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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Otan vê 'brutalidade insuportável' em Bucha e avalia enviar armas à Ucrânia

Do UOL*, em São Paulo

05/04/2022 05h15Atualizada em 05/04/2022 13h38

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) considera que os corpos em Bucha, vistos após a retirada russa da cidade ucraniana, mostram "uma brutalidade insuportável que a Europa não testemunha há muitas décadas". A declaração foi feita hoje pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

Amanhã (6), ministros das Relações Exteriores dos países que integram a aliança militar irão se reunir para tratar da guerra da Rússia na Ucrânia, que chegou ao seu 41º dia. Segundo Stoltenberg, os ministros discutirão o que mais será feito. De acordo com ele, os membros da Otan "estão determinados a fornecer mais apoio à Ucrânia". "Incluindo armas antitanque, sistemas de defesa aérea e outros equipamentos. Os aliados também aumentaram a assistência humanitária e a ajuda financeira", disse o secretário-geral da aliança.

Hoje, em pronunciamento ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, comparou a ação dos militares russos a grupos terroristas, equiparando até mesmo ao Estado Islâmico.

Mais cedo, em entrevista a jornalistas ucranianos, o presidente disse que avalia como um "desafio" as negociações com a Rússia após o massacre em Bucha. Para ele, "cada tragédia, cada Bucha" vai pesar nas negociações. "Mas precisamos encontrar oportunidades para tais etapas". Apesar de ver um cenário difícil para as conversas, Zelensky disse que elas devem continuar.

Segundo autoridades ucranianas, corpos de civis torturados também foram encontrados em Konotop, a cerca de 260 quilômetros a leste de Kiev, após a retirada russa. A Rússia, porém, nega que tenha cometido os assassinatos e, segundo seu Ministério da Defesa, a Ucrânia faz "filmagem encenada de civis supostamente mortos pelas ações violentas dos russos".

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O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em pronunciamento a jornalistas em Bruxelas, na Bélgica, nesta terça
Imagem: François Walschaerts/AFP

"Fase crucial da guerra"

O secretário-geral da Otan apontou, em sua declaração de hoje, que "as forças ucranianas estão resistindo ferozmente, retomando território dos invasores russos, e forçando a Rússia a mudar seus planos de guerra". "Mas Moscou não está desistindo de suas ambições na Ucrânia", disse.

Segundo Stoltenberg, a aliança militar espera que, nas próximas semanas, haja "mais um impulso russo no leste e no sul da Ucrânia". "Portanto, esta é uma fase crucial da guerra."

Sobre Bucha, o secretário-geral disse que "alvejar e assassinar civis é um crime de guerra" e que "todos os responsáveis devem ser levados à Justiça".

Nas conversas sobre a guerra da Rússia, Stoltenberg disse que a Otan se juntará a parceiros da Ásia-Pacífico, citando Austrália, Japão, Nova Zelândia e a Coreia do Sul. "Porque esta crise tem implicações globais, que nos preocupa a todos." O secretário-geral citou que a aliança observa que a "China não está disposta a condenar a agressão da Rússia". "E juntou-se a Moscou para questionar o direito das nações de escolher seu próprio caminho."

Em um momento em que os poderes autoritários estão empurrando para trás a ordem internacional baseada em regras, é ainda mais importante que as democracias permaneçam juntas e protejam nossos valores. Portanto, espero que concordemos em aprofundar a cooperação da Otan com nossos parceiros da Ásia-Pacífico
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan

Para Stoltenberg, "trabalhar mais de perto nos tornará mais seguros e protegidos".

Zelensky na ONU

A intervenção por videoconferência do presidente ucraniano no Conselho de Segurança da ONU foi a primeira desde a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Segundo Zelensky, os militares russos mataram em Bucha qualquer um que serviu o estado ucraniano, além de assassinar famílias inteiras e queimar os corpos. O presidente também denunciou a execução de pessoas com tiros na nuca, depois de serem torturados. Segundo ele, civis foram esmagados por tanques, pessoas tiveram línguas cortadas e mulheres foram estupradas diante de seus filhos.

Para Zelensky, a ação é equivalente a "qualquer terrorista do Estado Islâmico, agora por parte de um estado membro da ONU". Segundo ele, Moscou mantém uma política consistente de destruir diversidades e deixar país em ruinas, com muitas valas comuns.

O presidente ucraniano disse que os responsáveis pelos crimes devem ser responsabilizados, mas insiste que Bucha é apenas um dos exemplos.

O mundo ainda vai conhecer a real dimensão da crise."
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia

Para o presidente, seu país está sendo alvo dos "piores crimes cometidos desde a Segunda Guerra Mundial", com cidades transformadas em cinzas de forma deliberada.

Ele deverá receber, nesta semana, a visita, em Kiev, de Ursula von der Leyen, líder da UE (União Europeia).

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Coluna de fumaça é vista após tanque com ácido nítrico ser atacado em Rubizhne, na região de Lugansk, leste da Ucrânia
Imagem: Reprodução/Facebook/sergey.gaidai.loga

Tanque atingido

Um tanque com ácido nítrico —cujo vapor é tóxico— foi atacado hoje em Rubizhne, cidade da região de Lugansk, área separatista da Ucrânia. Segundo Serhii Gaidai, governador regional de Lugansk, o ataque foi cometido por forças russas. "Não saia do esconderijo", disse.

