Rússia promete um cessar-fogo, mas que ela tem quebrado a promessa. "Com suas granadas, estão destruindo nossas casas, tirando a vida de civis e destruindo as esperanças de meio milhão de moradores de Mariupol que esperam por ajuda humanitária".
Novos ataques
Em Kharkiv, segunda maior cidade do país, as autoridades apontam 29 bombardeios ao longo da noite, com diversos distritos atingidos, danificando inclusive edifícios residenciais.
As informações foram divulgadas nesta manhã pelo chefe da administração regional de Kharkiv, Oleg Synegubov.
Segundo o serviço de emergências da Ucrânia, um ataque aéreo atingiu, na madrugada desta quinta-feira, a cidade de Korosten, a cerca de 200 quilômetros a noroeste da capital, Kiev. As explosões mataram uma pessoa e feriram duas.
Evacuações
Segundo o governo ucraniano, desde as 9h, horário local (4h, em Brasília), rotas de evacuação encontram-se em operação pelo país.
São estas:
- Trostyanets - Poltava;
- Krasnopillya - Poltava;
- Sumy - Poltava;
- Mariupol - Zaporozhye;
- Volnovakha - Pokrovsk;
- Passas - Lozova;
- Bucha, Borodyanka, Irpin - Kiev.
Segundo representantes do governo ucraniano, cerca de 2.000 pessoas deixaram a cidade de Izium, na região de Kharkiv, em 44 ônibus nesta quinta.
Zelenskyy informou hoje, durante seu discurso, que 65 mil ucranianos conseguiram deixar cidades mais atingidas no país. O presidente da Ucrânia, no entanto, não detalhou quais são essas regiões.
Retorno de brasileiros
Aeronaves vindas da Ucrânia com brasileiros chegaram hoje ao Brasil. Um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) trouxe 42 brasileiros, 20 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano, além de animais de estimação. Também chegou ao Brasil uma outra aeronave com uma grávida e duas famílias com crianças de colo.
(Com AFP, Reuters, Ansa e DW)
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