"Não foi uma visita amigável", diz chanceler da Áustria após ver Putin
O encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler austríaco, Karl Nehammer, foi "difícil e aberto", mas não "amigável", disse o austríaco. Ele é o primeiro líder europeu a se encontrar com Putin, em meio à guerra promovida pela Rússia em território ucraniano, um conflito que já chegou ao 47º dia. As informações são do jornal austríaco Kronen Zeitung.
O início das conversas foi confirmado pelo governo russo e pela Áustria. Segundo a publicação, o encontro acabou no começo da noite (por volta das 11h, no horário de Brasília) depois de 75 minutos de conversa. Por meio de nota, Nehammer deixou claro que o encontro foi objetivo, porém sem qualquer intenção de aliança ou amizade.
"Os crimes de guerra foram tratados [por Nehammer] sem termos específicos visto que é preciso que haja uma investigação internacional sobre eles", declarou o governo austríaco por meio de nota enviada ao Kronen Zeitung. Segundo ele, as sanções econômicas contra a Rússia serão mantidas à medida que "pessoas na Ucrânia continuem a morrer".
Segundo a agência russa Tass, o encontro aconteceu na residência do chefe do Estado russo, em Novo Ogaryovo, perto de Moscou. De acordo com o Kronen Zeitung, não houve aperto de mãos entre Putin e Nehammer no início do encontro nem haverá foto oficial dos dois. O temor do austríaco seria um possível uso político da imagem.
O chanceler esteve na Ucrânia no sábado (9). Nehammer organizou a viagem durante a sua estadia na Ucrânia, pois quer "fazer todo o possível para que possam ter progresso rumo à paz", ainda que, como admite um porta-voz do chanceler, as possibilidades sejam escassas. "[A ida à Rússia] acontece depois de ter informado Berlim, Bruxelas e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky", para encorajar o diálogo, disse o porta-voz do chanceler.
Segundo Peskov, o principal tópico das conversas será em torno da Ucrânia, mas questões relacionadas ao fornecimento de gás também podem ser abordadas. "A discussão deles também não pode ser descartada, porque esse tópico é muito, muito relevante para o lado austríaco", disse o porta-voz do governo russo.
A expectativa é que o chanceler austríaco faça um pronunciamento em vídeo, a partir da Embaixada da Áustria em Moscou.
Antes da reunião, havia a indicação de que o chanceler austríaco pretendia mencionar a Putin os "crimes de guerra" em Bucha, uma cidade próxima a Kiev que se tornou um símbolo de atrocidades. Hoje, uma equipe de agentes da polícia científica da França chegou à Ucrânia para ajudar na análise crimes de guerra cometidos em torno de Kiev, capital ucraniana. Após a retirada russa, no final de março, imagens de corpos pelas ruas de Bucha, cidade próxima a Kiev, circularam por todo o mundo. A Ucrânia afirma que houve um massacre. A Rússia tem negado que tenha matado civis em Bucha.
A Áustria é membro da UE (União Europeia), mas não da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Ela denunciou a invasão da Ucrânia e mostrou sua solidariedade com Kiev. O governo austríaco expulsou quatro diplomatas russos nos últimos dias.
"Ainda maiores"
Enquanto isso, a Ucrânia espera por uma intensificação da ofensiva russa. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em vídeo na noite de ontem (10), avaliou que as forças russas "vão se mover para operações ainda maiores no leste", que foi alvo de novos ataques hoje.
"Eles podem usar ainda mais mísseis contra nós, ainda mais bombas aéreas. Mas estamos nos preparando para suas ações. Nós responderemos", disse. Em fala ao Parlamento da Coreia do Sul hoje, Zelensky fez, mais uma vez, um pedido por armas para a Ucrânia e disse que isso era "questão de sobrevivência".
Nesta segunda, mais uma estação de trem foi atacada no leste do país. O relato é do chefe da empresa ferroviária da Ucrânia, Oleksandr Kamyshin, que não informou o local da ocorrência. "Eles continuam a atacar a infraestrutura ferroviária. Não há vítimas entre cidadãos ou trabalhadores ferroviários. Cinco locomotivas, trilhos e uma rede de contato foram danificados. Mas isso é ferro, vamos restaurá-lo", disse. Na última sexta (8), um ataque à estação em Kramatorsk matou ao menos 57 pessoas.
Em relatório, o Ministério da Defesa da Ucrânia disse, hoje, que acreditava ser "provável que o inimigo, a fim de interromper o fornecimento de mercadorias aos locais de hostilidade, continue a atacar as instalações de infraestrutura de transporte na Ucrânia para destruí-las ou desativá-las".
Em Lugansk, no leste do país e que possui áreas separatistas, o governador Serhii Gaidai disse que "o inimigo disparou contra cada cidade da região". Em Mykolaiv, no sudeste ucraniano, a administração militar da região relatou um ataque de mísseis contra hangares. Eles estavam vazios e não há registro de feridos até o momento.