"Se você estiver dentro de casa, feche as portas e janelas. Efeito em humanos: o ácido nítrico é perigoso se inalado, ingerido e em contato com a pele e mucosas", completou Gaidai. Separatistas, porém, atribuem o ataque a nacionalistas ucranianos. O Ministério da Defesa da Rússia, em comunicado, endossou a versão os separatistas e negou que a Rússia tenha feito o ataque. Não foi possível confirmar as afirmações com fontes independentes até o momento.

Gaidai, ao dar um relato inicial sobre o ataque nas redes sociais, fez um alerta, por meio das redes sociais, à população da região sobre os primeiros socorros em caso de contato com o ácido nítrico. No caso de os olhos serem atingidos, a sugestão do governador é que eles sejam lavados "em água corrente por 10 a 30 minutos".

"Em caso de contato com a pele, lave a área afetada com água, adicionando bicarbonato de sódio, sabão", disse. "Ao engolir ácido nítrico, é indicada a lavagem gástrica com água em abundância."

Para David Arakhamia, chefe da delegação ucraniana nas negociações com a Rússia, as consequências do ataque ao tanque com ácido nítico "são semelhantes ao uso de armas químicas ou biológicas". "O que mais uma vez confirma as reais intenções do lado inimigo: destruir não apenas as tropas e infraestrutura, mas a população civil de nosso país que se recusa a fazer parte do chamado 'mundo russo'."

Ainda não foram repassadas informações sobre as circunstâncias do ataque.

A Ucrânia avalia que a Rússia "está reagrupando tropas e concentrando seus esforços na preparação de uma operação ofensiva no leste de nosso país", região separatista. Para o Ministério da Defesa da Ucrânia, "o inimigo concentrou seus esforços nos preparativos para a retomada da ofensiva, bem como na tentativa de cercar as forças aliadas", apontando que os russos reabastecem os suprimentos de comida, combustível e munição.

O Ministério da Defesa da Rússia disse que, a partir de um de "um pequeno navio de mísseis da Frota do Mar Negro", foram lançados "sete mísseis de cruzeiro em alvos terrestres designados no território da Ucrânia". Segundo o comunicado, o ataque foi feito com "armas guiadas de precisão na infraestrutura militar da Ucrânia". Não foi possível checar as informações com fontes independentes.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Bucha sob toque de recolher

Até as 6h, horário local (0h, em Brasília), de quarta (7), a cidade de Bucha estará sob toque de recolher, segundo a administração militar regional de Kiev. O objetivo da medida é permitir o trabalho de "desminagem e limpeza dos territórios por nossas forças de defesa", disse Oleksandr Pavliuk, chefe militar da região.

"Ainda ontem, 574 artefatos explosivos foram encontrados na região", disse Pavliuk. "Portanto, você deve ficar em casa e não complicar a tarefa dos especialistas."

bucha - Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA - Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA
Membro da equipe de emergências da Ucrânia carrega armamento militar russo deixado em Bucha
Imagem: Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA

Corpos na região de Sumy

Em seu relatório matinal, o Ministério da Defesa da Rússia mantém a versão de que houve uma farsa em Bucha com "filmagem encenada de civis supostamente mortos". O objetivo dos ucranianos, na avaliação do governo russo, é que as imagens sejam distribuídas pela "mídia ocidental". "Eventos semelhantes são agora organizados pelos serviços especiais ucranianos [na região de] Sumy, Konotop [260 quilômetros a leste de Kiev] e outras cidades."

Em Konotop, "ao menos três ucranianos civis torturados já foram encontrados nos locais de antigos campos inimigos", segundo Dmytro Zhyvytsky, chefe da administração militar regional.

krama - Procuradoria-Regional de Donetsk - Procuradoria-Regional de Donetsk
Prédio de escola ficou parcialmente destruído após ser atingido por mísseis em Kramatorsk, no leste da Ucrânia
Imagem: Procuradoria-Regional de Donetsk

Escola destruída

Vários bombardeios foram registrados na madrugada de hoje em Kramatorsk, a cerca de 690 quilômetros a leste de Kiev, que permanece sob controle da Ucrânia apesar da ameaça de uma grande ofensiva das tropas russas.

Segundo informações da Procuradoria-Regional de Donetsk, um ataque com mísseis atingiu o edifício de uma escola, que ficou parcialmente destruída. Os ataques, provavelmente com mísseis ou foguetes de longo alcance, destruíram uma escola no centro da cidade, ao lado da sede da polícia.

Uma cratera com mais de 10 metros de diâmetro era visível no que era o pátio da escola. Os moradores do bairro afirmaram que o ataque não provocou vítimas porque a escola estava vazia. As autoridades locais não divulgaram um balanço oficial até o momento.

Kramatorsk, capital regional de fato desde outubro de 2014 do território que ainda está sob controle de Kiev no leste do país, fica no centro da área e estaria praticamente cercada pelos russos.

(Com AFP e Reuters)