Não sobrou nada de Mariupol após invasão russa, só ruínas, diz Ucrânia
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou hoje (22) que "não sobrou nada" da cidade portuária de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, após semanas de invasão russa. Este é o 27º de conflito entre os dois países e o local, à beira do mar de Azov, é um dos pontos mais disputados.
Segundo o Zelensky, pelo menos 300 mil das 400 mil moradores pré-invasão já deixaram a cidade e as 100 mil restantes estão em processo de partir, mas foram impedidas pelos russos. Também nesta tarde, no entanto, a ministra de Transportes e Comunicação do país, Iryna Vereshchuk, acusou a Rússia de impedir a saída de refugiados no corredor humanitário de Mariupol.
Não restou nada [de Maripuol], apenas ruínas.
Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano
O presidente falou ao Parlamento da Itália e pediu para que os italianos ajudem a parar a guerra "feita por uma só pessoa", em referência ao líder russo, Vladimir Putin. Zelensky também conversou com o papa Francisco, a quem pediu apoio na mediação do conflito.
Segundo Vereshchuk, há 100 mil moradores tentando deixar a cidade, mas não conseguem.
"Comida e medicamentos estão quase esgotados [em Maripuol], mas a Rússia se nega a abrir corredores humanitários para evacuar os civis", completou Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, em seu Twitter.
A Ucrânia se recusou ontem a atender uma exigência russa para a rendição de Mariupol, que é considerada uma posição estratégica no conflito. A cidade está cercada pelos russos, que negam impedir a saída de civis da região. Nesta terça, houve relatos de bombas lançadas no centro de Mariupol.
O cerco russo à capital Kiev segue intenso. Desde as 20h de ontem, horário local (15h, em Brasília), a cidade está sob um toque de recolher de 35 horas. Hoje, por ao menos oito vezes —até as 10h15 (horário de Brasília)—, as sirenes de alerta para ida a abrigos foram acionadas na cidade.
Também hoje, o governo russo avaliou que as negociações em curso com a Ucrânia deveriam ser mais "substanciais". "Está em curso um certo processo [de negociações], mas gostaríamos que fosse mais enérgico, mais substancial", disse o porta-voz russo, Dmitri Peskov.
A ONU (Organização das Nações Unidas) diz que ao menos 3,5 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia em razão do conflito.
Rússia está levando crianças à força, acusa Ucrânia
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, as Forças Armadas da Rússia estão levando pelo menos 2.389 crianças ucranianas das regiões de Donetsk e Luhanks, no sudeste do país, para a Rússia, sem autorização.
"As forças russas não estão apenas matando nossas crianças, também estão as levando para a Rússia à força", declarou a Procuradora-Geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, em seu Twitter. "Crime de guerra", completou, marcando uma hashtag.
A informação não foi confirmada pelo governo russo.
Rússia tem munição e alimentos para 3 dias, diz Ucrânia
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse hoje que as forças russas estão ficando sem suprimentos para a guerra, que entra em seu 27º dia. "De acordo com as informações disponíveis, as forças de ocupação russas que operam na Ucrânia têm estoques de munição e alimentos para não mais de três dias", disse, em comunicado, o ministério, que apontou "situação semelhante com combustível".
O governo russo, por sua vez, disse que a Ucrânia "usa seus próprios cidadãos como 'escudo humano'" e fez uma comparação com o nazismo. "As Forças Armadas da Ucrânia colocam armas pesadas nas áreas residenciais de Mariupol [cidade portuária na Ucrânia]. Os nazistas fizeram o mesmo em Berlim [capital da Alemanha] sitiada em 1945", disse o Ministério de Relações Exteriores da Rússia. Mariupol, que é o principal foco de tensão nos últimos dias, terá corredores de evacuação a partir de áreas próximas à cidade.
Defesa ucraniana
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que ao menos 300 militares russos "se recusaram a cumprir a ordem de realizar hostilidades" na região de Okhtyrka, cerca de 350 quilômetros a leste de Kiev, perto da fronteira com a Rússia.
A Ucrânia também disse que em Donetsk e em Lugansk, áreas separatistas no leste do país, "o inimigo continua tentando avançar e se firmar, mas sem sucesso". O Ministério da Defesa da Rússia, porém, disse que tem avançado nessas regiões, e que tem atingido instalações militares ucranianas pelo país.
Em Sievierodonetsk, na região de Lugansk, "o exército russo destruiu armazéns atacadistas com alimentos", segundo Serhiy Haidai, chefe da administração militar local. "Eles acertaram o alvo porque sabem exatamente onde. Eles conseguiram infligir perdas ao comércio local, mas os moradores da cidade terão comida —nosso abastecimento foi ajustado".
Hoje, em Druzhkivka, na região de Donetsk, a polícia local disse que por volta das 6h30, horário local (1h30, em Brasília), "as tropas russas lançaram um ataque com mísseis". "Existem vítimas", disse o órgão, sem dar detalhes. "O inimigo disparou contra civis de aeronaves, mísseis e artilharia pesada."
Recado com ameaça
Em comunicado, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, com um tom de ameaça, fez um "apelo aos residentes dos distritos russos temporariamente ocupados das regiões de Donetsk e Lugansk". "Nos últimos dias, o exército ucraniano tem capturado cada vez mais pessoas que foram mobilizadas à força pelos ocupantes russos e jogadas na batalha como bucha de canhão".
Ainda os consideramos cidadãos da Ucrânia. Nós consideramos você como nosso. Se você não cometeu um crime, você está seguro. Vamos lidar com algumas diferenças mais tarde. Podemos nos dar ao luxo de ser diferentes porque somos uma nação livre. Mas nós somos um. Tente evitar a mobilização violenta de qualquer forma. Isso salvará a tua vida
Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia
Para os ucranianos que cometeram crimes no conflito, Reznikov dá duas alternativas: fugir ou desistir. "O verdadeiro arrependimento será levado em consideração", disse, dando um exemplo: "se você capturar um oficial russo, pode contar com uma pena reduzida."
"Após as atrocidades da Rússia em Mariupol, Kharkiv, Sumy, Chernihiv, nossos soldados estão prontos para queimar todos os intervencionistas e seus auxiliares com ferro em brasa. Não estará entre eles. Não cometa erros", completou.
Cidade pede que pessoas saiam
Volodymyr Borysenko, prefeito de Boryspil, cidade a 40 quilômetros de Kiev, pediu para que os cidadãos deixam a região.
"Não há necessidade urgente de estar na cidade agora. A luta já está acontecendo por aí", disse, em vídeo, que publicou nas redes sociais, informando que a cidade providenciará transporte para quem não tiver veículo próprio. "Quanto menos civis na cidade, mais fácil é para as Forças Armadas operarem", justificou.
Porto atacado
A infraestrutura portuária de Mykolaiv, a cerca de 490 quilômetros a sudeste de Kiev, foi atingida por um ataque, segundo a Administração de Portos Marítimos da Ucrânia.
"A infraestrutura portuária sofreu danos significativos. Segundo informações preliminares, não há vítimas", disse a instituição no Facebook.
*Com Reuters, AFP, Ansa e The Guardian
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