Explosivos pelas ruas
O governo de Kharkiv, no leste da Ucrânia, tem alertado a população a respeito de explosivos "espalhados nos pátios das casas e ruas". "Não pegue essas munições em suas mãos, não se aproxime delas, não tente descartá-las você mesmo se você vir um dispositivo explosivo", disse hoje (11) o governador da região de Kharkiv, Oleg Sinegubov.
Kharkiv é a segunda maior cidade da Ucrânia e tem sido constantemente atacada desde o início da invasão russa, que hoje chegou ao 47º dia. Ontem (10), duas pessoas morreram. Um comboio militar, de cerca de 13 quilômetros, foi visto na região na última sexta-feira (8).
Segundo Sinegubov, os explosivos são minas de lapso temporal e teriam sido espalhados pelas forças russas. A informação não pôde ser verificada com fontes independentes. "Elas não funcionam imediatamente, apenas quando são afetadas por uma pessoa ou outro fator de movimento. Portanto, é ainda mais perigoso."
A polícia local alertou que muitas dessas minas não explodem, e que, junto com o serviço de emergências, tem feito a varredura da região em busca dos explosivos. De acordo com a imprensa ucraniana, algumas áreas de Kharkiv precisaram ser isoladas. Explosões foram ouvidas nesta segunda.
Retomada da ofensiva
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que, "provavelmente, nos próximos dias, os ocupantes tentarão retomar a ofensiva". "Além disso, o inimigo continua a treinar e enviar pessoal, armas e equipamentos para participar das hostilidades na Ucrânia."
Os ucranianos também dizem acreditar que as Forças Armadas da Rússia "realizem ações provocativas" na Moldávia "para acusar a Ucrânia de agressão contra um Estado vizinho".
O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, relata ataques a uma série de localidades no leste da Ucrânia entre ontem e hoje, atingindo equipamentos e posições militares. O relatório aponta ações nas regiões de Dnipropetrovsk, Mykolaiv, Donetsk, Kherson, entre outras.
Negociações
Para o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, "é extremamente difícil até mesmo pensar em sentar à mesa de negociações com pessoas que cometem ou buscam justificativa para todas essas atrocidades e crimes de guerra que causaram danos tão monstruosos à Ucrânia".
Kuleba refere-se ao ataque a estação em Kramatorsk e ao massacre em Bucha, onde corpos foram encontrados pelas ruas após a retirada russa da cidade, que fica perto de Kiev, capital do país.
Apesar de ver a dificuldade para negociar nesse cenário, ele disse que, se as conversas ajudarem a evitar ataques como esses, é preciso tê-las. "Se eu tiver a oportunidade de salvar uma vida humana, uma vila, uma cidade da destruição, aproveitarei essa oportunidade", disse em entrevista ao canal americano NBC News.
Já o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse não ver razão para que as negociações não continuem. Ele, porém, comentou que "o lado ucraniano" sempre muda, "às vezes rejeitando o que ele próprio propôs há alguns dias, por exemplo". "Mas somos pessoas pacientes e persistentes."
Ponte a 120 km de Kiev
Uma ponte temporária foi aberta hoje em Romanivka, a cerca de 120 quilômetros de Kiev. Ela foi feita em cinco dias e tem 245 metros de extensão, com nove metros de largura.
Segundo Kirill Timoshenko, vice-chefe do gabinete da Presidência da Ucrânia, "a partir de agora", será possível entregar "mais rapidamente ajuda humanitária e materiais de construção às cidades libertadas da ocupação russa".
Timoshenko disse que a estrutura poderá ajudar a ligar as cidades de Irpin, Bucha, Gostomel e Vorzel à capital, Kiev.
EUA e Índia
O conflito na Ucrânia estará entre os temas que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, vão tratar durante um encontro virtual hoje. Biden falará sobre "as consequências da brutal guerra da Rússia contra a Ucrânia e sobre como mitigar seu impacto desestabilizador no fornecimento mundial de alimentos e o mercado de matéria-primas, disse a porta-voz do presidente americano, Jen Psaki.
Os dois líderes não haviam chegado a uma condenação comum à invasão russa durante o último encontro, no início de março, como parte de uma reunião da chamada aliança "Quad", que reúne Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão. A Índia se negou, até agora, a se juntar aos países que condenam Moscou nas Nações Unidas, apesar de dizer que está "profundamente perturbada" pelos "assassinatos" de civis na cidade ucraniana de Bucha.
Nova Déli disse que Moscou é um "pilar essencial" da política externa indiana devido à "parceria estratégica" que mantêm em matéria de segurança. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que se reuniu com Narendra Modi em Nova Déli no início de abril, elogiou a Índia pela sua abordagem equilibrada do conflito. Pouco antes, Biden, em uma posição totalmente oposta, havia considerado a Índia "vacilante" em sua resposta à invasão da Ucrânia.
(Com AFP, Kronen Zeitung e Tass)
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