Ataque russo matou sobrevivente do Holocausto, diz prefeito ucraniano
O prefeito de Lviv, Andriy Sadovyi, informou hoje que tropas russas em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, mataram na sexta-feira (18) um idoso de 96 anos que sobreviveu ao Holocausto. A notícia foi divulgada no Telegram e repercutida pela imprensa local.
"Boris Romanchenko, 96 anos, ex-prisioneiro dos campos de concentração nazistas, morreu em Kharkiv. Depois de sobreviver a Buchenwald, Peenemunde, Mittelbau-Dora e Bergen-Belsen, foi morto por um míssil russo lançado contra seu apartamento durante a 'operação de desnazificação'. Os novos fascistas continuam o trabalho de Hitler", escreveu Sadovyi ironizando o termo usado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para atacar a Ucrânia.
A Fundação Alemã Memorial de Buchenwald e Mittelbau também lamentou a morte em um comunicado. "Um bombardeio atingiu o prédio de vários andares em que ele morava. Seu apartamento foi incendiado", informou a Fundação, que expressou seu "horror" e "lamentou a perda de um amigo próximo".
Romanchenko era ex-prisioneiro de Buchenwald e vice-presidente do Comitê Internacional Buchenwald-Dora para a Ucrânia, acrescentou a organização, que especifica que foi informada da morte pela neta dele.
Ele foi deportado para a Alemanha em 1942, aos 16 anos, como trabalhador forçado. Foi depois de uma tentativa de fuga que ele foi enviado para o campo de Buchenwald no centro da Alemanha em 1943 e então internado em Peenemünde, Mittelbau-Dora e Bergen-Belsen, segundo a Fundação.
Antes de retornar à Ucrânia, ele teve que servir vários anos no exército soviético estacionado na Alemanha Oriental, de acordo com a associação de caridade Maximilian Kolbe, envolvida em apoio material e psicológico a ex-prisioneiros de campos nazistas.
A associação estava em contato há vários anos com Romantschenko, que estava doente e mal podia sair do apartamento onde morava sozinho, no oitavo andar de um prédio em Kharkiv, explicou à AFP uma colaboradora.
"A terrível morte de Boris Romantschenko mostra o quanto a guerra na Ucrânia é uma ameaça para os sobreviventes dos campos de concentração", ressaltou a Fundação Memorial de Buchenwald e Mittelbau-Dora, que está tentando enviar remédios e alimentos aos ucranianos sitiados.
Ela estima que cerca de 42 mil sobreviventes da perseguição nazista vivem atualmente na Ucrânia.
Presente numa cerimônia de aniversário da libertação do campo de Buchenwald em 2012, Boris Romantschenko tinha lido na ocasião, recordou a Fundação, o juramento de Buchenwald: "A construção de um novo mundo de paz e liberdade é o nosso ideal".
Assediada pelas forças russas desde o início de sua ofensiva, a cidade de Kharkiv tem sido alvo de vários ataques mortais que atingiram edifícios civis.
O presidente russo Vladimir Putin continua a justificar a invasão da Ucrânia pela necessidade de "desnazificar" este país, um argumento de propaganda e uma referência à Segunda Guerra Mundial denunciada em particular pelos historiadores.
O chefe de gabinete do presidente ucraniano, Andriy Yermak, falou em uma mensagem no Telegram sobre a morte de Romantschenko, "um prisioneiro de 96 anos dos campos de concentração nazistas que sobreviveu a Buchenwald. Míssil russo em seu próprio apartamento em Kharkiv. Isso é o que eles chamam de 'operação desnazificação'".
Negociações retomadas
Os negociadores russos e ucranianos realizaram uma chamada de vídeo de 90 minutos hoje e os grupos de trabalho continuarão a se reunir ao longo do dia, disse um membro da delegação ucraniana. "Hoje estamos trabalhando o dia inteiro", disse o delegado e legislador ucraniano David Arakhamia, segundo a mídia ucraniana. As conversas acontecem após a cidade portuária de Mariupol, que está sitiada, ter recusado um ultimato da Rússia para rendição.
Hoje, a guerra entrou no 26º dia com a capital da Ucrânia anunciando que terá mais um toque de recolher de 35 horas, como foi feito na semana passada. O anúncio foi feito hoje pela prefeitura de Kiev após a cidade ter sido alvo de novos ataques. Para a inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, o cerco à capital deve ser a prioridade das forças russas. O governo russo diz que as negociações de paz ainda não tiveram um progresso significativo.
* Com Ansa e AFP
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