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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


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Guerra chega ao 24º dia sem cessar-fogo e com cobrança a China e Suíça

Do UOL, em São Paulo*

19/03/2022 22h05Atualizada em 19/03/2022 23h47

O conflito entre Rússia e Ucrânia chega ao 24º dia sem que os dois países tenham fechado um novo acordo de cessar-fogo. Sob bombardeio de forças militares russas, os ucranianos cobraram hoje ação da China e da Suíça.

O presidente Volodymyr Zelensky voltou a pedir negociação direta com o russo Vladimir Putin, mas também instou a Suíça a tomar medidas contra os oligarcas da Rússia. Já seu conselheiro sênior, o jornalista Mykhailo Podolyak, disse hoje que a China pode ser "elemento importante" do sistema de segurança global caso decida apoiar a coalizão do Ocidente contra a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Em um vídeo postado em suas redes sociais Zelensky disse que reabertura de diálogo com Putin é a "única chance para a Rússia minimizar os danos causados com seus próprios erros" após a invasão. Os russos, porém, descartaram um encontro entre os chefes de Estado antes que o acordo de paz entre os dois países seja aprovado.

"Antes mesmo de mencionarmos uma reunião dos líderes, as delegações de negociadores devem preparar e concordar com o texto de um tratado", afirmou o assessor presidencial russo Vladimir Medinsky em entrevista à agência russa Tass. "O texto então deve ser rubricado pelos chanceleres e aprovado pelos governos. Depois disso, pode-se discutir a possibilidade de uma cúpula", disse.

Atualmente, os dois países realizam negociações remotamente, e sem a presença dos presidentes. Mas as conversas têm tido pouco progresso.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Neste sábado, a Rússia afirmou que usou mísseis hipersônicos na Ucrânia, um recurso que aparentemente ainda não havia sido utilizado neste conflito e que, segundo Putin, faz parte de um armamento "invencível".

Hoje houve relatos ainda de bombardeios russos no noroeste do país, próximo à fronteira com a Polônia, e no sudeste, com o bloqueio do acesso ao mar de Azov, à beira do Mar Negro. O Ministério da Defesa de Putin também disse ter usado um míssil hipersônico pela primeira vez hoje contra o país.

As Forças Armadas ucranianas, por sua vez, disseram, por meio de comunicados em aplicativos de mensagem, estar conseguindo conter o Exército russo em outros pontos. Só nesta manhã, a defesa do país afirmaram ter derrubado 12 alvos aéreos russos, incluindo dois aviões e três helicópteros.

Pressão sobre China e Suíça

O governo ucraniano aumentou a pressão para que a China se posicione contra a Rússia. "É uma chance de sentar à mesa como iguais", disse o Mykhailo Podolyak, assessor de Zelensky. Segundo ele, o comércio chinês com a Rússia foi de US$ 146,9 bilhões no ano passado.

O valor é menos de um décimo do total de US$ 1,6 trilhão da China em comércio com os Estados Unidos e a União Europeia. Por isso, segundo Podolyak, o Ocidente "deve explicar a Pequim como US$ 1,6 trilhão difere de US$ 150 bilhões".

Apesar de enfrentar a pressão global, a China até agora assumiu posição neutra na guerra entre Rússia e Ucrânia. Hoje, uma autoridade de alto escalão do governo chinês disse que as sanções impostas por nações ocidentais à Rússia com relação à Ucrânia estão cada vez mais "ultrajantes".

O vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Le Yucheng, também reconheceu o ponto de vista de Moscou sobre a Otan, dizendo que a aliança não deve se expandir ainda mais para o leste, encurralando uma potência nuclear como a Rússia.

"As sanções contra a Rússia estão ficando cada vez mais ultrajantes", disse Le no fórum de segurança em Pequim, acrescentando que os cidadãos russos estão sendo privados de ativos no exterior "sem motivo".

Já Zelensky cobrou neste sábado que a Suíça pressione oligarcas russos que, segundo ele, estão ajudando a travar uma guerra contra seu país a partir da segurança de "belas cidades suíças".

Em um discurso de áudio para milhares de pessoas que participaram de um protesto anti-guerra em Berna, Zelensky agradeceu à Suíça por seu apoio desde que a Rússia lançou sua invasão da Ucrânia, mas também deu um recado ao setor financeiro do país .

"Seus bancos estão onde está o dinheiro das pessoas que desencadearam esta guerra. Isso é doloroso. Isso também é uma luta contra o mal, que suas contas sejam congeladas. Isso também seria uma luta, e vocês podem fazer isso", disse ele, por meio de um tradutor.

'Ossos pelo chão', diz mulher que conseguiu deixar Mariupol

A cidade de Mariupol, estratégica para a construção de uma ponte que ligaria a Crimeia, anexada pela Rússia, à região do Donbass, onde estão duas autoproclamadas repúblicas separatistas, assistiu à intensificação dos ataques.

O Ministério da Defesa da Rússia alega que suas tropas, com apoio dos separatistas do leste, apertaram o cerco e já estão presentes no centro da cidade, de 400 mil habitantes. Autoridades da Ucrânia, por sua vez, afirmam que os bombardeios na região têm prejudicado a busca por sobreviventes na cidade.

Após vivenciar bombardeios a uma área residencial de Mariupol, a família de Svetlana Kuryacha chegou hoje com sua família a Zaporozhye, na Ucrânia.

Ela relatou ter ficado com seus parentes dentro do porão de sua casa por 14 dias. Em um desses dias, eles escutaram uma casa ser atingida e foram ajudar: "Idosos viviam nesta casa, não podíamos deixar que eles morressem queimados".

As pessoas que moravam do outro lado de minha rua morreram todas queimadas vivas. Agora, só restam seus ossos pelo chão
Svetlana Kuryacha

Svletana Kuryacha Pavlovna, mãe de Christina Cherkes, conseguiram sair de Mariupol e chegar em Zaporozhye - André Liohn/UOL - André Liohn/UOL
Svletana Kuryacha Pavlovna, mãe de Christina Cherkes, conseguiram sair de Mariupol e chegar em Zaporozhye
Imagem: André Liohn/UOL

Mariupol vem sendo bombardeada pelo Exército da Rússia desde os primeiros dias de invasão e apresentou dificuldades para que civis conseguissem deixar a cidade. Já Zaporozhye sofreu seus primeiros bombardeios nesta semana.

Cerca de 200 km separam essas cidades. A viagem de três horas agora pode levar até três dias para ser concluída. No caminho para chegar em Zaporozhye, muitos postos de controle montados pelo Exército russo impedem a livre passagem de moradores de Mariupol.

* Com informações da Reuters